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Capital

Na roda de estudantes, automutilação é assunto “banal”

Entre os estudantes, o compartilhamento de imagens dos ferimentos é comum

Guilherme Henri | 21/05/2018 11:55
Roda de adolescentes em frente a fast food na Afonso Pena (Foto: Guilherme Henri)
Roda de adolescentes em frente a fast food na Afonso Pena (Foto: Guilherme Henri)

Fotos de braços mutilados circulam entre celulares de adolescentes como se fossem piada. Na pequena roda formada em frente a um fast food na Afonso Pena, o assunto primeiro é tratado com gargalhadas seguido pela “estatística” que choca: “75% da minha sala de aula se corta”, diz estudante de 14 anos. Os depoimentos confirmam o dado empírico, afinal todos ali conhecem alguém próximo que se automutila, isso quando esse “alguém” é quem fala.

O tema é tratado com extrema naturalidade. Se tornou banal entre eles. Os adolescentes dão nomes e chegam a mostrar as fotos que recebem. Embora não as tenham disponibilizado, por "ética", nenhuma das imagens poderia ser divulgada pelo conteúdo que choca.

Os motivos para a atitude dos amigos é apontado rapidamente: depressão. Além disso, a intenção do ato é mais clara ainda para todos, “mascarar a dor emocional com a dor física”.

Na maioria dos casos relatados, o estudante passou a se cortar por problemas na família. Para isso, o objeto cortante mais próximo é a navalha. para fazer cortes nos pulsos ou em lugares do corpo mais fáceis de serem escondidos com roupas.

Fotos de auto-mutilações são compartilhadas entre adolescentes (Foto: Guilherme Henri)
Fotos de auto-mutilações são compartilhadas entre adolescentes (Foto: Guilherme Henri)

A única coisa que não fica clara é a atitude de se cortar e dividir com os amigos, o que em alguns casos mais parece modismo.

“Na minha sala 75% dos alunos se cortam. Minha amiga mesmo se corta. Ela diz que se sente sozinha. Vive dizendo que o pai não está nem aí para ela e que a mãe só pensa em sair. Aí, para ela não ficar pensando nisso acaba se cortando”, conta adolescente de 14 anos, estudante da Escola Estadual Joaquim Murtinho.

Além disso, a menina detalha, que a ação se torna corriqueira chegando a fugir do âmbito familiar e vira válvula de escape para qualquer problema. “Esses dias mesmo ela me disse que se cortou de novo porque tinha ficado muito nervosa”, revela a colega.

Na mesma roda, estudante de 16 anos da Escola estadual Maria Constança Barros Machado, afirma conhecer vários colegas se comportam da mesma maneira. Para provar, ele mostra da tela do celular as fotos que recebe dos amigos. Segundo ele, estes colegas usam tesoura, gilete, mas o objeto “preferido” de quem se corta são pequenos pedaços de navalha.

“É bizarro. Eu falo para os caras que isso é coisa de gente retardada. Tem que procurar ajuda e não se cortar”, afirma o menino.

A opinião parece ser compartilhada por todos que ali estão. Um dos meninos, que preferiu não se identificar, mas vestia uniforme da rede estadual de ensino, considera o comportamento de “gente com mente fraca”. “É uma besteira. Acho que tem gente que faz para chamar a atenção. Mas, tem casos que sabemos a barra que é”, comenta.

Debate e profissionais - Dados, depoimento de profissionais e medidas de órgãos públicos sobre o assunto são tratos no título "Não é moda": casos de adolescentes que se cortam crescem e assustam", confira aqui.

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