Para festejar o aniversário, Capital precisa avançar no combate à desigualdade
Falta de vagas em creches e muitos alunos por docentes revelam contraste social entre bairros de Campo Grande
Campo Grande avança em indicadores de alfabetização e saneamento, mas ainda enfrenta um desafio significativo: a desigualdade. Dados oficiais e relatos de moradores mostram que a comemoração, embora marcada por progressos, também serve para expor as lacunas em áreas essenciais como educação infantil, saúde e acesso a serviços públicos.
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Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, completa mais um ano apresentando avanços em indicadores como alfabetização e saneamento básico, mas ainda enfrenta desafios significativos relacionados à desigualdade social. A cidade ocupa a 11ª posição entre as capitais brasileiras em alfabetização, com taxa de 2,73% de analfabetismo. A disparidade é evidente em diversos setores: na educação infantil, algumas escolas registram 35 alunos por professor, enquanto outras têm apenas três. No saneamento, apesar da cobertura de 94% da rede de esgoto, bairros populosos ainda apresentam áreas descobertas. Na saúde, moradores de regiões periféricas relatam dificuldades no acesso a medicamentos e atendimento especializado.
A desigualdade no acesso à educação infantil é um dos contrastes mais visíveis. Segundo dados do Censo Escolar de 2022, a proporção de alunos por professor em creches varia drasticamente. Enquanto o CEI (Centro de Educação Infantil) José Eduardo Martins Jallad, o "Zedu", no Parque dos Poderes, registra uma média de 3,3 alunos por docente, a EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Maria Carlota Tibau de Vasconcelos, no Jardim Paulo Coelho Machado, atinge a marca de 35,7 alunos para cada professor.
O cenário é especialmente difícil para pais como Marvin Willian Sena Alves, morador da comunidade Nova Esperança (antiga Homex, no Jardim Centro-Oeste), que relata a falta de vagas para os filhos: “Os dois menores já tem um ano que não sai vaga, já fomos três vezes à Secretaria de Educação e não tem vaga", conta ele, que tem filhos de 12, sete, quatro e dois anos.
No quesito alfabetização, Campo Grande se destaca, ocupando a 11ª posição entre as capitais brasileiras, com uma taxa de 2,73% de analfabetismo entre pessoas de cinco anos ou mais. O índice é melhor que o de capitais do Norte e Nordeste, mas ainda fica atrás de cidades do Sul e Sudeste.
A desigualdade é nítida entre diferentes grupos, com taxas mais elevadas entre pretos e pardos (2,61%) em comparação com brancos (2,16%). Entre idosos com mais de 60 anos, o analfabetismo chega a 10,71%, um número que se acentua para 11,08% entre pretos e pardos.
O saneamento básico é outro ponto de contraste. Apesar de a cidade se aproximar da universalização do esgoto, com 94% de cobertura, a distribuição do serviço não é equitativa. Bairros populosos como o Nova Lima, Los Angeles e Moreninhas ainda apresentam bolsões de baixa cobertura.
Marvin Willian também vivencia essa realidade, conforme seu relato: "Na nossa comunidade tem sumidouros, mas é complicado, né, quando vem a chuva, transbordam as fossas". Na mesma comunidade, Antônio Pereira Nantes, de 49 anos, diz que, quando chove, "aqui alaga tudo, vira um rio. Quando chove, nós sai (sic), quando seca nós voltamos, não tem onde ficar”, descreve.
Com problemas de saúde que o impedem de trabalhar, Antônio aguarda há quatro anos por um atendimento médico especializado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e sobrevive de doações. “É doação, é doação. Eu vivo de doação. Quando veio aqui, a última vez que veio trazer doação pra mim foi a Assistência Social.”
Apesar da ampla cobertura de água potável, o documento do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) aponta que 2,85% dos domicílios ainda não possuem ligação com a rede, recorrendo a poços artesianos ou até mesmo a água da chuva. As perdas na distribuição de água, que chegam a quase 20%, também contribuem para a ineficiência do serviço, afetando, principalmente, as famílias mais vulneráveis.
Saúde - A falta de acesso à saúde também atinge a população de baixa renda de maneira direta. Thais Cristina de Souza, dona de casa com cinco filhos e que mora no mesmo bairro, reclama da ausência de medicamentos nos postos de saúde. “Por exemplo, não tem antibiótico que é caro, que deveria ter. Você vai lá e acha dipirona”, relata ela, expondo a precariedade dos estoques e a necessidade de recorrer a doações para conseguir o básico.
Segundo ela, o cenário de desigualdade também é sentido na busca por programas sociais. Thais Cristina relata que teve o Bolsa Família bloqueado por não ter um comprovante de residência. “Eu tive o Bolsa Família, só que ele bloqueou por conta que eu tava sem endereço e vim pra cá e aqui não tem ainda a localização fixa”, diz ela.
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