Em vez de disciplinar, proteção ao pedestre tumultua trechos no centro
Falta de informação, conscientização e educação aparecem entre as principais reclamações de pedestres e motoristas
Se uma campanha educativa “pegou”, ainda é cedo para falar. O que se percebe é que pelo menos alguma diferença surgiu, seja positiva ou negativa, no campo das críticas ou elogios. Implantada em Campo Grande no final do ano passado, a campanha “Pedestre, eu cuido!” divide opiniões e, na prática, vem provocando confusão entre motoristas e pedestres, principalmente em trechos centrais de maior tráfego.
Têm quem afirme que é visível, em tão pouco tempo, o respeito por parte dos condutores. Outros acham que o trânsito virou uma confusão e que do jeito que estava era bem melhor. Há ainda as reclamações de que a divulgação da campanha não foi satisfatória.
Motorista há 18 anos, a dona de casa Ivone Nogueira da Costa, de 67 anos, diz, sem relutar, que o trânsito virou uma bagunça. Na hora de dirigir encontra dificuldade. “O pedestre não sabe se o motorista vai atravessar ou não. E dá confusão para o motorista”, afirma. “Tem que obedecer o semáforo”, finaliza.
Wanderlei de Macedo Molina, 53 anos, compartilha parte da opinião. Para o auxiliar administrativo externo, que também presta serviços ao Detran (Departamento Estadual de Trânsito), a campanha dificilmente é respeitada.
“Não sei se é falta de informação ou falta de educação dos motoristas”, comenta. Para Wanderlei o que falta é conscientização e educação no trânsito.
Para a funcionária pública Lionicia Paula Ribeiro, que tirou a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) há cerca de 4 meses, houve uma melhora significativa. “Antes se você ameaçasse passar, eles [os motoristas] passavam por cima. Hoje eles param”.
Lionicia afirma que a iniciativa é válida, porque a “lei é muito rigorosa”. “Mas ninguém respeita”, reitera. Mas a culpa de desrespeito no trânsito não é atribuída exclusivamente a condutores.
Motorista de caminhão há 5 anos, Paulo César Rocha, de 29, reconhece a importância do projeto, mas afirma que alguns pedestres não cuidam da própria vida. “Tem uns que põe o pé na faixa e já vai entrando”, disse.
Compartilhando da mesma opinião, o garçom Antonio de Freitas Nascimento, de 49 anos, afirma que os pedestres precisam de informação. Muitos, comentou, não dão sinal de que vão entrar na faixa. “Entram e acham que estão no direito”, afirma.
Resultados - Segundo a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), a campanha já apresenta bons resultados para uma cidade que não tinha esse tipo de cultura no trânsito.
Até agora, mais de 480 motoristas foram notificados. Apesar da novidade na Capital, a lei, que faz parte do Código de Trânsito Brasileiro, existe desde 1997 e é seguida em outras cidades do país.
Segundo a chefe de Divisão de Educação para o trânsito da Agetran, Ivanise Rotta, a implantação tardia em Campo Grande está relacionada à falta de estrutura na Capital, o que melhorou com o surgimento do projeto e união de forças.
A fiscalização é itinerante e geralmente se concentra em pontos mais críticos, onde há grande número de pedestres ou situações de desrespeitos, como a região do camelódromo, próximo à Morada dos Baís, e avenida Afonso Pena com a rua Arthur Jorge.
Sobre a divergência de opiniões, Ivanise Rotta afirma que é uma questão cultural, mas que aos poucos motoristas e pedestres vão se acostumando, até perceberam que é um “caminho sem volta”.
“Para pessoas que acham que a vida é mais importante que a fluidez no trânsito, é excelente. Para quem é individualista e acha que o trânsito tem que fluir só para o carro, eles não vai gostar”, argumentou.
Campanha – A campanha “pedestre, eu cuido!” teve início em novembro de 20011 e é promovida por meio de uma parceria entre o Detran-MS, Ciptran (Companhia Independente de Policiamento de Trânsito) e demais entidades que compõe o GGIT (Gabinete de Gestão Integrada de Trânsito).
O objetivo é conscientizar motoristas sobre a preferência de pedestre na travessia feita na faixa. A primeira etapa foi desenvolvida junto aos motoristas, primeiro em fase educacional, depois, aplicando notificações.