MP vai investigar a presença de agrotóxicos em aldeia de Caarapó
Pesquisa da UFMS identificou riscos à saúde de crianças e idosos na Terra Indígena Guyraroká
Após a veiculação da matéria "Cercada pela soja, aldeia tem agrotóxico na água de beber, na chuva e nascentes", produzida pelo Campo Grande News, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) vai investigar as denúncias de contaminação por agrotóxicos na comunidade Guarani Kaiowá, na Terra Indígena Guyraroká, situada em Caarapó, a 274 quilômetros de Campo Grande.
RESUMO
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O Ministério Público de Mato Grosso do Sul iniciou investigação sobre denúncias de contaminação por agrotóxicos na comunidade Guarani Kaiowá, na Terra Indígena Guyraroká, em Caarapó. A ação inclui análise da água após relatos de moradores sobre sintomas como vômito, diarreia e coceira, decorrentes da pulverização aérea em lavouras vizinhas. Pesquisas realizadas entre 2021 e 2024 identificaram 11 tipos de agrotóxicos na água de consumo, incluindo 2,4-D e atrazina. A comunidade, que abriga 12 bebês, 37 crianças e seis idosos, enfrenta dificuldades para cultivar alimentos devido à contaminação do solo. A área, anteriormente de pastagem, foi convertida para cultivo de soja e milho após 2018.
A ação, firmada nesta quarta-feira (1º), envolve análise da água das nascentes, da torneira e da chuva, após relatos de moradores sobre sintomas como vômito, diarreia e coceira. O procedimento foi motivado por reportagens que mostraram pulverização aérea de defensivos agrícolas nas lavouras vizinhas.
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O MPMS expediu ofícios à PMA (Polícia Militar Ambiental), à Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) e à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) para verificar a aplicação de defensivos agrícolas e analisar a qualidade da água. A Promotoria também requisitou à Câmara Municipal de Caarapó informações sobre a legislação local que regulamenta a pulverização aérea. Os órgãos têm 15 dias úteis para apresentar relatórios.
Conforme apurado pela reportagem, a aldeia abriga 12 bebês, 37 crianças, seis idosos e quatro gestantes, todos expostos aos efeitos dos agrotóxicos. Os moradores também enfrentam dificuldade para plantar alimentos devido à presença constante de agrotóxicos na terra. Até 2018, a região era predominantemente de pastagem; depois, as fazendas passaram a cultivar soja e milho, aumentando a aplicação de agrotóxicos.
Pesquisas realizadas entre 2021 e 2024 identificaram resíduos de agrotóxicos na água de consumo, nas nascentes e na água da chuva. A bióloga Alexandra Penedo de Pinho, da UFMS, destacou que foram encontrados 11 tipos de agrotóxicos, incluindo 2,4-D e atrazina, com alta capacidade de infiltração. O levantamento apontou contaminação aguda, causada por pulverizações, e crônica, por exposição diária à água contaminada.
A comunidade enfrentou ainda apreensões de agrotóxicos contrabandeados do Paraguai em julho, descobertos em área de mata nas terras indígenas. A operação conjunta da Força Nacional e do Ibama retirou mais de 200 quilos de defensivos ilegais. Um trator foi necessário para acessar alguns pontos de armazenamento devido à densidade da vegetação e ao volume do material.
A Terra Indígena Guyraroká foi reconhecida pelo Ministério da Justiça em 2009, mas a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em 2014 anulou parte da área reivindicada. Em 2013, o MPF (Ministério Público Federal) ajuizou ação pedindo indenização de R$ 170 milhões pela expulsão da comunidade ocorrida há 100 anos.
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