Invasão em fazenda confiscada de traficante "Cabeça Branca" deixa 40 feridos
Grupo de sem-terra entrou em área de 11 mil hectares e policiais usaram bombas de gás para dispersão
Uma grande mobilização de agricultores sem-terra terminou em invasão, repressão policial e dezenas de feridos nesta sexta-feira (5) na área de Lucipar, no departamento de San Pedro, no Paraguai. O alvo foi a fazenda de 11 mil hectares que já pertenceu ao narcotraficante brasileiro Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, hoje administrada pela Senabico (Secretaria Nacional de Administração de Bens Apreendidos e Confiscados).
RESUMO
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Uma invasão de terra no Paraguai terminou em confronto violento nesta sexta-feira, quando cerca de mil agricultores sem-terra tentaram ocupar uma fazenda de 11 mil hectares em San Pedro. A propriedade, que pertenceu ao narcotraficante brasileiro Luiz Carlos da Rocha, está sob administração do Estado paraguaio. O conflito resultou em dezenas de feridos, incluindo 22 mulheres hospitalizadas e dois policiais machucados. Foram detidos 42 adultos e apreendidos 29 veículos. A área segue sob vigilância de 700 agentes, enquanto manifestantes permanecem em pontos estratégicos, elevando o temor de novos confrontos na região.
Cerca de mil agricultores vindos de diferentes distritos organizaram uma caravana rumo ao imóvel rural, anunciando que fariam uma ocupação “pacífica” para pressionar o governo por terras destinadas à reforma agrária. O plano, porém, virou confronto.
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Mesmo com cerca de 100 policiais posicionados no portão principal, três caminhões carregados de agricultores aceleraram e derrubaram a estrutura de madeira, invadindo a propriedade. A entrada desencadeou reação imediata da tropa, que usou balas de borracha e gás lacrimogêneo para impedir o avanço do restante da caravana. A correria se espalhou pela estrada, com grupos tentando se proteger enquanto outros revidavam com pedras e objetos improvisados.
O cenário rapidamente se transformou em caos: gente caída no chão, feridos sendo carregados às pressas e dezenas de famílias tentando se dispersar. Pelo menos 42 adultos foram detidos - alguns acompanhados de crianças - e levados para a delegacia local. A polícia apreendeu 27 veículos, duas motocicletas e diversos materiais usados no protesto. Fontes oficiais confirmam ainda que 22 mulheres precisaram de atendimento no Hospital Distrital de Santa Rosa del Aguaray, enquanto outros feridos foram atendidos pela Força-Tarefa Conjunta.
Entre os policiais, dois agentes do Grupo Especializado ficaram feridos, um deles com um disparo na coxa. Viaturas também foram atingidas por pedradas e danos provocados durante o confronto.
A subprocuradora Alicia Sapriza montou uma força-tarefa com quatro promotores para investigar a invasão da área, que segue sob intensa vigilância desde quinta-feira, quando o governo deslocou cerca de 700 agentes para tentar impedir a ocupação anunciada. O proprietário da vizinha fazenda Toro Veve, Pedro Galli, também registrou queixa porque seu portão foi destruído pela caravana no trajeto.
A pressão dos agricultores ocorre diante da cobrança por destinação social da terra, já que a área está sob administração do Estado após ser confiscada de Cabeça Branca. Líderes da Comissão Norte de Agricultores Sem Terra afirmam que reivindicam os 11 mil hectares “como doação” e acusam o governo de ignorar há anos as pautas de reforma agrária. Um dos principais articuladores, Elvio Benítez, não está entre os detidos.
Do lado do governo, a Polícia Nacional afirma que o objetivo é proteger bens sob guarda da Senabico e impedir novas invasões. A cúpula de segurança descreve o cenário como “delicado” e admite risco de novos confrontos caso não haja um canal de diálogo.
A tensão continua alta na região: parte da caravana recuou, mas continua posicionada em pontos estratégicos, avaliando próximos passos. O temor é que o impasse reacenda episódios violentos que marcaram a história recente de San Pedro em disputas por terra.
“Cabeça Branca” - Luiz Carlos da Rocha, 61 anos, foi por décadas um dos maiores traficantes de cocaína da América do Sul. Discreto, evitava ostentação e viveu anos escondido graças a cirurgias plásticas que alteraram seu rosto.
Ele foi preso em 2017, na Operação Spectrum, que desarticulou sua rede internacional de tráfico ligada a mafiosos russos e à 'Ndrangheta italiana. Apesar de nunca ter fixado residência na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai, mantinha ali sua principal base logística, a enorme fazenda agora no centro da disputa.
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