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Em Pauta

A médica que operava nariz de judeu perseguido

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/07/2018 09:45
A médica que operava nariz de judeu perseguido

"Perderá teu homem. Ainda que tinjas teus cabelos, o delata seu nariz", assim canta a Balada de Maria Sanders de Bertolt Brecht. O poema reflete a realidade da Segunda Guerra Mundial. Os judeus não tinham como fugir da Gestapo, seus narizes os enviavam para o Holocausto. Mas nem todos...
Suzanne Nöel (1878-1954) era uma médica que praticava a nascedoura medicina plástica. Essa francesa empregou seu dinheiro e conhecimento para salvar a vida de centenas de judeus transformando seus narizes. Em época de Dr.Bumbum, a vida exemplar de Suzanne é um alento.
"Disseram que eu estava duas vezes louca. Assim recordava Suzanne Nöel de sua decisão de ser médica e feminista... depois, salvadora dos perseguidos. Quando as mulheres ainda não enfrentavam os bancos das faculdades, Suzanne casou-se com 19 anos. Seu marido, o médico Henri Pertat, a incentivou a estudar. Tornou-se médica. Foi estudar com um especialista em câncer de língua e reconstrução maxilar e acabou sendo uma referência na medicina da Primeira Guerra Mundial. Trabalhou na recuperação das faces destroçadas dos soldados que eram atingidos por balas nas trincheiras. Essa forma de defesa apenas protegia o corpo dos soldados. A cabeça estava protegida por uma capacete que lhes salvava a vida, mas não os preveniam das mutilações. Mais de 15.000 homens sofreram mutilações nas faces e nas mandíbulas. Ficaram conhecidos como "bocas rasgadas". Suzzanne e Hippolyte Morestin, trabalharam na remodelação de suas orelhas, queixos e narizes.

A médica que operava nariz de judeu perseguido
A médica que operava nariz de judeu perseguido

Cirurgia contra o machismo.

Assim Suzanne começou sua carreira de médica plástica. Isso não era bem aceito pela sociedade. A Igreja condenava essa prática. Excomungava quem se atrevia a retificar o trabalho do Criador. Suzanne rebatia. Dizia que era uma benção do Criador. Também afirmava que as mulheres estavam submetidas à ditadura da imagem. Um pensamento muito avançado para essa época.
Em suas memórias conta o caso de uma das primeiras pacientes que atendeu sem nada cobrar. A mulher era mãe solteira e havia sido despedida. Trocada por outra mais jovem. Segundo via Suzanne, a mulher, com a cirurgia, ganhava uma cútis nova e melhores opções de trabalho. Por isso se alegrou tanto quando a moça recuperou o emprego perdido.
A idade também era preocupação para algumas mulheres. Sarah Bernhardt foi um exemplo desse caso. A mais famosa atriz de seu tempo interessava-se pela técnica de Suzanne que, por ser pouco invasiva, recuperava as mulheres rapidamente.

A médica que operava nariz de judeu perseguido

Quero votar e a greve contra impostos.

Suzanne Nöel recebia a todos seus pacientes usando um chapéu com a inscrição: "Quero votar". Forçava a todos refletia à essa falta de direito. Dizia que as mulheres não eram cidadãs com plenos direitos. Por isso, iniciou uma campanha para que elas não pagassem impostos. "Senão há igualdade de direitos, não há obrigação de pagar", dizia. Com isso, foi uma das mais destacadas sufragistas - aquelas que lutavam pelo direito ao voto - da França.
Em 1926 publicou seu único livro: "A cirurgia estética". Fala das técnicas utilizadas na sua profissão, como também dos seus erros. Algo que nunca médico algum havia admitido em livro. Pela primeira vez emprega fotografias e modelos reais, não manequins. Muito do que escreve aprendeu sozinha. Almejava dar respeitabilidade à cirurgia estética. Especialmente para seus colegas que afirmavam publicamente que era "uma prática inútil para mulheres coquetes". Suzanne é pouco conhecida. E ainda menos reconhecida pelos profissionais de sua área. As herdeiras de Suzanne ainda continuam ocupando poucos espaços.

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