“Ele bebia e ficava louco”, relata mulher sobre ex, morto pelo filho do casal
Mãe conta que saiu de casa com filhos em janeiro para que pior não acontecesse, mas não conseguiu evitar

“Não vou dizer que ele é um monstro. Tivemos momentos bons. Só que ele bebia, ficava louco”. O relato é de uma mulher, de 33 anos, que viveu mais de 20 anos o ciclo da violência doméstica e viu, na noite de quinta-feira (20), o filho, de 16 anos, pôr fim à tragédia familiar da pior maneira possível: atirando na cabeça do próprio pai. A mãe do adolescente conta que ninguém mais aguentava mais agressões e ameaças feitas pelo homem, com quem se casou aos 12 para fugir da casa onde era abusada sexualmente.
O casal estava separado desde janeiro. A mãe foi morar com os filhos na casa do pai dela, mas o ex-marido não aceitava o fim do relacionamento e procurava a mulher diariamente, sempre desrespeitando medida protetiva.
A última vez foi na quinta-feira passada, quando o pai chegou à casa da ex e colocou o filho mais novo no carro. Impedido pelo mais velho de levar a criança embora, o homem fez menção que pegaria uma arma na cintura, mas foi “parado” pelo adolescente, que havia pegado arma que pertenceu ao bisavô, e atirou contra o pai.
O homem morreu aos 48 anos dois dias depois de levar o tiro, no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, em Três Lagoas.
A mãe, em entrevista ao vivo para o site Perfil News, narrou, nesta terça-feira (25), os anos de horror que viveu ao lado do homem que lhe prometeu proteção. Ele conta que começou a apanhar do companheiro ainda na adolescência. O marido, muito ciumento, encontrava motivos em tudo para espancar a jovem.
Certa vez, ela se lembra, ele a agrediu com um cabo de vassoura nas costas. Grávida aos 14 anos, ela perdeu o bebê. Mas, mesmo vivendo o inferno, insistiu no casamento. “Eu achava com ele era melhor que estar na minha casa”.
Aos 17 anos, ela teve o primeiro filho do casal, o adolescente que acabou matando o pai. O nascimento do garoto também foi desculpa para espancá-la. “Achava que o filho não era dele e me batia”.
Nas idas e vindas do relacionamento, a mulher relata que só teve paz quando o marido ficou muito doente e parou de beber.

Nos últimos tempos, após mais uma separação, as intimidações chegaram ao ponto, relata a vítima de violência doméstica, do homem enviar matéria jornalística sobre feminicídio e dizer: “por causa de mulheres como você que coisas assim acontecem”. “Para ele, todo mundo era meu amante”.
Além disso, o homem passou a direcionar ameaças ao próprio filho. “Por último, ficou insustentável. Falava que ia me matar, matar todo mundo, que eu estava criando um vagabundo”.
Nessa segunda-feira (24), o adolescente, que fugiu na noite do ocorrido, se apresentou à polícia e contou sua versão. Ele foi ouvido e liberado.
A mãe não sabe como lidar com a culpa e sofrimento. "Eu tinha saído de casa para que o pior não acontecesse".
Os nomes do pai e da mulher não serão divulgados para preservar o nome do adolescente, conforme preconiza o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).