Nas ruas, quem garante a proteção se incomoda de ver gente sem máscara
“Tem que obrigar a usar. Se um se protege, por que o outro não vai? É uma questão de cuidado”, comentou uma vendedora

Cobrir o rosto de repente se impôs na rotina e ainda que as máscaras simbolizem vida e morte, o EPI (Equipamento de Proteção Individual) virou acessório e de tecido, pode ser encontrado nos tabuleiros de vendedores em todas as cores pelo centro de Campo Grande. Ainda assim, entre os rostos livres de pano e quem usa a máscara do jeito errado, quem garante a proteção se incomoda e acredita que o uso deveria ser obrigatório.
É o que já ocorre, por exemplo, no estado de São Paulo, por determinação do governo de João Dória (PSDB): uso obrigatório em qualquer local público. As máscaras, desde que o mundo descobriu que surgia um vírus novo na China, passaram de “mais atrapalham que ajudam” para "extremamente necessárias", um sinal de que a pandemia de Covid-19 de ainda é desconhecida e por isso, muito temida.

Agora, as máscaras de pano são incentivadas pelas autoridades de saúde, o uso já é obrigatório em Campo Grande para funcionários de repartições públicas e até uma fábrica improvisada de costura surgiu na incubadora municipal. As pesquisas indicam a eficácia, especialmente de acordo com tecido, troca de unidades a cada 2h e uso correto, sem tocar o tecido, manuseando apenas o elástico e cobrindo nariz e boca.
No centro de Campo Grande na manhã desta quarta-feira (13) muita gente ainda andava sem máscara e outros foram flagrados com o EPI deixando nariz ou boca à mostra, o que faz com que o objeto não alcance a eficácia.
Para a vendedora Suelen Cristina, 21, o uso deveria ser obrigatório.
“Se um se protege, por que o outro não vai? É uma questão de cuidado”, opina Suelen.
Ela disse sentir-se mais segura e disse ter lido que a contaminação diminui com o EPI. “Fico preocupada, vem muita gente sem máscara, tento manter a distância, me sinto incomodada”, disse.
Nelson Gomes da Silva, 51, tem trocado a rotina como motorista de aplicativos de transporte para vender as máscaras na rua e nada melhor do que usar o produto como propaganda para as vendas. Ele veio de São Paulo há 45 dias.

“Lá a coisa está séria, está matando mesmo, a sorte é que em Campo Grande não afetou como lá, mas se continuar assim pode chegar e ninguém está dando a devida atenção, senti uma redução na procura de máscaras para comprar. Acredito que deveria ser obrigatório, é um meio eficaz de proteção”, comenta.
“Me sinto fazendo o bem e salvando vidas. Acredito que a máscara salva vidas”, disse Nelson.
“Na rotina a todo momento uso máscara. Saio, já coloco, uso praticamente o dia inteiro”, alerta o comerciante.
Para ele, um dos indicativos de que a população ainda não entendeu o recado é a densidade de pessoas nas ruas do centro. Os filhos dele vivem em São Paulo e por isso Nelson busca se informar diariamente sobre a evolução do coronavírus no estado com mais mortes e casos do Brasil. “Sempre falam que está bem crítico”, conta.
A dona de casa Cristiane Vicente, 37, tem três filhos pequenos, de 11 meses, 2 anos e 4 anos e um adolescente, além do marido e por isso não deixa a máscara de lado. Mesmo com rinite, conta ela, sobre a alergia que provoca coceira no nariz no contato com o tecido.
“Uso porque acho que é importante, mas tenho rinite alérgica e o uso da máscara incomoda muito e é muito complicado para mim. Uso antialérgico, faço inalação e mesmo assim o medo do coronavírus é maior que a rinite”, destaca.
“Só saio de casa quando preciso muito”, conta a dona de casa Cristiane.
Ela diz, ainda assim, não ter opinião sólida sobre o uso compulsório. “Fico indecisa sobre ser obrigatório”, disse.
Há quem também arrisque posicionar a máscara no rosto em ambientes fechados e na rua, retire. É o caso da professora Tânia Lopes, 46. “Acho que é um papel social importante, tanto da prefeitura quanto do governo, estabelecer medidas de prevenção que são corretas. Me sinto segura, estava no mercadão e lá utilizei e no caminho retirei. Ia para outra loja e lá colocaria de novo”, avisou.
Para o operador de produção em um frigorífico, Adriel Araújo Saracho, 28, a máscara não é novidade e ele faz questão de utilizar mesmo na rua.
“Já estava adaptado ao uso por conta do meu trabalho”, relata Adriel.
“Onde uso é obrigatório, no serviço já tem que entrar de máscara, já se tornou habitual. É uma questão de costume, as pessoas começaram a ser orientadas agora, tem que desenvolver o costume”, aconselha.