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Em Pauta

A criação do dinheiro falso e sua conexão à democracia

Mário Sérgio Lorenzetto | 01/01/2019 07:00
A criação do dinheiro falso e sua conexão à democracia

As primeiras transações financeiras da humanidade envolveram pequenas tábuas de argila dos mesopotâmico (povos que viviam na atual Turquia, Iraque e Irã). Mas elas eram frágeis, quebravam com facilidade. Não eram um bom dinheiro. Em seguida, começaram a transacionar com ouro, prata e cobre. Essas transações dependiam de uma balança.E aí, passaram a ter dois problemas. Um: não era fácil para todo mundo carregar uma balança para todos os lados. Dois: ficava fácil de trapacear, seja na ponta do comerciante, seja na ponta do cliente que chegava com metais "sujos", cheios de outros minérios. O que fazer, então? Dar um jeito de impedir os dois tipos de trapaça. É um reinado conseguiu fazer isso com uma cajadada só. Foi a Lídia, uma cidade-estado que ficava na Turquia atua. Por volta de 600 a.C. o governo desse reinado resolveu acabar com a confusão fundindo metais preciosos na forma de pepitas com peso e grau de pureza pre-determinados e imprimindo uma gravura em cada uma das peças, como um selo de autenticidade. Bom, na verdade quem saiu com essa solução primeiro foram os chineses, mas essa é outra história. Essa foi uma ideia que mudou tudo. Tudo mesmo. Mudou a humanidade.

A criação do dinheiro falso e sua conexão à democracia

Atenas copia a Lídia e chega a uma crise.

Vinte anos depois de os lidianos começarem a imprimir suas moedas, varias outras cidades-estado (todas eram cidades-estado, não existiam nações) já tinham copiado a ideia é feito seus próprios dinheiros. Só que na mais importante delas, Atenas, havia uma pedra no meio do caminho da economia. A problema não era dinheiro, mas falta de organização. Desde há séculos, uma parcela dos atenienses vivia de plantar trigo e outra, de produzir azeite de oliva e vinho. O solo da região não era lá muito favorável à plantação de trigo, mas altamente propício às plantações de oliveiras e vinhedos. Sempre faltava trigo. No começo, os plantadores de trigo se esbaldavam com os preços elevados de sua produção. Mas isso iria acabar (sempre acaba). Os produtores de azeite e de vinho atenienses construíram uma conexão com os russos (não é a toa que eles usam o alfabeto cirílico e o catolicismo é ortodoxo). Na Rússia, o solo era outro, altamente favorável para o trigo. Os dois lados se esbaldaram de ganhar moedas. Enriqueceram. Enquanto isso... os plantadores de trigo atenienses, empobreceram.

A criação do dinheiro falso e sua conexão à democracia

Filhos escravizados e esposas na cama dos outros.

Os agricultores de trigo foram parar no "cheque especial". Fazendeiro que não vende sua produção acaba sem capital para plantar novamente e tentar a sorte na colheita seguinte. Então fã o quê? Pede emprestado. Compra dinheiro. Quem emprestou é quem tinha, isto é, os plantadores de azeite e de vinho. O de cima sobe, e o de baixo... afunda.
Os ricos botaram os juros lá em cima. Cruel, mas era a regra já inventado pelos mesopotâmico. Isso mesmo, os juros compostos é invenção da Mesopotâmia. Lembra dele, aquele que os bancos adotam até hoje. Só que ficou tão caro que
Atenas não conseguiu pagar. O "belo" e "charmoso" rico ateniense inventou uma alternativa: o filho do pobre plantador de trigo seria dado para o rico e suas filhas e esposas iam parar na cama dos plantadores de azeite e de vinho.
Mas era uma bomba-relógio. Os nobres que governavam Atenas começaram a temer uma revolução. A massa de endividados poderia derrubar o governo e colocar um tirano no trono. Para salvar o pescoço, apontaram um aristocrata conhecido pela inteligência fora do comum para assumir o poder e tentar resolver o problema: Sólon.

A criação do dinheiro falso e sua conexão à democracia

A criação do dinheiro falso e a conexão com a democracia.

A primeira medida, em 594 a.C., foi proibir a escravidão como forma de pagamento de dívidas. Sólon inclusive usou dinheiro público para comprar de volta os parentes dos devedores que tinham sido vendidos como escravos. Isso acalmou os ânimos. Todavia, a essência do problema continuava na mesa: desigualdade acentuada e dívidas. Os,pobres queriam o perdão total de suas dívidas e também passaram a pleitear por algo inédito: reforma agrária. Queriam um pedaço das terras onde poderiam plantar oliveiras e vinhedos. Mas inverter a balança, tirando dos mais ricos o que, de fato, era propriedade deles, só passaria a revolta para o outro lado. Sólon resolveu tratar o problema do ponto de vista estritamente econômico. Como não tinha mais dinheiro, gastará quase tudo com a recompra dos parentes dos pobres, resolveu trilhar um caminho que ninguém havia pensado. Algo que poderia ser entendido como malandragem. Mas em verdade, foi algo tão importante para a economia quanto a gravidade foi para a física. Podem chamar de "teoria da desvalorização". A essência da ideia: as pessoas acreditavam nas moedas cunhadas pelo governo justamente porque lhe garantiam que elas eram de ouro ou de prata puros, certo? Sólon desprezou isso. Se o povo confiava nas moedas cunhadas, elas não precisariam ser totalmente puras. O que o governo dissesse que era dinheiro, seria aceito como tal. Mas como colocar mais dinheiro no mercado? Como comprar terra dos ricos para dar para os pobres? Usando moedas falsas. Ou melhor, mais ou menos falsas. Sólon passou a misturar metais mais baratos nas moedas. Se a população na engolisse o plano de Sólon, seria o fim da moeda. E provavelmente Atenas. Mas aconteceu o inverso: deu certo.
Atenas seguiria mais forte e rica do que antes, e o próprio Sólon deixaria pavimentado o caminho para outra medida sua: a criação da democracia.

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