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Sem psiquiatras nos CAPS, risco de erro em diagnóstico cresce, diz especialista

Prefeitura afirma que segue protocolo previsto pelo Ministério da Saúde com "equipes qualificadas"

Por Ana Paula Chuva | 16/10/2025 13:29
Sem psiquiatras nos CAPS, risco de erro em diagnóstico cresce, diz especialista
Entrada de um dos CAPS de Campo Grande (Foto: Paulo Francis | Arquivo Campo Grande News)

A ausência de psiquiatras nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) de Campo Grande tem gerado preocupação entre profissionais da saúde mental. O impacto da falta desses especialistas é grande e pode comprometer o diagnóstico e os tratamentos adequados para pacientes com transtornos mentais. O protocolo do Ministério da Saúde permite que o atendimento seja feito por clínicos gerais.

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A falta de psiquiatras nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Campo Grande tem causado preocupação entre profissionais da saúde mental. Segundo especialistas, a ausência desses profissionais compromete diagnósticos e tratamentos adequados, mesmo com o protocolo do Ministério da Saúde permitindo atendimento por clínicos gerais. O problema é agravado pela escassez de medicamentos básicos para tratamento de doenças mentais. Especialistas sugerem parcerias com a Associação Sul-Mato-Grossense de Psiquiatria e melhores condições de trabalho como soluções, já que não há falta de psiquiatras na cidade, apenas de incentivos para atuação nos CAPS.

Ao Campo Grande News, o psiquiatra e 2º tesoureiro do CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul), Kleber Francisco Meneghel Vargas, explicou que o profissional precisa ter conhecimento profundo de psicofarmacologia e experiência clínica para distinguir quadros que apresentem sintomas semelhantes.

“O psiquiatra é o profissional que tem a expertise para tratar, dentro da medicina, pacientes com algum tipo de doença mental. O diagnóstico, muitas vezes, é difícil de ser feito, e a conduta terapêutica é complexa, não se limita apenas à medicação. Na psiquiatria, não existem sintomas patognomônicos, ou seja, exclusivos de uma doença específica. Uma alucinação auditiva, por exemplo, pode indicar esquizofrenia, síndrome cerebral aguda, depressão psicótica ou até uma psicose induzida por drogas”, detalha.

O especialista compara a ausência de psiquiatras nos CAPS à falta de cardiologistas em um centro de cardiologia. “É estranho imaginar um centro especializado sem o profissional que dá o diagnóstico e conduz o tratamento. O mesmo vale para um CAPS sem psiquiatra. Isso aumenta muito o risco de erros diagnósticos e de condutas equivocadas, podendo levar a situações graves, como casos de suicídio evitáveis”, alerta.

Além da falta de especialistas nos centros, o psiquiatra destaca que os pacientes ainda precisam lidar com a escassez de medicamentos básicos utilizados no tratamento de doenças mentais. “Faltam antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e antipsicóticos. Sem esses remédios, é praticamente impossível garantir um tratamento adequado para casos moderados e graves”, afirma.

Kleber sugere que o poder público busque parceria com a Associação Sul-Mato-Grossense de Psiquiatria e adote medidas para a atuação, já que não há falta de psiquiatras para fazer esse atendimento. “O que existe é falta de incentivo para que esses especialistas que já estão na cidade atuem nos CAPS. Melhorar as condições de trabalho e os honorários pode aumentar o interesse e garantir um atendimento mais seguro e eficiente para os pacientes”, conclui.

À reportagem, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que conta com equipes qualificadas para atender pessoas em sofrimento mental ou que necessitam de acompanhamento contínuo e afirmou que os serviços seguem as diretrizes do Ministério da Saúde.

“Garantimos acolhimento humanizado e oferecemos acompanhamento médico adequado a cada caso. O atendimento é realizado por profissionais com experiência na área da saúde mental, sob supervisão de especialistas, assegurando que todos os pacientes recebam cuidado técnico e ético conforme suas necessidades”, disse a pasta em nota.

"Ciclo sem fim" – No último dia 9 de outubro, familiares de um rapaz de 23 anos compartilharam com o Campo Grande News a dificuldade no tratamento do jovem que tentou tirar a própria vida. O caso aconteceu no Bairro Jardim Tarumã.

Segundo a família, em fevereiro deste ano, o rapaz teve o primeiro surto durante o período em que servia ao Exército. Ele passou por diversas internações, mas sem receber acompanhamento, já que o psiquiatra só atendia o jovem em momentos de surto e não havia profissional nos CAPS para acompanhamento.

Procure ajuda — Em Campo Grande, o GAV (Grupo Amor Vida) presta apoio emocional gratuito a pessoas em crise por meio de atendimento telefônico pelo número 0800 750 5554. Vítimas de depressão e demais transtornos psicológicos podem buscar ajuda no Núcleo de Saúde Mental, nos CAPS ou pelos telefones 141 e 188 do CVV (Centro de Valorização da Vida), 190 da Polícia Militar (PM) e 193 do Corpo de Bombeiros, que ajudam pacientes a romper o silêncio.