Prefeito de Terenos recebeu mais de meio milhão de propina em 3 anos
O maior suborno para o chefe do Executivo terenense, no valor de R$ 255 mil, veio da obra na Escola Jamic

Até onde as investigações do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) chegaram sobre a corrupção instalada na Prefeitura de Terenos pelo próprio prefeito, Henrique Wancura Budke, ficou claro que, entre 2021 e o ano passado, ele recebeu, no mínimo, mais de meio milhão de reais em propina. Foram R$ 646 mil no período, conforme indicaram relatórios dos grupos do Ministério Público de Mato Grosso do Sul.
RESUMO
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O prefeito de Terenos, Henrique Wancura Budke, é investigado por receber mais de R$ 646 mil em propinas entre 2021 e 2023, segundo relatórios do Ministério Público de Mato Grosso do Sul. As investigações revelam esquemas de fraudes em licitações envolvendo obras em escolas, unidades de saúde e infraestrutura municipal. Durante o período investigado, o patrimônio do prefeito apresentou crescimento incompatível com seus rendimentos. De 2020 a 2024, seus bens declarados aumentaram 318%, saltando de R$ 776 mil para R$ 2,4 milhões, enquanto seus rendimentos como prefeito somaram apenas R$ 541,4 mil no mesmo período.
Num dos casos da Operação Spotless, já detalhados pelo Campo Grande News, foram R$ 60 mil por garantir que a Angico Construtora e Prestadora de Serviços Ltda., de propriedade de Sandro José Bortoloto, realizasse a reforma e a ampliação da Escola Municipal Rosa Idalina Braga Barboza, que fechou contrato de R$ 1.123.417,39 com o município em 2021.
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O maior suborno recebido pelo chefe do Executivo terenense foi de R$ 255 mil, referente à construção de um bloco da Escola Jamic (Tomada de Preços 006/2022). Quem ganhou o certame foi a mesma empresa, Angico, pelo valor de R$ 2.788.662,40. Após aditamentos, o custo final somou R$ 3.364.085,05.
“Na véspera do julgamento da licitação, 17/11/2022, o prefeito teria encaminhado ao empresário Sandro um arquivo contendo uma lista das empresas que retiraram o edital da Tomada de Preços 006/2022 perante a prefeitura municipal, com os respectivos contatos, contemplando o referido empresário com informações privilegiadas do certame”, cita trecho da decisão do desembargador Jairo Roberto de Quadros, do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), que determinou as prisões de ontem.
A licitação de outra escola também foi direcionada em 2022: a da Escola Isabel de Campos Widal Rodrigues, que passaria por reforma no valor de R$ 315.879,12. O prefeito Henrique, nesse caso, recebeu R$ 11 mil por entregar a obra nas mãos da empresa Base Construtora e Logística, de Genilton da Silva Moreira. O empresário chegou a fazer medições na unidade escolar meses antes do certame ser aberto.
Reformas e construção de unidades de saúde renderam ao menos R$ 30 mil ao prefeito, mas ele recebia os valores por meio de Orlei Figueiredo Lopes. “Segundo a investigação, Henrique teria recebido, no ano de 2024, o valor de R$ 30.000,00 durante a execução das tomadas de preços em análise, o que teria feito por meio de Orlei Figueiredo Lopes, que estaria sendo utilizado como ‘testa de ferro’ do prefeito.”
Nesse caso, as licitações fraudadas foram de reforma das Unidades de Saúde da Família Santa Mônica, Patagônia, Vila Ferreira, Jamic Polo e Vila Jamil, com valor total de R$ 1.288.012,07. As empresas vencedoras foram Genilton da Silva Moreira – ME, Bonanza, HG Empreiteira & Negócios Ltda. e D’Aço Construção e Logística Ltda.
Ainda foi identificado na investigação o recebimento de R$ 10 mil pelo prefeito, em certame de reforma de pontes de madeira. “E, por ocasião do julgamento da Carta Convite 005/2022, sagrou-se vitoriosa a empresa Genilton da Silva Moreira - ME quanto aos lotes 01 e 04, que teria gerado propina de R$ 10.000,00 em favor de Henrique.”
Mais - Outros R$ 280 mil foram recebidos em subornos de licitações não identificadas especificamente, sendo que o prefeito cobrava o pagamento de valores dos empresários. “Uma conversa foi identificada em 19/08/2022, um dia após a suposta cobrança do prefeito, em que Cleberson, para manter o esquema, teria aventado a possibilidade de fazer um empréstimo junto a outro integrante da organização criminosa, Tiago Lopes, no valor de R$ 75.000,00, a fim de quitar a propina de Henrique.”
Numa dessas licitações não identificadas, o prefeito teria recebido R$ 100 mil por meio da empresa Conect Construções, de titularidade de Eduardo Schoier. A investigação aponta a data de 11 de junho do ano passado como a da transação. Eduardo seria a pessoa utilizada pelo prefeito para receber propina em seu nome, atuando como “testa de ferro”.
Evolução de bens - Em apenas quatro anos, de 2020 a 2024, a evolução patrimonial de Budke saltou 318%. “Durante as eleições de 2020, Henrique declarou ao Tribunal Superior Eleitoral patrimônio de R$ 776.210,57, enquanto na eleição de 2024 o valor passou para R$ 2.468.418,61, evolução patrimonial esta de 318%”, reforça a decisão.
Para os agentes do Gecoc e do Gaeco, as investigações observaram “progressão patrimonial de Henrique incompatível com o cargo público exercido, com direcionamento do valor das propinas para compra de imóveis e empresas”.
Além disso, o prefeito Henrique teria omitido valores reais de bens em suas declarações. A Fazenda Ipê Amarelo, em Aquidauana, foi registrada em 2023 por R$ 1,5 milhão, mas o preço de mercado seria de R$ 4,3 milhões — diferença de quase R$ 2,9 milhões. Situação semelhante ocorre com a Chácara Curé, declarada em 2024 por R$ 62,6 mil, embora valha R$ 135,2 mil.
Outra discrepância envolve a empresa Resilix Ltda., registrada pelo prefeito nas eleições de 2024, com participação de 33%, avaliada em apenas R$ 1 mil. Atualmente, o capital social da companhia chega a R$ 2,2 milhões, elevando sua cota a R$ 745,9 mil.
Somando os valores de mercado, o patrimônio real de Henrique em 2024 alcançaria R$ 6,1 milhões — crescimento de 691% em relação ao declarado em 2020. No mesmo período, entre 2021 e 2025, seus rendimentos salariais como prefeito somaram R$ 541,4 mil, bem abaixo da evolução patrimonial verificada.
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