Com mais de 40 furtos todos dias na Capital, existe um antídoto contra ladrões?
Segundo delegado, existem três perfis de criminosos que mais se repetem na cidade

Sentimento de raiva, medo e prejuízo. Isso é o que ficou desde que a casa de uma advogada, de 57 anos, foi invadida e furtada por três criminosos no último dia 5. Do imóvel, localizado do Bairro Monte Carlo, em Campo Grande, os suspeitos levaram tv, notbooks e joias que, além de preço, carregavam valor sentimental para a família.
“Saí de casa umas 15 horas e retornei às 19h30. Quando me aproximei vi que o portão estava só encostado e já notei a porta aberta. Logo depois já percebi coisas espalhadas no chão da casa e aí me dei conta do que tinha acontecido. Na hora a gente não sabe o que pensar”, conta a vítima.
O caso é mais um na estatística de um dos crimes que se repetem na Capital. Dados da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública) apontam que no período de 1 de janeiro à 13 de março de 2020, 3.168 boletins de ocorrênciade furto foram registrados na Capital, uma média de mais de 40 crimes cometidos por dia.
Delegado titular da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos), Reginaldo Salomão explica que, embora não seja possível prever a ação dos criminosos, medidas de precaução podem ser tomadas para tentar fugir da mira de bandidos.

Use a tecnologia a seu favor
Na era digital, usar a tecnologia em benefício próprio é uma das principais dicas de especialistas. De acordo com Salomão, a utilização de ferramentas como o WhatsApp, por exemplo, tem ajudado a criar rede de solidariedade entre moradores.
“Recentemente tivemos o caso de uma vizinha que ouviu barulho na casa ao lado e, depois de relatar o fato em um grupo de WhatsApp, descobriu que o morador não estava. Ela chamou a PM e o assaltante foi preso no momento em que saia do imóvel”, conta.
Em casos de viagens, o indicado é deixar alguém para visitar a casa diariamente e isso deve ser comunicado aos vizinhos no grupo.
Para quem tem maior poder aquisitivo, aconselha-se instalação de dispositivos de segurança como concertinas, câmeras e sensores de presença, além disso, reforço em portas e portões com travas e instalação de chave tetra.

Cuidado com a ostentação
De acordo com o delegado Reginaldo Salomão, exposições em excesso nas redes sociais ajudam criminosos a escolher vítimas e determinar a hora de agir. Ele explica que “ostentações desnecessárias” indicam aos criminosos que a pessoa tem poder aquisitivo alto. “Quem vê na internet não sabe que às vezes a pessoa parcelou o bem a se perder de vista”, comenta.
Viagens em família onde imóveis ficam sozinhos são outro ponto observado por criminosos na rede. “Muita gente posta foto com a família toda na praia. Quem vê, deduz que a casa está vazia, prato cheio para bandidos”, afirma Salomão.
Dentro de casa, o ideal é criar compartimentos dissimulados para guardar objetos de valor. “Se o proprietário esconde coisas em cofres, o ladrão entra, coloca o cofre nas costas e vai embora. Objetos caros devem estar muito bem escondidos”, explica.
Cuidados básicos, embora conhecidos, também são reforçados pelo delegado. Não é recomendado que embalagens de produtos novos como televisão e computador sejam deixados de maneira aparente em lixo na frente de caso.
Em últimos casos, onde o crime já aconteceu, equipe da polícia deve ser acionada de imediato e o local preservado para não prejudicar o trabalho da perícia.
Perfil dos criminosos
Reginaldo Salomão explica que existem variados perfis de autores de furto, no entanto, o especialista elenca os três que mais se repetem.
Segundo ele, dependentes químicos e moradores de rua são os primeiros a aparecer na lista. Embora não sejam responsáveis por furtos bem arquitetados e de valor alto, o grupo é listado como o que mais incomoda por causa da reincidência. “Eles repetem o crime e obrigam moradores e empresários a ter constantes gastos para consertar portas e portões arrombados. Isso provoca um grande estresse na localidade onde eles passam”, explica
Em seguida, o delegado menciona grupo denominado de ‘aproveitadores’. Meninos e meninas com faixa etária de 16 a pouco mais de 20 anos, que cometem delitos em busca de dinheiro fácil. Por fim, a relação lista quadrilhas profissionais especializadas em grandes furtos.
“Esses são os que já fizeram do crime um modo de vida. Já pegamos grupos em que todos tinham arma e carro comprados com dinheiro do furto. Em outro caso, um preso havia conseguido comprar uma casa de R$ 300 mil à vista”, explica Salomão.

Como exemplo, o delegado lembra de quadrilha que, no dia 21 de fevereiro, escolheu o condomínio Shalom para agir. Os ladrões fugiram levando um cofre com produtos avaliados em R$ 500 mil. O residencial de luxo fica no Jardim Noroeste, em Campo Grande e o modo de agir dos suspeitos foi muito parecido outro furto, registrado no início do mesmo mês no Damha I.
Na madrugada do dia 9, duas quadrillhas que cometiam furtos em bairros da Capital foram presas pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. Uma delas, mantinha casa feita de depósito para armazenar os produtos furtados.