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Capital

Em julgamento, defesa alega que tese de assassinato por racismo é absurda

Aline dos Santos | 25/02/2011 10:08
Julgamento de Geraldo Lessa acontece hoje no Fórum de Campo Grande. (Foto: João Garrigó)
Julgamento de Geraldo Lessa acontece hoje no Fórum de Campo Grande. (Foto: João Garrigó)

Absurda. A palavra foi usada pela defesa de Geraldo Francisco Lessa, levado a júri popular nesta sexta-feira, para classificar a tese de que ele matou Anderson da Silva Faria, de 20 anos, por racismo. O crime aconteceu em 29 de dezembro de 2007, no bairro Parque do Sol, em Campo Grande.

Para o advogado José Roberto Rodrigues da Rosa, o caráter de crime por preconceito racial foi dado pela acusação. O réu, durante interrogatório ao juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Aluízio Pereira dos Santos, também nega discriminação racial,alegando que tem mãe negra e um filho negro.

Conforme a denúncia, o crime foi motivado pelo “ressentimento que nutria pela vítima em razão do relacionamento que essa mantinha com sua sobrinha e por se tratar de pessoa negra e pobre”.

Na versão de Geraldo, ele nem sabia quem era o namorado da sobrinha Eunice Zeli Lessa, cuja família ajudava financeiramente. Ele relata que no dia do crime, um sábado, assitia televisão quando foi chamado em casa. Ele era dono de uma padaria.

Geraldo relata que o rapaz o xingou e depois colocou uma das mãos em seu pescoço e a outra na cintura. Segundo ele, o jovem estava armado e o disparo aconteceu durante a luta corporal.

Em seguida, ele fugiu para a casa do sogro, onde, então, recebeu a informação que baleou o sobrinho da namorada. O comerciante conta que suspeitou de assalto.

Questionado pelo juiz por que fugiu, já que seria a vítima da tentativa de roubo, ele respondeu que se assustou com a situação. “Nunca tive arma, sempre fui um homem evangélico”, afirma. Conforme o relato da sobrinha, durante o processo, Geraldo tinha armas e teria prometido, inclusive, lhe presentear com um revólver.

A arma do crime não foi localizada. Preso em 2009, ele obteve habeas corpus. A defesa recorreu ao TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas a decisão de levá-lo a julgamento foi mantida.

Famíla de jovem morto espalhou faixas na entrada do Fórum e pintou cara de preto. (Foto: João Garrigó)
Famíla de jovem morto espalhou faixas na entrada do Fórum e pintou cara de preto. (Foto: João Garrigó)

Preconceito - Com vinte faixas e cartazes afixadas na entrada do Fórum e rosto pintados de preto, familiares e amigos, que lotam a sala de julgamento, afirmam que o acusado tinha preconceito racial. “Foi racismo. Ele não gostava de negro. Ele se achava o todo poderoso. A justiça vai ser feita”, afirma, em lágrimas, Cleonice Rocha da Silva, mãe do jovem morto.

Irmão da vítima, Isaías da Silva Faria, de 27 anos, defende que Anderson nunca teve revólver. “Ele era obreiro da igreja. Ele só tinha a palavra de Deus”. Isaías se casou com uma sobrinha do acusado.

O assassinato chocou os moradores, que levaram a indignação para as ruas durante duas passeatas. Anderson morreu 16 dias depois de ser baleado.

Aos jurados – seis homens e uma mulher –o acusado relatou que foi obrigado a vender a padaria, avaliada em R$ 300 mil por R$ 120 mil, devido às ameaças que sofria. A acusação questionou que ele perdeu R$ 200 mil, mas o jovem perdeu a vida.

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