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Capital

Favorita nas ruas e drama para usuário, pasta-base é crack caipira

Aline dos Santos | 04/10/2012 14:51
Favorita  nas ruas e drama para usuário, pasta-base é crack caipira
Cachimbos artesanais são utilizados no consumo de pasta base (Foto: Pedro Peralta)
Cachimbos artesanais são utilizados no consumo de pasta base (Foto: Pedro Peralta)

Garantia de céu e inferno em meia hora, a pasta-base de cocaína faz sucesso no comércio de entorpecentes de Campo Grande. Com preços atrativos, em média R$ 10, o produto da mistura de folha de coca, gasolina e cal tem papel definitivo na vida de meninos, meninas, jovens e adultos. Pessoas para quem o pesadelo atende pelo nome de dependência química.

A gravidade da situação fez com que a droga fosse batizada no meio médico de crack caipira. Num comparativo ao entorpecente que forma cracolândias, com seu exército de desvalidos, e levou o governo federal a criar um plano específico de combate. Para os usuários, é a zuca, num singelo diminutivo de bazuca, a arma portátil com grande poder de destruição.

A viagem da pasta-base pelo organismo leva sete segundos. Neste intervalo de tempo que pode se contar nos dedos, a fumaça passa pelo pulmão e chega ao cérebro. A partir de então, o usuário passa a conhecer um novo repertorio de palavras, entram em cena a fissura e a nóia. No outro extremo, um destino, que, invariavelmente, se resume a três C: clínica, cárcere e cemitério.

Psiquiátrica Marcos Ivan (Foto: Pedro Peralta)
Psiquiátrica Marcos Ivan (Foto: Pedro Peralta)

O psiquiatra Marcos Estevão Moura explica que no começo, a pasta-base provoca euforia e empolgação. “É estimulante. Vem a sensação de poder. Você pode mais. Mas o efeito é curto, dura 30 minutos”, afirma.

Em seguida, o prazer vira paranoia. “Vem o medo imenso, a sensação de ser perseguido, a pessoa se esconde”. Segundo o especialista, a droga atua no sistema de recompensa cerebral. O corpo vai pedir mais e mais. “A dependência é de imediato. Não existe uso social da pasta-base”, esclarece.

Do ponto de vista biológico, a dependência tem efeito arrasador. “As drogas vão acabando com o cérebro, coração, fígado, músculos”, lembra o médico. A perda muscular fica, literalmente, na cara. O rosto ganha aspecto encovado e a flacidez ao redor da boca exige até fisioterapia para quem tenta renascer do vício. O uso constante leva à demência, uma forma de morte em vida.

No aspecto moral, o usuário entra na espiral do crime. Primeiro, vai vender seus pertences. Depois, vai roubar em casa e, por fim, fará vítimas nas ruas. Tudo, de dinheiro a panela, vira moeda de troca na boca-de-fumo.  Em décadas de atendimento a dependentes químicos, Marcos Estevão nem hesita quando questionado se o cenário atual é mais preocupante “Tem criança de 7, 8 anos usando. Hoje está muito pior”. O avanço da pasta-base também joga por terra o estigma de droga para pobres.

Uma saída – Sair da dependência exige tratamento para toda a vida. Para começar, no mínimo, seis meses de internação. “Vai para as comunidades terapêuticas. Terá que aprender a lidar com abstinência. Participar de grupos de apoio. É para a vida toda”, explica o psiquiatra.

Para Marcos Estevão, a impunidade contribui para o aumento do uso das drogas. Ele justifica que há um contra-senso, pois se o usuário não comete crime, como pode ser crime o que ele usa.

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