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Capital

Golpes, IA e fakes fazem MP mudar estratégia para enfrentar crimes digitais

IA, golpes digitais e mentiras em massa ampliam risco no próximo pleito

Por Gabi Cenciarelli | 21/12/2025 07:16
Golpes, IA e fakes fazem MP mudar estratégia para enfrentar crimes digitais
Computadores, celulares, dispositivos de armazenamento e outros materiais eletrônicos (Foto: Aquivo Divulgação / PF)

Com o Brasil caminhando para mais um ano eleitoral, em 2026, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul passou a tratar a desinformação e os crimes digitais como um dos principais desafios institucionais do próximo período. O tema não envolve apenas eleições, mas a própria capacidade do Estado de reagir a crimes que hoje se espalham em segundos pelo celular da população.

RESUMO

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O Ministério Público de Mato Grosso do Sul estabeleceu a desinformação e os crimes digitais como principais desafios institucionais, especialmente com a proximidade das eleições de 2026. Durante balanço anual, a instituição destacou a necessidade de reorganização para enfrentar um cenário cada vez mais digital e complexo. O MP-MS tem investido em inteligência e integração de dados, com o Centro de Pesquisa disponibilizando mais de 400 mil dados para investigações em 2025. A instituição realizou 19 ações estratégicas, resultando em 107 prisões e 370 mandados de busca e apreensão, além de apresentar cerca de 30 mil denúncias à Justiça.

A preocupação foi apresentada durante o balanço anual de atividades do Ministério Público do Mato Grosso do Sul, nesta sexta-feira (19), quando a instituição detalhou os resultados de 2025 e explicou como vem reorganizando sua atuação para enfrentar um cenário cada vez mais digital, pulverizado e difícil de conter.

Ao ser questionado sobre o impacto da inteligência artificial e da desinformação nas eleições, o procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milhan Junior, explicou que o Ministério Público atua diretamente tanto na fiscalização do processo eleitoral quanto na repressão a crimes digitais que afetam a coletividade.

“Isso não nasceu agora. Nós já passamos por três eleições com reestruturação do núcleo eleitoral, mas agora vem a cereja do bolo, que é a inteligência artificial”, afirmou.

Golpes, IA e fakes fazem MP mudar estratégia para enfrentar crimes digitais
Homem olhando imagem em celular dentro de delegacia (Foto: Ilustrativa | Henrique Kawaminami | Arquivo)

Segundo ele, o núcleo eleitoral do Ministério Público foi estruturado justamente para acompanhar campanhas, investigar irregularidades e agir quando há disseminação de mentiras que possam interferir no processo democrático. O grupo é coordenado pelo promotor Moisés Casarotto, especialista na área e com experiência de 15 anos na Justiça Eleitoral.

Romão destacou que, embora o Ministério Público atue de forma técnica, o desafio aumentou porque a mentira passou a circular fora dos canais tradicionais. “A mentira, muitas vezes, se espalha mais rápido do que a verdade. E como segurar isso quando chega pelo WhatsApp?”, questionou.

Nesse contexto, ele reforçou que o MP não atua sozinho. “A notícia verdadeira ainda é a maior barreira contra a desinformação”, disse, ao destacar o papel da imprensa profissional como aliada no enfrentamento às mentiras em massa.

Do processo eleitoral ao golpe do dia a dia - Além da fiscalização das eleições, o MPMS também atua diretamente na repressão aos crimes digitais, que cresceram de forma acelerada e hoje atingem cidadãos comuns, empresas e até membros do próprio sistema de Justiça.

Golpes, IA e fakes fazem MP mudar estratégia para enfrentar crimes digitais
Polícia Federal apreendeu arquivos de computador em Corumbá. (Foto: Divulgação/PF)

Romão relatou que promotores e servidores também já foram alvo de golpes, o que mostra o nível de sofisticação dos criminosos. “Tem golpe em que o criminoso se passa por advogado, promotor, banco. Diz que saiu um alvará, pede depósito, clona número. Isso acontece todos os dias”, afirmou.

Segundo ele, idosos continuam entre as principais vítimas, mas o problema já se espalhou para todas as faixas etárias. “Chega um momento em que a pessoa para de atender ligação, porque não sabe mais em quem confiar”, disse.

Esse avanço dos crimes digitais levou o MP a estruturar uma atuação específica por meio do Núcleo de Crimes Cibernéticos, que concentra investigações, inteligência e apoio técnico às promotorias de todo o Estado.

Para o promotor Michel Maesano Mancuelho, coordenador-adjunto do núcleo, o papel do Ministério Público é identificar padrões e chegar aos grupos que atuam em larga escala, e não apenas aos casos isolados.

“Hoje, o crime cibernético não é mais praticado só por quem entende de tecnologia,” explicou. “Os criminosos compram pacotes prontos, com dados vazados, roteiros e perfis de vítimas. Qualquer pessoa consegue aplicar golpe usando só o WhatsApp.”

Michel destacou que a inteligência artificial já é usada para criar histórias mais convincentes. “Até alguém dentro de um presídio consegue criar uma narrativa que parece real e fazer a vítima acreditar”, disse.

Inteligência para antecipar crimes - Para dar conta desse cenário, o MPMS passou a investir em inteligência e integração de dados. O balanço de 2025 mostra esse movimento na prática.

No ano passado, o Centro de Pesquisa, Análise, Difusão e Segurança da Informação, o CI, disponibilizou mais de 400 mil dados para apoiar investigações em todo o Estado. Já a Unidade de Inteligência, Cooperação e Combate ao Crime (UICOC) intensificou o enfrentamento a golpes e crimes no ambiente virtual, atuando de forma integrada com outras instituições.

Segundo Michel, além da repressão, o MP atua para evitar que as pessoas se tornem vítimas. “A maioria das vítimas cai por falta de informação. Educação cibernética talvez seja a maior arma que a sociedade tem hoje”, afirmou.

Em 2025, o MPMS desenvolveu campanhas em parceria com a Decon e colocou em prática o projeto Protege, voltado à orientação da população. A iniciativa foi premiada em Brasília.

Atuação em números - Os dados do balanço anual mostram que o fortalecimento da inteligência veio acompanhado de resultados concretos. Em 2025, o MPMS ajuizou mais de 4 mil ações e apresentou cerca de 30 mil denúncias à Justiça.

No combate ao crime organizado, o Gaeco realizou 19 ações estratégicas, com 107 prisões e 370 mandados de busca e apreensão, atingindo redes criminosas dentro e fora de Mato Grosso do Sul.

Mesmo assim, Michel avalia que o maior desafio hoje é a criminalidade de massa. “O crime saiu da rua e foi para a tela. Tem gente que trabalhava em telemarketing e hoje passa o dia inteiro aplicando golpe”, afirmou.

Apesar disso, o promotor destaca avanços importantes, como a primeira denúncia no Estado por lavagem de dinheiro com criptoativos. “É um tipo de crime difícil de investigar, mas mostra que o Ministério Público está acompanhando essa evolução”, disse.

Atenção permanente - Com a aproximação das eleições de 2026, o Ministério Público reforça que a atuação vai além do período eleitoral. A desinformação e os golpes digitais passaram a fazer parte da rotina institucional.

“O crime mudou, e o Ministério Público precisou mudar junto”, resumiu Romão. “Hoje, a atenção da população também faz parte do enfrentamento.”