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Capital

Pais lamentam morte da filha Soffia e culpam hospital por negligência

Menina de 2 anos teria falecido devido a complicações causadas pelo procedimento de diálise

Natália Olliver | 06/07/2023 16:23
Tatiane Jarcem do Santos mostra foto da filha, Soffia, de 2 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Tatiane Jarcem do Santos mostra foto da filha, Soffia, de 2 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

Com olhos grudados na tela do celular, Tatiane Jarcem do Santos, de 39 anos, expressa a dor sentida pela perda da filha Soffia Maria Jacem Moura, de 2 anos e 3 meses, que faleceu nesta terça (4). Para a mãe, o motivo envolve complicações decorrentes de uma diálise. O procedimento foi feito no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande. Ela acusa a unidade de saúde de negligência médica.

De acordo com ela, Soffia tinha um quadro grave infeccioso no abdômen, ainda sem diagnóstico específico, mas o estado de saúde havia apresentado melhora significativa após um procedimento cirúrgico realizado no local. Ao Campo Grande News ela relata que a filha não passou por exames de imagem devido à falta do recurso na unidade de saúde.

“Médicos falaram que iam abrir, mas não fizeram ultrassom ou tomografia, nenhum exame de imagem. O médico falou que não tinha e virou as costas. No outro dia, ela ficou apática, fizeram reanimação nela. Fui orar no corredor. Então fizeram o procedimento cirúrgico. No CTI (Centro de Terapia Intensiva), foi uma luta contra a infecção. Ela estava entubada e sedada”.

Tatiane se ampara na fé para conseguir lidar com a falta da pequena Soffia. “Se o espírito santo não estivesse dentro de mim eu tinha morrido, caía junto com ela na cova, mas eu tenho outro filho de 9 anos, ele morreria também. Já entrei com processo contra o hospital e a médica”.

Mãe de Soffia se emociona ao lembrar da filha antes de falecer (Foto: Henrique Kawaminami)
Mãe de Soffia se emociona ao lembrar da filha antes de falecer (Foto: Henrique Kawaminami)

Acusação - Para a mãe, o procedimento de diálise - feito para ajudar os rins a removerem excesso de líquido do corpo - foi o que matou a menina. O problema começou quando, segundo Tatiane, os materiais usados estavam em falta no hospital.

“Faltava um fio específico para fazer. Eu falei que eu comprava, porque tinha condição de comprar e tirar ela de lá, mas tinha que esperar ela melhorar. Não tinha linhas para hemodiálise neonatal e capilar. Eu tentei achar em toda Campo Grande. Entrei na Defensoria Pública para conseguir uma transferência o item, eles me deram a liminar, mas chegou tarde”.

No domingo (2), o material chegou ao hospital e os médicos da área de nefrologia realizaram o procedimento, mesmo após um deles admitir que o hospital não era especializado e que só realizava o procedimento em adultos.

“O calibre do fio usado é de adulto, a codificação da máquina. Ele recusou fazer, mas a nefrologia disse que ia. Eles pediram pra eu me retirar da sala. A minha filha mexia os olhos e a mãozinha quando saí e quando voltei ela estava sem reação. Quando vi falei ‘mataram ela’, questionei a médica pra saber se após o procedimento fica assim. Meu coração já sabia”.

Pé da criança com dedinhos escuros, sinal de necrose (Foto: Arquivo pessoal)
Pé da criança com dedinhos escuros, sinal de necrose (Foto: Arquivo pessoal)

Tatiane conta que a médica ficou no telefone questionando de onde veio o equipamento e que a profissional justificou o resultado dizendo que Soffia já estava em estado grave. “Mataram ela em um procedimento inadequado. Ela não interveio. Pediram pra me retirar. Eles não sabiam o que fazer, começaram a se documentar lá dentro”, disse.

Hospitalização - Soffia passou a se sentir mal no final de junho e Tatiane levou a criança à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) mais próxima. Ela conta que a criança chegou a vomitar muitas vezes. O problema não era diagnosticado, por isso foi encaminhada ao Hospital Regional.

“Cheguei com ela no dia 21 de junho no HR, por volta das 14h, já me encaminharam pra ala vermelha. Ela estava muito mal da barriga, vomitando muito. Ela fez uma cirurgia, respondeu bem e depois, na quarta (28), falaram que iriam passar um cateter nela para ajudar a diálise, por causa dos ruins. A infecção foi sendo combatida, mas os dedos necrosaram as pontas”, disse.

Soffia ainda internada no Hospital Regional (Foto: Arquivo Pessoal)
Soffia ainda internada no Hospital Regional (Foto: Arquivo Pessoal)

De acordo com a mãe, Soffia tinha uma patologia quando nasceu, mas que isso não teria causado a morte. “Ela tem síndrome de Down, fez uma cirurgia de estenose, tinha uma patologia, mas sem comprometimento. Ela vomitou muito, isso causa um dano”.

Dor paterna - Rafael Henrique Moura, 37, também falou com a reportagem. Apático, ele comenta sobre como a filha era. “A melhor criança do mundo. Ela trazia alegria, era tudo pra gente. Uma coisa dessa acontecer foi uma tragédia. Por erro médico é ainda pior. Está sendo o fim. Vai um pedaço da gente junto. Esse é o pior processo”.

Rafael Henrique Moura, pai de Soffia, na loja da família, localizada no centro de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)
Rafael Henrique Moura, pai de Soffia, na loja da família, localizada no centro de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

Resposta - Ao Campo Grande News o hospital disse, em nota, que mesmo não sendo referência em nefrologia pediátrica, ofereceu toda a assistência necessária à paciente durante a internação e a família foi devidamente informada quanto à evolução do caso.

A reportagem também falou com o diretor-geral do hospital, Paulo Limberger, que se limitou a dizer que não pode comentar sobre o caso por questão de sigilo médico. Mas que, caso a mãe tenha qualquer dúvida, pode procurar o hospital ou canais de ouvidoria.

O Campo grande News questionou o hospital sobre as questões levantadas pela mãe, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

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