Chifrudos e chifrados, os velhos que buscavam as jovens
O cristianismo que chegou ao Brasil com portugueses e espanhóis não demonstrou interesse pelos velhos. Seus pensadores viam na velhice um problema abstrato e simbólico. Associavam a velhice à sabedoria e ao poder, mas não tinham qualquer constrangimento em exagerar dados cronológicos. Para eles, Adão teria vivido 930 anos e Matusalém, 969. Eles também utilizaram a velhice como alegoria para o embate entre o bem e o mal. Os feios e velhos eram os transgressores das leis da igreja.
A decrepitude da velhice era o ideal do pecado.
Quanto mais alguém pecasse, mais rápido envelheceria. O homem velho era o pecador que tinha de se regenerar pela penitência. O jovem, ao contrario, era o homem novo salvo pelo Cristo. E os pregadores enchiam a literatura religiosa descrevendo as taras da senilidade. O velho era tarado. Um velho que gozasse e boa saúde só poderia ser explicado pela intervenção diabólica.
A velhice era indesejada.
O prolongamento da vida não era desejável. Só trazia desgastes. Cansaços. A velhice saudável não era vista apenas como uma condição biológica, mas como uma demonstração da soberba do homem em relação a Deus - logo, um símbolo do pecado.
Velho chifrudo.
Para combater os “pecados” dos velhos, montou-se uma imensa campanha para que eles se conservassem “sóbrios, honrados, castos, saudáveis na fé, no amor e na paciência”. Os “lúbricos”, aqueles que buscassem a carne jovem, seriam condenados a ser eternamente chifrudos e chifrados. Estava criada a ideia de que todo velho que se relacionasse com uma jovem seria obrigatoriamente chifrudo.
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