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Capital

Assassinato de irmãos traz à tona preconceito contra a adoção

Marta Ferreira e Francisco Junior | 09/04/2012 17:46
A delegada Maria de Lourdes: adoção não está em questão no processo de investigação dos crimes. (Foto: Pedro Peralta).
A delegada Maria de Lourdes: adoção não está em questão no processo de investigação dos crimes. (Foto: Pedro Peralta).

Os assassinatos dos estudantes Rodrigo, de 20 anos, e da irmã, Walquíria, pelo irmão, de 16 anos, trouxeram à tona o preconceito sofrido por pais e filhos adotivos, avaliam as autoridades ligadas ao serviço de adoção em Campo Grande. O adolescente que atirou contra os irmãos havia adotado ainda bebê.

Para quem trabalha com a causa, comentários gerados sobre o fato de o adolescente ser adotado denotam preconceito, desconhecimento e são um retrocesso para um tema ainda polêmico.

“Quando o filho adotado comete um crime o que as pessoas lembram é que foi uma criança adotada que cometeu esse crime, mas ninguém destaca isso quando é cometido por um filho biológico”, destaca o a psicóloga Lílian Zeolla, do Núcleo de Adoção da Vara da Infância e Juventude e Idoso de Campo Grande. Ela lembra que casos de mortes em família, envolvendo parentes "de mesmo sangue", são comuns no cotidiano e que normalmente não se faz esse tipo de relação.

Para os que se apressaram em ligar o caso ao fato de o garoto ter sido adotado, a delegada que investiga o caso, Maria de Lourdes Souza Cano, afirma que, até o momento, o fato de o adolescente não ser irmão biológico das vítimas não está em questão na investigação dos crimes.

“Ele era criado da mesma forma que os irmãos e recebia muito carinho”, definiu.

Os vizinhos do casal também relataram que não havia distinção entre os filhos. A mãe, inclusive, deu uma emocionada entrevista pedindo oração para os três.

Apesar desse quadro, a preocupação de quem trabalha com adoção é informar a população e desfazer ideias preconcebidas. “É preconceito, ignorância ligar o crime com a adoção. Se fosse um filho biológico, o caso teria outro tratamento. Não seria associado à adoção, seria tratado de forma diferente”, define a psicóloga.

Apesar desse quadro, a preocupação de quem trabalha com adoção é informar a população e desfazer ideias preconcebidas. “É preconceito, ignorância ligar o crime com a adoção. Se fosse um filho biológico, o caso teria outro tratamento. Não seria associado à adoção, seria tratado de forma diferente”, define a psicóloga.

Como é- Ela explica que a adoção segue um tramite que passa, também, por cursos e grupos de apoio no Fórum da Capital, que ajudam a preparar os futuros pais, o chamado processo de habilitação. Já nessa fase quem aguarda pela adoção sofre com o preconceito, pois muitos pais têm um perfil definido para o futuro filho: meninas, de até um ano, brancas e sem irmãos.

“Nós tentamos ajudar os pais a vencer o preconceito, que muitas vezes é desses pais ou então vem de parentes e amigos”, lembra Lilian. Segundo a psicóloga, o trabalho dedicado à adoção sofre com o atraso provocado pelo preconceito, tanto que o número de pais habilitados chega a ser o dobro das crianças que esperam por adoção. “Muitos pais já têm o medo de que uma criança mais velha possa trazer algum tipo de comportamento dos pais, como tendência à violência ou a algum tipo de dependência”.

Na Capital são 22 crianças na fila da adoção e 76 pessoas aptas ao processo, número três vezes maior e que, na teoria, poderia fazer a fila andar de forma mais rápida, mas como há uma busca por um perfil a espera pode levar até um ano. No restante de Mato Grosso do Sul são 117 crianças que vivem em 16, enquanto o número de pessoas habilitadas chega a 217.

Para tentar reverter a situação o Núcleo de Adoção trabalha diretamente com grupos de adoção, que reúnem pais que estão na fila e que também já adotaram crianças. Troca de experiências que ajudam a vencer os preconceitos e também a tornar o mais simples possível a convivência entre os novos pais e os novos filhos.

A funcionária pública Natália Lelles participou de um grupo em Campo Grande e se tornou uma das exceções das mães que buscam o Núcleo. Há seis anos ela adotou um casal de irmãos, um menino que hoje tem 9 anos e uma menina que tem 7 anos. Ela conta que o desejo de adotar sempre existiu e que raramente lembra que os meninos não são filhos adotados.

“Foi um longo processo de preparo e não vejo em momento algum a diferença entre os meus filhos, não me lembro que eles são adotados, temos uma vida absolutamente normal”, destaca.

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