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Capital

João Lucas, um sobrevivente à gripe suína, vai para casa após 60 dias

Paula Maciulevicius | 14/08/2012 16:49
Dona Marli carrega nas mãos o peso da coisa mais importante do mundo. Um neto, seus 1,7 kg e muita força pra viver. (Fotos: Minamar Júnior)
Dona Marli carrega nas mãos o peso da coisa mais importante do mundo. Um neto, seus 1,7 kg e muita força pra viver. (Fotos: Minamar Júnior)

No final da manhã de hoje, dona Marli Maria Sales de Araújo, 56 anos, saía do Hospital Regional com um embrulho valioso nas mãos. De roupinha verde e enrolado em uma manta branca, o ‘pacotinho’ era o presente mais esperado para essa avó. Depois de dois meses internado, era a primeira vez que João Lucas Sales de Melo via a claridade, sentia o sol no rostinho.

As mãos pequeninas ainda estavam perdidas em meio a tantas roupas e cobertas. De longe parece um boneco. Mas basta prestar atenção e chegar pertinho que se ouve um baixinho barulho anunciando que ali tem criança.

“Eu acompanhei todos os dias, não falhava um, todo santo dia estava aqui”, conta a avó. A única mãe que João Lucas vai conhecer. Filho de Glaucia Sales de Melo, 25 anos, ele já nasceu sobrevivente. A jovem morreu logo após o parto, usuária, vítima de complicações por gripe A, 60 dias atrás.

João Lucas nasceu prematuro, antes que a gestação completasse seis meses, no dia 14 de junho e ficou dois meses internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal do Hospital Regional. Não chegou a conhecer a mãe e nem ela o bebê. Depois da cesariana de emergência, ela já entrou em coma e morreu no dia 28.

A alegria e a tristeza. A saudade e a coragem que esta avó tem em si se encontram nas lágrimas que escorrem do seu rosto. “É uma emoção, não tem como explicar. Você pensa que era para a mãe dele estar saindo com ele daqui e no final sou eu. Ao mesmo tempo sinto tristeza por ela, mas alegria, felicidade, é difícil definir”. Difícil também foi segurar o choro.

Dona Marli teve fé do início ao fim dessa luta pela sobrevivência do neto. Pesando 1,7 kg e medindo pouco mais de 42 cm, a avó carrega o embrulhinho verde como se fosse a preciosidade mais importante do mundo. E pra ela é.

As mãos pequeninas ainda estavam perdidas em meio a tantas roupas e cobertas. E que venha muita saúde para João Lucas, 2 meses de vida.
As mãos pequeninas ainda estavam perdidas em meio a tantas roupas e cobertas. E que venha muita saúde para João Lucas, 2 meses de vida.

“Quando a fono falou que ele aceitou a mamadeira eu já fiquei feliz e dei continuidade. Antes ele se alimentava só com sonda”, diz. O capítulo novo da história do menino começou na última quinta-feira com a notícia de que o prematuro já conseguia sugar o leite da mamadeira.

A avó é de origem simples. Lutou durante nove anos contra o vício da filha e não imaginou que perderia a filha para a gripe A. Glaucia não tomou a vacina contra a Influenza e só foi procurar atendimento médico quando já estava passando muito mal.

“Tudo o que eu pude fazer por ela em vida eu fiz”, declara. Agora ela mesmo mostra que é cabeça erguida que parte da filha continua com uma vida toda pela frente.

“Vou criar e desde já eu converso com ele e falo, vou preparando o psicológico. Ele vai entender quando chegar a hora que eu estou criando ele porque a mãe morreu”.

Com o neto nos braços, em casa o que o aguarda é um berço antigo que foi de um priminho e poucas roupinhas. A criança vai precisar além de fraldas, leite Nan 1 Pro. Mas o mais importante ela diz que tem consigo, a fé de que vai ser muito bom.

“Vai ser ótimo, vai preencher o meu vazio e eu o dele. Eu jamais vou esquecer da minha filha e ele também não”.

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