João Lucas, um sobrevivente à gripe suína, vai para casa após 60 dias
No final da manhã de hoje, dona Marli Maria Sales de Araújo, 56 anos, saía do Hospital Regional com um embrulho valioso nas mãos. De roupinha verde e enrolado em uma manta branca, o ‘pacotinho’ era o presente mais esperado para essa avó. Depois de dois meses internado, era a primeira vez que João Lucas Sales de Melo via a claridade, sentia o sol no rostinho.
As mãos pequeninas ainda estavam perdidas em meio a tantas roupas e cobertas. De longe parece um boneco. Mas basta prestar atenção e chegar pertinho que se ouve um baixinho barulho anunciando que ali tem criança.
“Eu acompanhei todos os dias, não falhava um, todo santo dia estava aqui”, conta a avó. A única mãe que João Lucas vai conhecer. Filho de Glaucia Sales de Melo, 25 anos, ele já nasceu sobrevivente. A jovem morreu logo após o parto, usuária, vítima de complicações por gripe A, 60 dias atrás.
João Lucas nasceu prematuro, antes que a gestação completasse seis meses, no dia 14 de junho e ficou dois meses internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal do Hospital Regional. Não chegou a conhecer a mãe e nem ela o bebê. Depois da cesariana de emergência, ela já entrou em coma e morreu no dia 28.
A alegria e a tristeza. A saudade e a coragem que esta avó tem em si se encontram nas lágrimas que escorrem do seu rosto. “É uma emoção, não tem como explicar. Você pensa que era para a mãe dele estar saindo com ele daqui e no final sou eu. Ao mesmo tempo sinto tristeza por ela, mas alegria, felicidade, é difícil definir”. Difícil também foi segurar o choro.
Dona Marli teve fé do início ao fim dessa luta pela sobrevivência do neto. Pesando 1,7 kg e medindo pouco mais de 42 cm, a avó carrega o embrulhinho verde como se fosse a preciosidade mais importante do mundo. E pra ela é.
“Quando a fono falou que ele aceitou a mamadeira eu já fiquei feliz e dei continuidade. Antes ele se alimentava só com sonda”, diz. O capítulo novo da história do menino começou na última quinta-feira com a notícia de que o prematuro já conseguia sugar o leite da mamadeira.
A avó é de origem simples. Lutou durante nove anos contra o vício da filha e não imaginou que perderia a filha para a gripe A. Glaucia não tomou a vacina contra a Influenza e só foi procurar atendimento médico quando já estava passando muito mal.
“Tudo o que eu pude fazer por ela em vida eu fiz”, declara. Agora ela mesmo mostra que é cabeça erguida que parte da filha continua com uma vida toda pela frente.
“Vou criar e desde já eu converso com ele e falo, vou preparando o psicológico. Ele vai entender quando chegar a hora que eu estou criando ele porque a mãe morreu”.
Com o neto nos braços, em casa o que o aguarda é um berço antigo que foi de um priminho e poucas roupinhas. A criança vai precisar além de fraldas, leite Nan 1 Pro. Mas o mais importante ela diz que tem consigo, a fé de que vai ser muito bom.
“Vai ser ótimo, vai preencher o meu vazio e eu o dele. Eu jamais vou esquecer da minha filha e ele também não”.