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Capital

Família enfrenta covid e burocracia até o último adeus à vítima de serial killer

Claudionor Longo Xavier foi assassinado em abril de 2019, uma das vítimas de Cléber de Souza Carvalho e corpo foi sepultado hoje

Silvia Frias e Aletheya Alves | 09/08/2020 18:00
Família se despede de Claudionor Longo Xavier, em velório hoje, no Memorial Park (Foto: Marcos Maluf)
Família se despede de Claudionor Longo Xavier, em velório hoje, no Memorial Park (Foto: Marcos Maluf)

O dia 18 de abril de 2019 terminou hoje para Márcia Longo Xavier, 55 anos, quase 16 meses depois do desaparecimento do irmão, o pintor Claudionor Longo Xavier. Neste domingo, pode finalmente sepultar os restos mortais dele, assassinado aos 47 anos pelo serial killer Cléber de Souza Carvalho.

O corpo de Claudionor foi encontrado um ano depois do desaparecimento e, até conseguir realizar a despedida final, Márcia passou pela tormenta da espera, provocada pela burocracia judicial e por surto familiar de covid-19.

 “Agora consigo seguir a minha vida, a minha missão finalmente foi cumprida, conseguimos enterrá-lo”.

O velório teve duração de apenas uma hora, como manda o rito estipulado em tempos de pandemia. Sobre o caixão, uma foto do pintor, semblante sereno. “Ele era uma pessoa muito carinhosa, ele realmente era de família”.

Foto de Claudionor será levada pela irmã (Foto: Marcos Maluf)
Foto de Claudionor será levada pela irmã (Foto: Marcos Maluf)

Na capela do Memorial Park, cerca de 16 pessoas acompanhava a cerimônia, entre elas, 2 dos 6 irmãos de Claudionor e a filha de 21 anos, que estava muito abalada. Márcia lembrou que ele havia encomendado ovo de chocolate para presentar a jovem na Páscoa. “Ele não teve tempo de entregar para ela”.

O pranto de Márcia era a liberação de angústia que começou no dia 18 de abril de 2019, quando o irmão saiu de casa, na Vila Carvalho e nunca mais voltou. Além do registro na Polícia Civil, a família tentou refazer os passos de Claudionor, conversando com quem tinha encontrado e trabalhado com ele, sem sucesso.

“De todos os irmãos, acredito que fui a que mais sofreu. Procurei psicólogo e psiquiatra porque entrei numa crise de depressão muito forte. Desde que ele tinha sumido nenhuma data, como Natal ou Ano Novo, era motivo para comemoração” disse Márcia.

Quando soube da notícia de que Cléber de Souza Carvalho tinha matado cinco pessoas, imaginou que o irmão poderia ter sido vítima dele. Segundo Márcia, os dois tinham trabalhado juntos, na obra de uma chácara.

Cléber foi preso na madrugada de 15 de maio. Ao longo do dia, a Polícia Civil desenterrou 5 corpos de vítimas do pedreiro. Depois que as buscas foram encerradas, ele confessou mais um crime; disse que tinha matado uma pessoa chamada “Claudionor” e enterrado numa casa no bairro Sírio Libanês.

Claudionor havia desaparecido em abril de 2019 e foi uma das sete vítimas de serial killer (Foto/Arquivo familiar)
Claudionor havia desaparecido em abril de 2019 e foi uma das sete vítimas de serial killer (Foto/Arquivo familiar)

Os restos mortais foram encontrados, mas começava outra espera para a família, a da comprovaçao de que se tratava de Claudionor, o que somente seria possível por meio de exame de DNA. Depois disso, a família aguardou pelo aval da Justiça para que pudesse pedir o atestado de óbito.

Quando tudo se encaminhava para desfecho, Márcia foi infectada pela covid-19. E, no efeito cascata, o marido, as filhas, os genros e as netas. Até que todos pudessem se restabelecer, os restos mortais de Claudionor ficaram no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) de Campo  Grande.

Sobre o assassino confesso, Márcia diz não ter raiva. “Ele é doente, precisava de ajuda, acredito que se alguém da família dele procurasse auxílio, nada disso teria acontecido; fico triste, pois foi uma morte trágica, além do Claudionor, várias outras pessoas morreram, tenho tristeza pela perda, mas não mágoa”.

A foto que havia sido colocada sobre o caixão vai para a sala da casa da irmã, s. Márcia acredita que fazer o sepultamento no Dia dos Pais foi simbólico, para que a homenagem fique na memória da família. “Agora ninguém vai esquecê-lo”.

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