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Filha rompe silêncio e apoia vítimas após descobrir padrão de abusos do pai

Preso na terça-feira, Aparecido Alves é suspeito de estuprar três vizinhas em assentamento de Terenos

Por Bruna Marques | 13/11/2025 14:57
Filha rompe silêncio e apoia vítimas após descobrir padrão de abusos do pai
Aparecido Alves Carvalho, acusado de abusar sexualmente de três vizinhas (Foto: Divulgação)

A prisão de Aparecido Alves Carvalho, acusado de abusar sexualmente de três irmãs em um assentamento de Terenos, a 30 quilômetros de Campo Grande, abriu espaço para uma narrativa marcada por silêncios, rupturas e revelações que só vieram à tona décadas depois. Ele foi preso na terça-feira (11), na antiga casa onde morou com a família, no Parque do Lageado, na Capital, depois que moradores confirmaram que havia retornado ao imóvel.

RESUMO

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A prisão de Aparecido Alves Carvalho, acusado de abusar sexualmente de três irmãs em Terenos, revelou um padrão de violência que se estende por décadas. Detido na terça-feira (11), ele foi condenado a 16 anos de prisão após depoimentos coerentes das vítimas, que sofreram abusos entre 2009 e 2018. A família do acusado enfrentou rupturas, com parte defendendo as vítimas e outra negando as acusações. A filha de Aparecido, que não foi vítima, descobriu que outras meninas também sofreram abusos, incluindo uma criança criada na família há 32 anos. O caso ganhou força após ameaças e ofertas de dinheiro serem relatadas. O STJ manteve a condenação, destacando a consistência dos depoimentos. A prisão encerrou um longo processo marcado por silêncios e revelações tardias.

A filha, que prefere não ser identificada, afirma que nunca foi vítima do pai. Mesmo assim, descobriu que outra criança que conviveu com a família havia sido violentada muitos anos antes. A revelação surgiu durante uma ligação, quando a mãe dessa menina contou que a filha havia sido estuprada dentro da casa em que moravam. Para ela, aquele telefonema soou como o primeiro alerta de que a história poderia ser mais antiga e profunda do que imaginava.

Para organizar tudo o que viveu e ouviu, ela volta a 2009. Naquele ano, o pai decidiu se mudar para o assentamento em busca de uma área para trabalhar, enquanto ela e os irmãos permaneceram em Campo Grande. Na propriedade rural, ele criou laços com a família das três meninas que, anos mais tarde, o denunciariam. Em 2018, começaram a circular boatos de que ele estaria se envolvendo com as irmãs, todas menores. “A gente alertou que aquilo era sério”, lembra.

A situação mudou de vez em 2021, quando a família de Aparecido recebeu uma intimação judicial. O oficial informou que existia um boletim de ocorrência e um processo em andamento. “A imagem paterna desmoronou ali mesmo”, conta. A notícia provocou uma ruptura familiar imediata. Ela, a mãe e um dos irmãos passaram a defender as meninas. O irmão mais velho insistiu que tudo era mentira.

Incomodada com a dúvida e com a resistência dentro da própria família, a filha procurou diretamente as vítimas. Ouviu delas quais haviam sido abusadas e quais ameaças teriam sofrido. Ela saiu da conversa convencida de que o conteúdo batia com as informações do processo. “Ficou claro que elas não tinham motivo para inventar”, afirma. A partir daquele momento, decidiu apoiar as jovens.

O segundo abalo veio em 2022, novamente no dia do seu aniversário, quando recebeu outra ligação inesperada. A mãe de uma jovem que havia sido criada dentro da casa da família contou que a filha tinha sido abusada pelo pai da entrevistada cerca de 32 anos antes. Essa vítima também aparece no processo atual. “Foi aí que percebi que não era um caso isolado. Era um padrão que vinha de muito tempo”, comenta.

Segundo ela, o processo relacionado às três irmãs seguiu tramitando sem que a família fosse chamada a depor. O pai contratou advogado por conta própria e se afastou totalmente. As únicas atualizações vinham da mãe das vítimas.

Em 2024, saiu a sentença condenatória, noticiada pela imprensa. O mandado de prisão, porém, só foi expedido em outubro deste ano. Depois disso, a filha e amigos passaram a tentar localizar o homem. Um conhecido descobriu que ele havia voltado para a antiga casa da família, no Parque do Lajeado. A informação foi repassada às vítimas, que acionaram a polícia. Ele foi preso na terça-feira (11).

Ao ser questionada sobre o motivo que a levou a apoiar as vítimas, mesmo que o pai nunca tenha encostado nela, a filha diz que ele sempre foi um homem preconceituoso, misógino e machista. Nada disso, porém, abalava sua imagem de pai.

“Durante trinta anos, achei que ele fosse meu porto seguro”, afirma. A percepção mudou ao ler os depoimentos e, principalmente, ao ouvir as falas que o próprio pai disse durante uma discussão familiar. Segundo ela, ele afirmou que “apenas ofereceu cinquenta reais” a uma das meninas. Também teria ameaçado envenenar a água da família delas para encerrar o processo. “Ele falava como alguém culpado. Foi ali que tudo fez sentido.”

A prisão dele foi o desfecho de um processo longo e contestado mais de uma vez. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) confirmou a condenação após analisar recurso da defesa. O tribunal manteve integralmente a pena de 16 anos de prisão em regime fechado, afirmando que os depoimentos das vítimas eram coerentes e não apresentavam prejuízo ao contraditório. A decisão reforçou que não cabia reanalisar provas em recurso especial, já que as instâncias anteriores haviam validado a sentença.

Denúncia – O MP (Ministério Público) afirma que o acusado teria aproveitado a convivência contínua com três irmãs no assentamento, entre 2009 e 2018, para abusar delas. As investigações apontaram que o comportamento começou quando as vítimas ainda eram crianças e envolveu abordagens dentro das casas das famílias, perseguições, insistências e ofertas de dinheiro para obter favores sexuais.

Os depoimentos das três meninas foram considerados firmes e compatíveis entre si, além de corroborados pela mãe e pela avó. O MP (Ministério Público) destacou que o acusado se valia da proximidade e do isolamento do assentamento para repetir as investidas ao longo dos anos, comportamento que só foi denunciado após as ameaças cessarem e as vítimas mudarem de casa.

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