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Capital

Para mães com uma "escadinha de filhos", hoje falta tempo até para sonhar

No Noroeste, Adriely pede doação e puxa a fila das mães que têm a data ofuscada pela necessidade de sobreviver

Caroline Maldonado | 08/05/2022 07:41
 Adriely Ferreira Fim, de 27 anos, e os quatro filhos no quintal e casa, no bairro Jardim Noroeste (Foto: Henrique Kawaminami)
 Adriely Ferreira Fim, de 27 anos, e os quatro filhos no quintal e casa, no bairro Jardim Noroeste (Foto: Henrique Kawaminami)

Quando os filhos ainda são crianças, o presente de Dia das Mães é preparado pelo pai, às vezes pela escola ou por algum parente. Tudo é para ver o sorriso no rosto dela: a mãe, que, antes de tudo, é uma mulher como qualquer outra, se esforçando para dar o melhor aos filhos. Na casa de quem é muito pobre, é diferente! A falta de dinheiro tira o brilho desse dia.

As histórias são diversas, mas todas elas falam em sonhos, como comprar uma casa e estudar. Algumas, tão conformadas com a rotina de quem tem que escolher entre ir atrás do dinheiro ou cuidar das crianças, querem só condições para fazer um bom almoço em família.

Em uma casa no bairro Jardim Noroeste, grávida do quinto filho, Adriely Ferreira Fim, de 27 anos, mora de aluguel. Ela pede ajuda e conta que a gravidez é de risco, depois de quatro cirurgias cesarianas.

O marido dela morreu há anos, quando eles já tinham três filhos. O pai do filho mais novo e do bebê que vem aí “sumiu”, nas palavras dela, que ainda não conseguiu tempo livre para buscar os direitos dos filhos na Justiça.

“A gente até desanima de ir atrás. O que o pai fez, eu não teria coragem de fazer. Aconteça o que acontecer, vou estar com meus filhos. Só peço que alguém me ajude, porque não tenho nenhuma roupinha, nada mesmo. Não tem como eu trabalhar agora, então pago aluguel com benefícios do governo e busco ajuda”, diz Adriely.

Adriely mostra a geladeria de casa com pouquíssimos alimentos (Foto: Henrique Kawaminami)
Adriely mostra a geladeria de casa com pouquíssimos alimentos (Foto: Henrique Kawaminami)

No mesmo bairro, a irmã dela, Daiane Ferreira Fim, de 31 anos, usa o mesmo termo para se referir ao pai do último de seus quatro filhos. Sumiu.

“Se o pai ajudasse, tudo seria diferente. Meu sonho é ter uma casa, eu queria batalhar para poder ter, mas eu não tenho como trabalhar”, lamenta Daiane.

Daiane Ferreira Fim, de 31 anos, e o filho (Foto: Henrique Kawaminami)
Daiane Ferreira Fim, de 31 anos, e o filho (Foto: Henrique Kawaminami)

Sem tempo de sonhar 

O pai presente faz toda a diferença, mas, ainda assim, não é fácil a realidade das mães que nem tiveram tempo de sonhar e engravidaram cedo demais.

“Eu gostaria de estudar, fazer algum curso na área da beleza, ter minha casa. Mas é hoje que penso nisso, porque engravidei com 18 anos, nem deu tempo de pensar nisso lá atrás. Já trabalhei em restaurante, como diarista, mas agora preciso ficar em casa para cuidar do neném até completar 6 meses para por na creche”, comenta Roberta Rodrigues dos Santos, de 32 anos.

Roberta Rodrigues dos Santos, de 32 anos, e o filho (Foto: Henrique Kawaminami)
Roberta Rodrigues dos Santos, de 32 anos, e o filho (Foto: Henrique Kawaminami)

O marido e ela conseguiram um terreno por meio de programa de habitação do governo, mas não conseguiram construir uma casa de alvenaria. Eles ergueram um barraco de madeira. Ele trabalha e ela fica em casa cuidando dos filhos, um com 2 anos e outro com 3 meses.

O filho mais velho mora com o pai. Ela achou melhor, porque considera o bairro "perigoso" para o adolescente viver, mas sonha em viver junto com o filho quando ele tiver mais idade.

Outro barraco, mais uma história sobre maternidade, que surpreende. Eliete Rodrigues da Silva, hoje com 19 anos, teve o primeiro filho com 13 anos. Hoje, são três crianças, que ela cuida junto com o marido. Ele faz bico, como servente de pedreiro. Ela conta que não se arrepende de nada, porque os filhos trazem alegria para o dia a dia e já ajudaram a enfrentar a depressão.

“Tem dias que é bem cansativo, mas é muito amor, muito carinho. Eles me dão ânimo para continuar, porque a situação financeira é muito difícil. Tem dias em que dá vontade de desistir, mas eles me ajudam. Meu sonho é ter dinheiro para dar as coisas para eles, às vezes tenho vontade de fazer um almoço bom com bastante coisa, mas não dá”, diz Eliete.

 Eliete Rodrigues da Silva, de 19 anos, e os três filhos (Foto: Henrique Kawaminami)
 Eliete Rodrigues da Silva, de 19 anos, e os três filhos (Foto: Henrique Kawaminami)

Para ajudar - Sem medir esforços para conseguir roupas e tudo o que a filha vai precisar ao nascer, a Adriely ligou para redação do Campo Grande News pedindo que o jornal contasse a história dela. O telefone para quem quiser ajudar com doações é o (67) 9 9243-2359.

O telefone da irmã dela, Daiane, é o (67) 9 9280-0249. O telefone da Roberta é o (67) 9 9338-3164. A Eliete atende no (67) 9 9343-3271. Elas recebem benefícios sociais, mas o dinheiro não é suficiente para todas as despesas.

Assistência social - Quem precisa de benefícios sociais deve se inscrever no CADÚnico (Cadastro Único). Para se cadastrar é preciso procurar a SAS (Secretária de Assistência Social) ou o Cras (Centro de Referência em Assistência Social) da região em que mora.

É preciso levar documentos pessoais originais, como RG, CPF, Título de Eleitor, Carteira de Trabalho e Certidão de Nascimento ou de Casamento, de todas as pessoas que moram na casa e uma conta de energia da residência.

A SAS informa que trabalha com famílias em situação de vulnerabilidade social por meio de programas, serviços e benefícios socioassistenciais. As equipes desenvolvem ações também no Centros de Convivência e Centros de Convivência do Idoso.

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