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Cidades

Com gestantes entre infectados, casos de sífilis crescem em Campo Grande

Acadêmicos em estágio em UBS observaram o grande número de mulheres grávidas infectadas por sífilis e organizaram ação de orientação e testes à comunidade

Tatiana Marin | 04/12/2018 10:10
Ação aconteceu no salão da Paróquia São Pedro Apóstolo(Foto:  Kisie Ainoã)
Ação aconteceu no salão da Paróquia São Pedro Apóstolo(Foto: Kisie Ainoã)

Campo Grande passa por um surto assustador de sífilis. O número de casos da doença explodiu nos últimos anos e, o mais alarmante, é que dados experimentais mostram que as gestantes fazem parte de um dos grupos mais afetados. Com essa percepção, acadêmicos da Uniderp em estágio e equipe da UBS (Unidade Básica de Saúde) Coronel Antonino encabeçaram uma ação com o objetivo de levar informações e testes rápidos à população.

Segundo a acadêmica Cinira De Melo Pereira, uma das organizadoras da ação “Gerar Saúde” que aconteceu nesta segunda-feira (3) no salão da Paróquia São Pedro Apóstolo, foi observado que cerca de 30% das gestantes que deram entrada na unidade de saúde nos últimos meses estavam infectadas com a doença.

Cinira, uma das acadêmicas que organizou a ação, afirma que os estagiários perceberam o grande número de gestantes infectadas. (Foto: Kísie Ainoã)
Cinira, uma das acadêmicas que organizou a ação, afirma que os estagiários perceberam o grande número de gestantes infectadas. (Foto: Kísie Ainoã)

Na maioria das vezes é o pré-natal que as leva a descobrirem que são portadoras da sífilis. “Normalmente elas ficam sabendo que têm sífilis porque precisam passar pelo teste rápido de DSTs para o pré-natal, porque é preconizado pelo Ministério da Saúde”, afirma Cinira.

Segundo João Emerson Barbosa dos Santos, enfermeiro da unidade de saúde e preceptor dos estagiários, a sífilis é silenciosa - o vírus da doença pode ficar no organismo por até 20 anos, sem se manifestar.

Ainda, alguns sintomas podem ser brandos, como pequenas feridas aparecem no corpo ou órgão genital e podem ser curadas rapidamente pelo próprio organismo. Se a sífilis não for tratada em sua fase inicial, a doença pode transpassar a placenta e causar sequelas graves para o feto, como cegueira, e até causar aborto.

“Muitas vezes, a pessoa só percebe quando a doença já está bem avançada. Na gestante, a sífilis atravessa a placenta e ataca o feto”, explica João. O maior problema é a resistência das mulheres grávidas ao tratamento e em informar os parceiros.

Segundo João, enfermeiro da UBS, as gestantes tem resistência ao tratamento e a voltar com os parceiros para o tratamento. (Foto: Kísie Ainoã)
Segundo João, enfermeiro da UBS, as gestantes tem resistência ao tratamento e a voltar com os parceiros para o tratamento. (Foto: Kísie Ainoã)

“A gestante faz o pré natal, faz a primeira consulta, ela recebe a medicação, mas não retorna e não traz parceiro. E o risco é para o bebê. Ela não avisa o parceiro, que pode até reinfectar ela”, alerta o enfermeiro.

A ação de orientação à população próxima à UBS Coronel Antonino foi resultado de um questionamento de João aos estagiários. “Perguntei para os acadêmicos o que eles achavam que era mais preocupante nesse tempo que eles estão em estágio. Eles perceberam e chegaram à conclusão que a sífilis era preocupante”, esclarece.

Sífilis em Campo Grande

Desde 2017 Campo Grande experimenta uma explosão no número de casos de sífilis. Entretanto a quantidade de pessoas infectadas vem crescendo desde 2007, o primeiro ano da série em que a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) acompanha as notificações de casos.

Conforme os números (consulte o gráfico abaixo), a incidência foi crescente de 2007 até 2011 e se manteve relativamente estável entre 2013 até 2016, com 528 casos em média por ano. Porém em 2017 as estatísticas apontam um aumento de 183,2%. Os dados parciais de 2018 somam 2005 pessoas infectadas com sífilis.

A incidência foi crescente de 2007 até 2011 e se manteve relativamente estável entre 2013 até 2016, com 528 casos em média por ano (Gráfico / reprodução)
A incidência foi crescente de 2007 até 2011 e se manteve relativamente estável entre 2013 até 2016, com 528 casos em média por ano (Gráfico / reprodução)

De acordo com a Sesau, o aumento considerável nos casos diagnosticados a partir de 2017 são reflexo da descentralização dos locais de testagem, que passaram de dois para 68 unidades básicas de saúde (UBS/UBSF). A oferta dos testes mais próxima às residências pode ter contribuído com o aumento nos números. Entretanto, o mesmo fenômeno não se repete com as hepatites do tipo B e C, que são testadas juntamente com HIV e sífilis.

Ação “Gerar Saúde

Além de testes rápidos de DSTs, a ação intitulada “Gerar Saúde” realizada pelos acadêmicos da Uniderp e a equipe da UBS Coronel Antonino também oferece aferição de pressão e glicemia e orientações de saúde. O principal alvo da iniciativa é conscientizar a população feminina sobre a importância da realização do pré-natal.

Os testes identificam problemas de saúde que a gestante pode estar passando. “Se alguma doença for encontrada, é possível realizar o tratamento e evitar prejuízo à vida dessa mulher. Além da gestante, o pré-natal também auxilia na detecção de malformações do feto e, dependendo do problema e da fase da gravidez, pode haver tratamento que proporcionará ao recém-nascido uma vida normal”, explicou a coordenadora do estágio professora enfermeira Janaina Paes de Souza.

A gestante Franciele, à esquerda, foi convidada pela agente comunitária de saúde Anelise, à direita. (Foto: Kísie Ainoã)
A gestante Franciele, à esquerda, foi convidada pela agente comunitária de saúde Anelise, à direita. (Foto: Kísie Ainoã)

Além da orientação e testes rápidos, também foram ofertados outros serviços como cortes de cabelo masculino, manicure e pedicure e fotografia para gestantes.

A dona de casa Franciele Pereira de Souza, de 20 anos, grávida de 6 meses, participou da ação a convite da agente comunitária de saúde Anelise Joana Durks Menezes. A gestante reconhece a importância do pré-natal e dos serviços ofertados através da ação. “É importante porque às vezes as mulheres grávidas ficam acanhadas de ir no posto, pode vir aqui fazer os exames”, afirma.

De acordo com a Uniderp, as ações se repetirão no próximo ano com as próximas turmas de estágio do curso de Enfermagem.

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