Na 5ª capital em cesáreas, hospital fez cerca de 200 por escolha este ano no SUS
Realidade contraria recomendações de parto normal feitas pelo Ministério da Saúde e pela OMS
"Cesárea a pedido" é a observação que se lê em cerca de 200 de fichas das gestantes já atendidas este ano no Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), em Campo Grande. A escolha pelo tipo de parto não é respaldada às mulheres por lei no Estado, mas na prática é atendida por médicos com o amparo de resolução publicada em 2016 pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
RESUMO
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Hospital público de Campo Grande realiza cerca de 200 cesáreas por escolha da gestante este ano. Embora a lei não respalde essa opção, médicos a atendem com base em resolução do CFM de 2016. Especialistas defendem o parto normal como mais seguro, com cesáreas indicadas apenas em casos de risco, conforme OMS. Campo Grande ocupa a 5ª posição entre as capitais com maior índice de cesáreas (65,5%), acima da média nacional (61,6%). Profissionais de saúde buscam conscientizar gestantes sobre os benefícios do parto normal, mas a escolha pela cesárea, muitas vezes motivada pelo medo da dor, prevalece. Hipertensão, posição fetal inadequada e histórico de cesáreas são fatores que justificam parte dos procedimentos.
"A grande questão hoje é que a mulher, por medo de sentir dor no parto normal, opta pelo parto cesárea, às vezes sem saber que ela tem direito à analgesia em qualquer um dos dois", fala a enfermeira técnica em saúde da mulher na Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e uma das coordenadoras da Rede Alyne na Capital, Alecsandra Fernandes.
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Ela traz o exemplo do hospital da Capital, que atende somente pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), para comparar ao que seria ideal: a preferência pelo parto vaginal, ainda que a gestante queira a cirurgia.
Evidências científicas e o Ministério da Saúde chancelam o parto normal como a opção mais segura e benéfica à saúde das mães e seus filhos. As cesarianas são indicadas somente quando há risco de complicações ou de morte. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que a taxa das cirurgias não ultrapasse 15% em relação ao total de partos em um país.
Mas o Brasil está longe disso. A taxa nacional de cesárias foi de 61,6% no ano passado, segundo dados preliminares disponíveis no painel do Sisnac (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos) do Ministério da Saúde.
Em quinto lugar - Campo Grande é a 5ª capital com o maior índice de cesáreas, que está acima da taxa nacional. Divulgados nesta semana, os dados consolidados da Sesau apontam que 65,5% entre os 11.477 partos realizados em 2024 foram cirúrgicos.
Alecsandra afirma que pasta faz constantes visitas aos hospitais para reforçar aos profissionais de saúde qual o seu papel na conscientização das gestantes, seja durante o trabalho de parto ou o pré-natal.
"O grande gargalo de nós profissionais com a mulher, é não ferir os direitos dela ajudando a entenderem que não dá para marcar a data do nascimento. E a gente sabe que nos hospitais particulares tem uma outra questão, mas o foco é que essa prática não deve ser adotada. A luta para incentivar o parto normal é uma luta travada diariamente", finaliza.
O enfermeiro Bruno Holsback Uesato, do setor de estatísticas da Sesau e membro do Comitê Estadual de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal, cita entre os principais fatores que geram indicações reais de cesáreas na Capital são hipertensão e bebê em posição pélvica (sentado) ou transversa.
No entanto, frisa que as escolhas das gestantes são as maiores responsáveis pelo índice de 65,5%.
"Existem, no meio desse percentual, as doenças e situações que não permitem um parto vaginal seguro. Na realidade, temos um alto número justamente por conta das escolhas do tipo de parto", conclui.
Posição dos médicos e do hospital - Médica da diretoria da Sogmat Sul (Associação de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso do Sul), Vanessa Chaves afirma que a categoria reconhece o parto normal como a melhor opção, mas que isso tem entrado em confronto com os problemas de saúde enfrentados pela população atualmente.
A equipe médica é favorável ao parto normal, considerado sempre a melhor escolha. No entanto, vivemos uma realidade de extremos na saúde, o que tem aumentado as indicações de cesáreas.
Além disso, ela também menciona o medo da dor no trabalho de parto e acrescenta o receio das mães em haver "alterações no recém-nascido", com possíveis complicações.
As pacientes têm muito medo, o que leva a uma cultura cesarista em todos os segmentos da população. Tem-se tentado, por meio de um pré-natal elaborado, associado a campanhas de esclarecimento no setor público e privado, e à busca de métodos não farmacológicos para alívio da dor, aumentar os índices de parto normal.
A reportagem questionou se a direção do Humap tem orientado seus profissionais a atenderem as recomendações do Ministério da Saúde e da OMS para reduzir a quantidade de cesarianas, mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria.
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