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Capital

No deboche, "Capetinha" nega degola de vítima: "O que importa é o presente"

Sidnei Rerostuk e Éder Vieira são julgados pelo sequestro e morte de Sandro Lucas, em crime de 2019

Silvia Frias e Dayene Paz | 08/06/2022 10:08
Sidnei em uma das respostas ao juiz Aluizo Pereira: "Você tem que rebolar o queixo, bichão". (Foto: Marcos Maluf)
Sidnei em uma das respostas ao juiz Aluizo Pereira: "Você tem que rebolar o queixo, bichão". (Foto: Marcos Maluf)

Foi o deboche de Sidnei Jesus Rerostuk, 29 anos, o “Capetinha”, que chamou a atenção esta manhã, durante o julgamento dos réus pela morte de Sandro Lucas de Oliveira, em crime ocorrido em 2019. Respondendo ao juiz com frases como “meu passado é meu passado, o que importa é o presente” e “rebolar o queixo, bichão”, ele negou participação no homicídio.

Além de Sidnei, também está sendo julgado Éder de Barros Vieira, 39 anos, o “Mistério”, “Édão” ou “Deus da Guerra”. Segundo a denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), são executor e mandante, respectivamente, da morte de Sandro Lucas, o “Alemãozinho”.

 A investigação apurou que “Alemãozinho” foi julgado no “Tribunal do Crime” do PCC (Primeiro Comando da Capital) por estar vendendo droga da facção rival, o CV (Comando Vermelho), dizendo que seria de melhor qualidade. Foi decapitado e enterrado em uma fossa, em dezembro de 2019. Os restos mortais foram encontrados sete meses depois.

Antes do julgamento, o defensor público Rodrigo Antônio Stochiero Silva disse que a linha da defesa seria a de que os réus declaram inocência, com confissão angariada com base na tortura ou confissões de outros citados como envolvidos. “A prova não é totalmente direta, até pela dificuldade de testemunhas presenciais (...) vamos provar que não tem valor probatório”, disse.

Éder de Barros (esq) e Sidnei Restoruk (dir) são considerados mandante e executor do crime, respectivamente. (Foto: Marcos Maluf)
Éder de Barros (esq) e Sidnei Restoruk (dir) são considerados mandante e executor do crime, respectivamente. (Foto: Marcos Maluf)

Julgamento – No plenário, familiares dos réus e da vítima acompanham a sessão da 1ª Vara do Tribunal do Júri, mas ninguém quis falar com a imprensa. Os réus vieram escoltados do Presídio da Gameleira, a “Supermáxima”, prestaram depoimento e, depois, foram para a sala de vídeo do Fórum de Campo Grande.

Depois das testemunhas arroladas pela defesa, foi a vez dos réus responderem aos questionamentos o juiz Aluizio Pereira dos Santos.

Éder de Barros Vieira, o “Mistério”, negou participação. Disse que sua prisão e denúncia de participação está diretamente relacionada a um celular que comprou, de boa-fé, e que continha vídeos do “Tribunal do Crime” do PCC.

Éder nega crime, participação no PCC e alcunha de "Mistério". (Foto: Marcos Maluf)
Éder nega crime, participação no PCC e alcunha de "Mistério". (Foto: Marcos Maluf)

O réu disse que comprou o celular de um cliente de sua conveniência. “Tem um monte de gente que vai lá e me envolveram nisso, me colocaram nisso não sei o porquê”. Depois, confessou o crime sob tortura. “Quero ver quem não confessa no pau, na tortura, vou ter que fazer cirurgia no meu p*** de tanto pau que tomei”, disse. A frase final foi retirada dos autos, a pedido do juiz.

O homem também negou o apelido e qualquer ligação com PCC ou faccionados. “Fui reconhecendo [suspeitos] na base do pau”, reafirmou.

O depoimento seguinte foi o de Sidnei Rerostuk. Na sessão, se virou para a esposa na plateia e jogou beijo. Rindo e em tom de deboche, também negou envolvimento no crime. Questionado sobre ser o executor, respondeu: “Meu passado é meu passado, o que importa agora é meu presente”.

O juiz questionou se ele foi o autor das facadas contra a vítima. “Não concordo não”, retrucou. Ao responder sobre ser o condutor do carro que levou “Alemãozinho” para o cárcere, respondeu: “Veja bem, se o senhor puxar no sistema, nunca tive carro na vida e na moto não dá pra sequestrar ninguém”.

O réu também negou o apelido de “Capetinha”. Ao ser questionado se já havia fugido do sistema prisional, rebateu: “Mas o que tem a ver no caso, doutor?”

"Alemãozinho" foi decapitado e jogado em fossa, em 2019. (Foto: Arquivo)
"Alemãozinho" foi decapitado e jogado em fossa, em 2019. (Foto: Arquivo)

Sidnei criticou a cobertura do caso, dizendo que foi taxado como mostro pela imprensa. “Então, tá, tô dado como monstro”. Sobre ser faccionado do PCC, disse que teve que prestar contas na cadeia sobre a informação que consta na denúncia contra ele.

 “Tive que trocar ideia na cadeia dentro disso aí. Mídia publicou que sou faccionado, sou PCC. Lá dentro da cadeia, você tem que rebolar o queixo, bichão”, disse, respondendo ao juiz. “Se você tá falando uma coisa e você não é, eu tive que falar. Infelizmente, não sou, não faço parte de facção, nem tenho vontade de fazer”, concluiu.

Logo depois, o juiz deu intervalo e retomou minutos depois, quando defesa e acusação vão fazer a apresentação das teses aos jurados.

Ossada foi encontrada sete meses após crime. (Foto: Reprodução)
Ossada foi encontrada sete meses após crime. (Foto: Reprodução)

Crime e castigo - Segundo a investigação, Sandro Lucas foi morto por vender drogas do Comando Vermelho, e não do PCC, alegando serem de qualidade mais apurada.

Depois de ser atraído até a praça do Bairro Nova Campo Grande, no dia 8 de dezembro, à noite, Sandro foi levado num carro preto para casebre na Vila Bordon, ao lado de frigorífico da região. Lá, começou o julgamento. Em seguida, ele foi encaminhado para uma chácara abandonada no Parque dos Poderes, sendo torturado. O corpo foi abandonado em uma fossa.

Foi com a prisão de Sidnei Rerostuk que a polícia chegou ao corpo da vítima, em 28 de julho de 2020. Em áudio coletado pela DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), “Capetinha” teria confessado o crime e atribuído a ordem a “Mistério”.

Júri - Três acusados do crime já foram a julgamento em abril de 2022. Rafael Aquino de Queiroz, de 36 anos, o “Enigma”, Adson Vitor da Silva Farias, de 22 anos, o “Ladrão de Almas”, e Eliezer Nunes Romero, de 21 anos, o “Maldade”, foram absolvidos do crime de homicídio qualificado e ocultação de cadáver, mas foram condenados por integrar organização criminosa e cárcere privado.

Rafael Queiroz foi condenado a 5 anos de prisão e, os outros dois, a 4 anos e 6 meses de reclusão.

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