Clínica de reabilitação aberta em antiga indústria da Capital é investigada
Chamada de Novo Amanhecer, instituição chegou a ser interditada e acumula irregularidades desde 2023

A clínica de reabilitação Novo Amanhecer, aberta onde funcionava uma indústria no Bairro Jardim Carioca, em Campo Grande, está sendo investigada. Ela chegou a ser interditada em março deste ano, mas pediu o prazo de 180 dias para se readequar.
RESUMO
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Ministério Público investiga clínica de reabilitação por graves irregularidades em Campo Grande. A Clínica Novo Amanhecer, localizada no bairro Jardim Carioca, foi alvo de vistorias que revelaram condições insalubres, como comida estragada, banheiros precários e instalações elétricas inseguras. Internos eram submetidos a trabalho forçado, isolamento social e tratamento baseado exclusivamente em práticas religiosas, sem acompanhamento médico adequado. Além da falta de profissionais de saúde habilitados, a clínica não possuía alvará dos bombeiros e operava sem licença sanitária. A Prefeitura de Campo Grande negou qualquer convênio com a instituição. A Novo Amanhecer se mantinha por meio de doações e venda de produtos produzidos pelos internos. O caso se soma a outras investigações recentes de clínicas de reabilitação na capital sul-mato-grossense que apresentaram irregularidades semelhantes.
Um inquérito civil que o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) tornou oficial nesta sexta-feira (19) apura as diversas irregularidades encontradas no local em vistorias que datam de 2023 a março deste ano.
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Quando estiveram na clínica em março, psicólogos fiscais do CRP (Conselho Regional de Psicologia), profissionais da Vigilância Sanitária Municipal e representante do Ministério Público constataram "grave violação de direitos humanos e sanitários", segundo relatório extenso disponível entre as páginas da investigação.

Comida apodrecida e alimentos vencidos, banheiros em péssimas condições de uso, fios expostos e risco de curto-circuito, falta de ventilação nos dormitórios, trabalho forçado e ausência de profissionais de saúde habilitados para atender os dependentes químicos foram observados.
Outro ponto é o isolamento social. Os internos não podiam sair até a última vistoria, exceto para vender pães nas ruas, fabricados para custear a própria instituição, ou então as hortaliças cultivadas na horta onde eles mesmos trabalhavam. A família poderia vê-los apenas uma vez por mês e só era permitido fazer uma ligação de 10 minutos por semana.
A imposição da prática religiosa como único método de tratamento disponível é outro problema e fere a liberdade religiosa dos atendidos e desrespeita a política de redução de danos do uso de bebidas alcoólicas e drogas, frisa o relatório. A clínica não possuía critérios psicológicos ou psiquiátricos para tratar cada um dos casos, nem prazo nem passo a passo até a desinternação. Os dependentes químicos tomavam medicamentos receitados em uma unidade de saúde próxima, inclusive, alguns dos remédios encontrados nos armários estavam vencidos.
O local também não possui certificado de funcionamento emitido pelo Corpo de Bombeiros, destaca o MPMS no inquérito.
A Prefeitura de Campo Grande informou que não possui e nunca teve convênio com a instituição para custear a internação de dependentes de álcool ou drogas. A assessoria de imprensa afirmou ainda à reportagem que não foi encontrada licença sanitária para funcionamento da clínica.
Conforme apurado na última vistoria, a Novo Amanhecer é financiada por doações e pela venda de pães e de alimentos produzidos nas hortas.
O Campo Grande News entrou em contato com a clínica por ligação, mensagem e e-mail, mas não conseguiu ouvir seu posicionamento até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.
Novo Amanhecer é mais uma - Contando com a clínica investigada, entre 2024 e 2025 pelo menos três clínicas vistoriadas apresentaram irregularidades e violação dos direitos das pessoas que recebiam tratamento ou trabalhavam ali dentro.
Uma delas é a clínica Fazendinha, com endereço na Chácara dos Poderes. A outra é a clínica Filhos de Maria, que funcionava no mesmo bairro. Ambas estão fechadas.
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