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Interior

Justiça adia audiência de pecuarista preso há 6 meses e defesa pede liberdade

Advogadas apontam falhas na investigação e ausência de prova contra Orlando Vendramini Neto

Por Helio de Freitas, de Dourados | 25/07/2025 11:08
Justiça adia audiência de pecuarista preso há 6 meses e defesa pede liberdade
Orlando Vendramini Neto nega qualquer ligação em crime ocorrido em novembro (Foto: Divulgação)

A defesa pediu a liberdade do pecuarista Orlando Vendramini Neto, 65, preso há seis meses acusado de ser o mandante do assassinato de Valdereis Rodrigues de França, 61, ocorrido em novembro do ano passado em Sete Quedas, na fronteira com o Paraguai.

RESUMO

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Pecuarista preso há seis meses por suposto homicídio tem audiência adiada e defesa pede liberdade. Orlando Vendramini Neto é acusado de mandar matar Valdereis Rodrigues de França, em novembro de 2024, em Sete Quedas, MS. A defesa alega falhas na investigação e ausência de provas concretas, questionando a credibilidade dos depoimentos. A audiência, prevista para agosto, foi remarcada para setembro. A principal testemunha da acusação foi assassinada no Paraguai em janeiro. Curiosamente, dois dos três presos pelo crime são familiares da vítima. A defesa de Vendramini Neto aponta inconsistências no inquérito, como a falta de perícia no celular da testemunha assassinada e a ausência de imagens de câmeras que poderiam identificar quem usou a moto do pecuarista no crime. A defesa questiona ainda a suposta dívida milionária apontada como motivação do crime, alegando falta de provas.

O pedido ocorreu após a Justiça de Mato Grosso do Sul adiar para 16 de setembro deste ano a primeira audiência do caso, que estava marcada para o dia 17 deste mês.

Capturado em território paraguaio em janeiro de 2025 e entregue à polícia brasileira, Orlando Vendramini Neto nega qualquer ligação com o crime.

A defesa aponta série de falhas na investigação conduzida pela Polícia Civil e afirma não existir prova cabal, mas apenas ilações baseadas em depoimentos duvidosos.

Principal testemunha da acusação, Denis Barrios Valenzuela, 24, foi assassinado a tiros em janeiro deste ano no Paraguai. Ele também tinha documento brasileiro com nome Denis Garcete da Silva.

Surpreendentemente, dos três presos pelo crime, dois são familiares de Valdereis: o irmão Washington Luiz de França, 49, e o sobrinho Luis Antonio Pedroza de França, 25.

O terceiro é Gabriel Recalde, 28. Funcionário dos França e de Andres Garcia Petrale, o “Ratinho”, ele também tem documento brasileiro, com nome Gabriel Amarilla. O trio segue preso no Paraguai e se mantém em silêncio sobre a morte de Denis.

Conforme a defesa de Orlando, Luis Antonio e Gabriel também foram testemunhas do suposto envolvimento do pecuarista no crime. Por razões até agora não esclarecidas, os dois e o irmão de Valdereis mataram Denis Garcete – testemunha-chave que levou a polícia a apontar Orlando Vendramini Neto como mandante.

Segundo a investigação policial, Denis teria revelado aos França o suposto plano para matar Valdereis e seus familiares e teria inclusive mostrado as armas que seriam usadas pelos pistoleiros.

“Por que não houve qualquer medida constritiva em relação a Denis que teria confessado ter contratado os pistoleiros a pedido de Orlando e ter a posse das armas? Sequer seu celular foi apreendido e periciado”, questiona a defesa de Orlando Vendramini Neto.

A defesa continua: “por que razão o vídeo que Luis Antônio Pedroza de França diz ter gravado da conversa com Denis não foi juntado aos autos, embora conste em seu depoimento que foi entregue à autoridade policial? Por que não houve qualquer diligência a fim de ouvir Samuel Garcete (tio de Denis Garcete), apontado como um dos pistoleiros contratados pelo acusado Orlando?”.

Moto – Os advogados de defesa questionam ainda a falta de providências da polícia para esclarecer outro ponto importante da investigação: a moto XR Tornado usada na execução de Valdereis.

O inquérito aponta que a moto pertencia a Orlando Vendramini Neto, mas ficava no posto de gasolina, com a chave no contato, de acesso fácil para qualquer pessoa. A defesa afirma que, de fato, o veículo era do pecuarista.

“Embora as proprietárias e a gerente do posto tenham afirmado que havia câmeras no estabelecimento comercial, não houve qualquer diligência da autoridade policial no sentido de recolher as imagens a fim de que se apurasse quem de fato pegou tal motocicleta”, afirma trecho do pedido de liberdade de Orlando Vendramini Neto.

A moto foi encontrada queimada quatro dias após o crime. Segundo relatório de investigação, os pistoleiros, após alvejarem Valdereis, teriam feito trajeto com destino ao Paraguai, tendo cruzado a Avenida Independência através do canteiro central para passar ao país vizinho.

“Contudo, surpreendentemente, tal veículo foi encontrado em uma região de vegetação, no sentido contrário ao tomado pelos sicários [pistoleiros], demonstrando que eles teriam novamente entrado no Brasil, atravessado a cidade de Sete Quedas, para, em nosso país, deixar a prova do crime que justamente vincularia Orlando à morte de Valdereis”, questiona a defesa.

Suposta dívida milionária – Os advogados de defesa também questionam o fato apontado pela Polícia Civil como motivação do crime – uma suposta dívida de 2 milhões de dólares de Orlando com Valdereis.

“Na Declaração de Imposto de Renda de Valdereis, juntado aos autos do Inventário, percebe-se que não há lastro financeiro ou qualquer menção que respalde a dívida no montante equivalente a 12 milhões de reais. Tampouco os familiares de Valdereis, ouvidos no Inquérito Policial, trouxeram elementos concretos ou documentos que comprovassem tal dívida. Portanto, percebe-se que os elementos de provas trazidos aos autos não são robustos e seguros para caracterizar o fumus comissi delicti [fumaça da prática do delito] no tocante ao indício suficiente de autoria”, aponta a defesa.

Por fim, os advogados de Orlando Vendramini Neto afirmam não haver mais necessidade de manutenção da prisão preventiva por “garantia da ordem pública”, “conveniência da instrução criminal” e necessidade de assegurar “aplicação da lei penal”.

“Não há qualquer prova, além do depoimento de parentes da vítima e de Denis Garcete (assassinado por aqueles), que vincule o acusado a qualquer pistoleiro. No tocante à possibilidade do acusado inibir testemunhas, é de se verificar que, no rol da acusação, constam o delegado de polícia que conduziu o inquérito policial, Luis Antônio (sobrinho da vítima) e Gabriel (amigo da vítima), que se encontram presos no Paraguai, justamente por terem matado a quarta testemunha arrolada pelo Ministério Público, Denis Garcete”, sustenta a defesa.

Quanto ao fato de a Polícia Civil ter retratado Orlando Vendramini Neto como “pessoa influente e perigosa”, a defesa dele afirma que essa narrativa cabe mais aos familiares da vítima. Segundo os advogados, várias pessoas arroladas como testemunhas de defesa desistiram de prestar depoimento, por medo dos familiares de Valdereis de França.

Em documento protocolado nesta sexta-feira (25) na Comarca de Sete Quedas, a defesa pede a revogação da prisão preventiva de Orlando Vendramini Neto e, se necessário, adoção de medidas cautelares previstas na lei. Como Sete Quedas está sem juiz após a transferência do titular, o pedido deve ser analisado por magistrado que atua em uma das Comarcas da região.

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