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Capital

Jovem vai à Polícia após ser revistado e chamado de "neguinho" por seguranças

Entregador de 19 anos registrou boletim de ocorrência depois de ser revistado e nada ser encontrado

Marta Ferreira e Ana Beatriz Rodrigues | 07/04/2021 16:27
A mãe de Matheus na frente da delegacia: "não aceito". (Foto: Henrique Kawaminami)
A mãe de Matheus na frente da delegacia: "não aceito". (Foto: Henrique Kawaminami)

Um pedido de desculpas. É o que o entregador Matheus queria nesta tarde, mas não teve, da parte de seguranças que o revistaram em centro comercial de Campo Grande, no Bairro Monte Castelo, em atitude levada à Polícia Civil como episódio racista.

Além de revirar a pochete usada pelo cliente, de acordo com ele, os homens o chamaram de “neguinho”. Os seguranças envolvidos na situação confirmaram na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento) no Centro de Campo Grande ter feito a abordagem ao jovem por suspeitar de que ele tivesse cometido o furto. Ele atribuíram a situação a um enganoa um "engano".

Segundo o relato de Matheus ao Campo Grande News, por volta do meio-dia ele foi até o Hiper Center Ypê, na Avenida Mascarenhas de Moraes,  no Bairro Monte Castelo, para comprar uma caixa de sabão em pó,  a pedido da mãe.

Disse ter achado o preço caro e, então, decidiu ir à loja ao lado de calçados no mesmo prédio, à procura de um chinelo. Não encontrou nada de seu gosto e encaminhou-se para fora do lugar, quando, na saída, foi abordado por dois seguranças.

Matheus mostra a pochete que foi revirada pelos seguranças, segundo ele. (Foto: Henrique Kawaminami)
Matheus mostra a pochete que foi revirada pelos seguranças, segundo ele. (Foto: Henrique Kawaminami)

O jovem diz que, então, eles o chamaram de “neguinho” e na sequência, com truculência, reviraram a bolsinha usada por ele, sob suspeita de ter pego algo. Nada havia, afirma.

Matheus disse ter ido embora, para buscar a mãe no trabalho, perto dali. Quando contou a situação, ela não deixou por isso mesmo. Mãe e filho voltaram ao centro comercial, pediram o nome dos seguranças para a gerência, o que foi negado.

A Polícia Militar foi acionada, todos foram para a delegacia de Polícia Civil.

Ao conversar com a reportagem, Matheus usou tom de defesa. “Eu não sou bandido”, afirmou. Mesmo sem ser indagado a respeito, afirmou ter tido uma passagem por receptação na adolescência, quando comprou um notebook produto de crime.

“Se eles tivessem pelo menos pedido desculpas”, afirmou, sobre ter ido até a polícia noticiar o fato.

“Criar um filho com tanto sacrifício para tratar meu filho como bicho, eu não aceito”, afirmou a mãe,  a cuidadora de idosos Andreia Rodrigues, de 47 anos.

O delegado que registrou o caso, José Roberto Junior, informou que o episódio seria tratado como constrangimento ilegal, em razão do excesso na abordagem dos seguranças.

A autoridade policial fez questão de diferenciar o caso do  crime de racismo, para o qual é necessário provas mais complexas, como por exemplo a caracterização de negativa de algum direito, produto, a alguém por causa de sua cor de pele.

Em nota, a direção do Hiper Center Ypê informou que os funcionários foram afastados enquanto as circunstâncias são verificadas. " A empresa reitera que seus colaboradores passam por treinamentos constantes e condena veementemente este tipo de comportamento".

(Matéria editada às 19h50 para acréscimo do posicionamento do centro comercial)

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