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Capital

Desolação, dor, desespero e angústia na espera por uma vaga em hospital

Lidiane Kober | 09/08/2013 18:17
Mulher deixa UPA e já esperou 14 horas por vaga na Santa Casa (Foto: Pedro Peralta)
Mulher deixa UPA e já esperou 14 horas por vaga na Santa Casa (Foto: Pedro Peralta)

Sem vagas de emergência nos hospitais de Campo Grande, pacientes lotam as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e vivem horas de espera e angústia. Além de lidar com a dor, alguns chegam há aguardar 14 horas por um leito nos hospitais. O resultado é um cenário de desolação, com suspiros de dor e desespero dos familiares, que, de mãos atadas, rezam pela abertura de vagas.

A sobrecarga é resultado do fechamento de 60 vagas do PAM (Pronto Atendimento Médico) do HU (Hospital Universitário). A decisão superlotou os hospitais da Capital e, para driblar a crise, optou-se em manter os pacientes em estado menos grave nas UPAs.

O problema é que, em menos de duas semanas, três pessoas morreram a espera de leitos nos hospitais. Além disso, a sobrecarga nas unidades de saúde está atrasando os demais serviços e quem estava acostumado há aguardar 40 minutos pelo atendimento não sai do local antes de duas horas de espera.

Depois de uma noite de dor incontrolável na coluna e de não sentir as mãos e as pernas, a dona de casa Laurice Gomes Barbosa, 50 anos, chegou à UPA do Bairro Coronel Antonino, às 7h30 de segunda-feira (5). Sem vagas na Santa Casa, ela precisou esperar 14 horas para ser atendida no hospital. “Cheguei lá às 21h, meu filho que me contou, pois estava inconsciente”, contou. “Ela chorava de dor”, comentou o marido, Manoel Gomes Barbosa, 50 anos.

Dispensada no dia seguinte, hoje (9), depois de novamente não sentir as mãos e as pernas, ela voltou à Upa. Lá, ela recebeu injeções para combater a dor na coluna e, duas horas depois, foi de cadeiras de rodas para a casa, diante da falta de vagas nos hospitais.

Porta na cara – Acostumado a ser atendido na Santa Casa, um senhor de 82 anos, vítima de Mal de Alzheimer, bateu com a cara na porta, nesta sexta-feira. “Não tinha vagas no hospital e mandaram a gente para a UPA”, relatou sua cuidadora, Márcia Regina Silva Ferreira, 29 anos.

Na unidade de saúde, a situação do senhor chamava a atenção diante dos suspiros de dor. “Ele está com febre e suspeitamos de infecção urinária”, explicou Márcia.

Também a espera de um leito de emergência, estava na UPA do Bairro Coronel Antonino, Luzia de Fátima Vilela, 40 anos. Pela segunda vez, ela sofreu derrame na coluna. “Chegamos aqui por volta das 10h”, contou seu irmão, o professor Eurides Vilela, 55 anos. Às 14h23, ela conseguiu uma vaga na Santa Casa.

“A saúde, a educação e a segurança não são prioridades dos nossos governantes”, concluiu o professor. “Dinheiro existe, o problema é que ele para no bolso de corruptos”, emendou. A indignação também é decorrente da revolta por assistir o martírio de dois anos de sua mãe na luta contra um câncer.

Ela morreu no ano passado. “Cansei de ver ela aguardar seis meses por um exame e implorar por atendimento”, lembrou.

Atraso e revolta – A sobrecarga dos pacientes de emergência está acarretando mais espera ao público que busca consulta e exames nas UPAs. “Tenho criança pequena e volta e meia estou aqui. Em média, esperava 40 minutos, agora, não saio daqui antes de duas horas”, afirmou a dona de casa Glória Estela Ladeira, 27 anos.

Hoje, ela se revoltou na unidade de saúde e se juntou a outras mães para cobrar atendimento a um bebê, que, por duas horas, chorou desesperadamente, mas não foi socorrido. “Batemos na porta do pediatra, porque ninguém mais aguentava ver, sem fazer nada, o desespero da criança e da mãe”, comentou.

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Campo Grande não se manifestou até o fechamento da matéria. No início da semana, o procurador-geral do município, Luiz Carlos Santini, informou acionar a Justiça para obrigar o HU a reabrir o PAM para evitar novas mortes.

Glória se revoltou ao ver criança chorando sem ser atendida por duas horas (Foto: Pedro Peralta)
Glória se revoltou ao ver criança chorando sem ser atendida por duas horas (Foto: Pedro Peralta)
Eurídes acompanhou irmã, que sofreu derrame na coluna (Pedro Peralta)
Eurídes acompanhou irmã, que sofreu derrame na coluna (Pedro Peralta)
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