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Capital

Milagre na Bélgica motivou tradição sagrada de levar missa às ruas

Tradição vinda de Portugal estampa mártires indígenas, entre santos e beatos e destaca carisma entre católicos e não convertidos

Caroline Maldonado | 04/06/2015 12:29
Católicos chegaram as 6h para montar tapete onde passará procissão, criada em 1264, na Bélgica (Foto: Marcos Ermínio)
Católicos chegaram as 6h para montar tapete onde passará procissão, criada em 1264, na Bélgica (Foto: Marcos Ermínio)

Um milagre que confirmou a vontade de Deus no século XIII e a criatividade do portugueses deram vida a tradição que reúne centenas de católicos todos os anos para a celebração do Corpus Christi, na Rua 14 de Julho, em Campo Grande.

No momento da missa em que os fiéis têm o pão como corpo e o vinho como sangue de Cristo, a representação se materializou. Saiu sangue da hóstia, que se espalhou pelo pano onde estava apoiado o cálice. Sem saber ao certo o porquê do milagre, as testemunhas relataram o caso ao Papa Urbano IV. Ele entendeu que o sinal era uma confirmação ao que havia sido revelado a uma monja no mesmo ano e teve certeza: Jesus queria que o culto fosse levado às ruas.

Por determinação do Papa, no ano de 1264, os objetos com o sangue que surgiu durante a missa foram levados da cidade de Bolsena para Orvieto em uma grande procissão, que além de atrair fiéis e curiosos manifestava justamente o que eles entenderam como a vontade de Deus. Assim, ficou instituída a festa de Corpus Christi, celebrada sempre numa quinta-feira, depois de Pentecostes, outro rito, que lembra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus.

Missa nas ruas é obrigatório a todos os dirigentes das paróquias, segundo padre Bernardo Salviano (Foto: Marcos Ermínio)
Missa nas ruas é obrigatório a todos os dirigentes das paróquias, segundo padre Bernardo Salviano (Foto: Marcos Ermínio)
Irmã laurita Genoveva Jara levou imagens de beato e lideranças indígenas assassinadas para por no tapete (Foto: Marcos Ermínio)
Irmã laurita Genoveva Jara levou imagens de beato e lideranças indígenas assassinadas para por no tapete (Foto: Marcos Ermínio)

O tapete português - A tradição ganhou o mundo e virou algo tão sério, que levar a missa às ruas é obrigatório a todos os dirigentes das paróquias, segundo o padre Bernardo Salviano, da congregação italiana Picoli Frateli, que acordou cedo hoje (4) para participar da produção do tapete no Centro da Capital.

O milagre tem oito séculos, mas o padre conta como se tivesse vivenciado as manifestações populares, desde o início. Ele lembra que o tapete veio depois, foi inventado pelos portugueses, que trouxeram o costume na época do Império. Petrópolis, a cidade que leva esse nome em homenagem ao imperador Dom Pedro II, foi a primeira do país a ter uma procissão de Corpus Christi, com tapete e tudo.

“Foi assim que a festa se tornou como é hoje. É um dia para manifestar a fé e ter certeza de que o milagre é sempre uma resposta à uma súplica. Quem ora por alguém, por um doente, por exemplo, e faz um pedido é atendido por Deus e pode ver aquela pessoa se recuperar”, comenta o padre Bernardo, da Paróquia Nossa Senhora Medianeira.

Irmãs lauritas estamparam tapete com imagens de índios e beato da América Central (Foto: Marcos Ermínio)
Irmãs lauritas estamparam tapete com imagens de índios e beato da América Central (Foto: Marcos Ermínio)
Com serragem, material reciclável e areia, fiéis montaram tapete onde passará procissão (Foto: Marcos Ermínio)
Com serragem, material reciclável e areia, fiéis montaram tapete onde passará procissão (Foto: Marcos Ermínio)

Mártires - A festa é para celebrar o corpo de Cristo, mas no tapete com mais de um quilômetro vão surgindo outros mártires, alguns de Mato Grosso do Sul. Um grupo da congregação Irmãs Lauritas fez questão de estampar os índios Marçal de Souza, assassinado em 1983; Nísio Gomes, morto em 2011 e Oziel Gabriel, assassinado em 2013. “Todos perderam a vida lutando pelos seus povos, pela justiça e igualdade. Então estamos aqui para destacar os índios, mas também todos aqueles que são pobres”, lembra a irmã laurita Genoveva Jara, 62 anos. Ela destaca ainda a beatificação de Dom Oscar Romero, ocorrida em maio, e compara o mártir as lideranças indígenas. Romero foi assassinado quando celebrava missa, em 1980, por um atirador de elite do exército salvadorenho.

Mais alguns passos ao lado do tapete e encontramos Guadalupe Freire, 55 anos, também admiradora do beato Romero, que nas missas denunciava as violações de direitos humanos, ocorridas na Guerra Civil de El Salvador, país da América Central. “Cada beato ou santo é um exemplo de vida em que podemos nos espelhar na missão principal de ajudar o próximo”, diz ela, que é devota de Nossa Senhora de Guadalupe, a santa mexicana que apareceu para um índio e fez milagre para que todos acreditassem na aparição. “Ela disse para ele colher pétalas de rosas e levar enroladas no manto. Quando ele foi mostrar ao padre, as rosas estavam estampadas no pano formando a imagem de Nossa Senhora”, conta.

Para grupo de jovens da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, carisma com os que ainda não foram evangelizados é a mensagem principal (Foto: Marcos Ermínio)
Para grupo de jovens da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, carisma com os que ainda não foram evangelizados é a mensagem principal (Foto: Marcos Ermínio)

Carisma - O tapete com os mártires e as expressões de união entre cristãos fica na rua até as 15h, quando o bispo dom Dimas Lara celebrará a missa, na esquina da 14 de Julho com a Avenida Mato Grosso e todos seguem em procissão até a frente do antigo Fórum, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, onde recebem a benção final. A igreja espera reunir 15 mil pessoas.

O evento tem ainda muitos jovens que entram no clima da evangelização nas ruas. Entre eles, um grupo da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. “Se as pessoas não vão à igreja vamos até elas. Essa é a missão, ser acolhedor para que os novos se sintam parte da família”, resume Ana Beatriz, 15 anos, sobre o carisma que deve ser relembrado pelos católicos, no cotidiano e convivência com as pessoas de qualquer raça, fé, sexo ou classe social.

Igreja espera reunir 15 mil pessoas em procissão (Foto: Marcos Ermínio)
Igreja espera reunir 15 mil pessoas em procissão (Foto: Marcos Ermínio)
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