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Para quem usa posto de saúde, greve de médicos piora o que já é ruim

Médicos da rede municipal de saúde param atividades nesta segunda-feira

Osvaldo Júnior e Anahi Gurgel | 25/06/2017 18:03
Maria Soler, com o neto de dois anos; só um remédio dos seis da receita (Foto: Anahi Gurgel)
Maria Soler, com o neto de dois anos; só um remédio dos seis da receita (Foto: Anahi Gurgel)

Na receita, havia seis remédios, mas a diarista Maria Soler, 56 anos, conseguiu apenas um: Dipirona. Ela, que passou parte da tarde deste domingo (25), na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, na Capital, terá de comprar os demais medicamentos, caso queira que o neto, de dois anos, recupere-se de infecção na garganta.

Maria Soler e outras pessoas, que estiveram na unidade de saúde, na véspera do início da greve dos médicos, partilham o mesmo sentimento: a situação, já crítica, vai agravar ainda mais. “Meus parentes achavam que a greve começava hoje e falaram que minha viagem até aqui seria perdida”, contou.

Ela mostrou a receita com seis remédios, dos quais apenas o medicamento Dipirona tinha no posto. “Se já está assim, acho que vai ficar pior ainda”, opinou. “Mas como a gente depende da saúde pública, tem que ter paciência”, acrescentou, tentando consolar a si mesma.

Ao lado da mãe de 91 anos, que apresentava problemas no estômago, a funcionária administrativa Maria José de Souza Acosta, tem expectativa semelhante à de Maria Soler. “Isso deixa a gente preocupada”, afirmou.

Maria José contou que aguardou o atendimento por mais de hora. “Só depois que fui lá reclamar que eles resolveram atender minha mãe”, queixou-se.

Quanto à greve, ela não considera incorreta a decisão dos médicos. “Até entendo o lado deles, mas quem sempre sai prejudicado com isso é o povo”, comentou.

O capataz de fazenda Claudinei Santos Muniz, 39 anos, que tem usado com mais frequência a rede de saúde pública depois de uma queda de cavalo, concorda com Maria José. “É sempre a população que sente mais com isso tupo”.

Claudinei, que fraturou a coluna e, por pouco, não sofreu consequências mais sérias com o acidente, precisará, por algum tempo, usar cadeira de rodas.

O irmão dele também observa diversos problemas estruturais na saúde pública, mas não critica os médicos por deflagrarem greve. “Eles têm uma grande responsabilidade, porque lidam com a vida das pessoas. Deveriam, sim, ganhar bem. Profissionais de duas áreas devem ser bem remunerados: os da saúde e os da educação”, comentou.

"Muito pessoal" – Na manhã deste domingo, o prefeito Marquinhos Trad criticou a decisão de greve, que seria “muito pessoal”. Foi uma decisão muito pessoal. Eu não agiria desta maneira, pois estamos em um estado democrático de direito. Deveriam ter entrado com recurso para desconstituir a decisão do magistrado e jamais afrontá-lo”, comentou o prefeito ao ser questionado sobre o assunto durante agenda no Bairro Estrela do Sul.

O prefeito se referia, embora sem citar o nome, ao presidente do Sinmed/MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Flávio Freitas Barbosa. No sábado, depois de três horas de reunião na prefeitura sem chegar a acordo, Barbosa foi enfático: "A greve está 100% garantida”.

Os médicos, sem aumento há três anos e meio, reivindicam reajuste de 27,5%. De acordo com a categoria, a variação corresponde à correção da inflação acumulada no período. No detalhamento dessa proposta, a categoria considerou a inflação de 22,94% de 1º de maio de 2014 a 29 de fevereiro deste ano, mais a inflação prevista para 2017, que é 4,15%.

Trad afirmou que tentou negociar com os médicos, mas eles estariam "irredutíveis”. Também disse que o município não tem condições de considerar o acumulado no cálculo do reajuste.

“Tentei negociar, mas eles estão irredutíveis. Querem que a gente pague o reajuste de três anos e seis meses. Não tem como conceder. Se fizermos isso, o município não consegue pagar o salário deles”, alegou.

Justiça – A decisão judicial, que barrou a greve, foi comunicada na noite de sexta-feira (23). Uma das ilegalidades apontadas pela PGM (Procuradoria Geral do Município) foi de que não foram esgotadas todas as negociações entre médicos e a prefeitura. Além disso, os salários dos profissionais estão em dia.

Caso a decisão não seja cumprida, ficou estipulada multa diária de R$ 10 mil, que terão de sair do patrimônio pessoal do presidente do Sinmed e não dos cofres do sindicato.

Claudinei tem usado mais a saúde pública; em pé, o irmão dele, Ângelo (Foto: Anahi Gurgel)
Claudinei tem usado mais a saúde pública; em pé, o irmão dele, Ângelo (Foto: Anahi Gurgel)
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