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Em Pauta

A morte do dinheiro. Um perigo que poucos percebem

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/08/2017 08:56
A morte do dinheiro. Um perigo que poucos percebem

Desde o dia que a humanidade permitiu pagar o mesmo por uma cesta de verduras e um assassinato não houve mais controle dos maus elementos, daqueles que só viviam na marginalidade. Nesse dia não nasceu o dinheiro, mas nasceu sua ilimitada utilidade. Mas, assim como o dinheiro serve para matar, também seu dia final. Acreditem, o dinheiro morre. Os grandes estudiosos das finanças como Milton Friedman e John Keynes contam a história da morte do dinheiro.

A morte do dinheiro. Um perigo que poucos percebem

A morte da "rai", as pedras de uma ilha da Micronésia.

Os habitantes de Yap, uma ilha na Micronésia, viviam muito contentes com suas pedras de até três metros de diâmetro em forma de donuts que eram colocadas na frente de suas casas. No início essas pedras tinham a forma de baleia, daí serem denominadas "rai" (baleia, na língua local). Eram o símbolo de sua riqueza. Seu dinheiro.

As pedras eram extraídas, lapidadas e transportadas com grande esforço desde a ilha de Palau, que também fica na Micronésia. Em Yap não existiam grandes pedras. Ali só existiam cocos em abundância e por isso, não lhes davam valor.
O peso das pedras, entre outros problemas, convertiam as viagens em um aventura de alto risco. Esse risco dava mais significado ao esforço de extrair e lapidar as pedras. A riqueza equivalia a esse esforço. E como todos aceitavam a convenção desse valor, sua tradução em riqueza e quem era seu dono, as pedras eram o dinheiro aceito por todos. Como eram difíceis de transportar, muitas vezes nem mesmo saiam da frente da casa de uma pessoa de Yap para ir a outra frente de casa em alguma transação comercial, apenas mudavam de dono pela palavra: a terceira pedra em frente de minha casa passava a ser do Zézinho. Era uma pequena ilha com uma pequena população. O dinheiro podia receber o nome de seus proprietários, era como se fizessem cheques nominais.

A morte do dinheiro. Um perigo que poucos percebem

Chegam os alemães e matam as "rais".

Mas chegaram os alemães no final do século XIX depois de comprarem Yap dos espanhóis (por séculos, os espanhóis deixaram Yap a sua própria sorte). Os alemães queriam que o povo de Yap fizesse algo que não lhes fazia falta: estradas asfaltadas. A estrada tradicional estava no mar e não na terra. O povo de Yap não aceitou. Não foi fácil. Só conseguiram "convencer" a população depois de pintarem cruzes nas pedras "rai". Mataram o dinheiro de Yap. O gesto dos alemães equivalia a demonstrar que aquelas pedras não valiam nada. Romperam a convenção e com ela, a estabilidade da riqueza. E os habitantes de Yap se sentiram escravos, pobres e construíram a estrada. O dinheiro de Yap foi trocado por cédulas de papel dos alemães. Algo que levaram um tempo para entender e aceitar. Suas pedras "rai" passaram a ser apenas pedras, sem valor algum.

A morte do dinheiro. Um perigo que poucos percebem

A vingança do povo de Yap, a morte do dinheiro dos alemães.

Umas décadas depois, foram os alemães a verem seu dinheiro falecer. Morreu de excesso. Foi impresso à exaustão. As impressoras não paravam. O dinheiro é para fazer ricos e pobres, não pode reproduzir-se sem descanso e pretender que siga valendo o mesmo.

Após a Primeira Guerra Mundial, os alemães colocavam fardos de dinheiro em suas lareiras para queimar, a lenha era mais cara. Não conseguiam levar dinheiro no bolso, era levado só com carrinhos de mão. Um cidadão pedia um café e pagava pela xícara 5 mil marcos, ao pedir a segunda xícara, pagava 15 mil marcos - os minutos entre os pedidos desvalorizavam o dinheiro. As indústrias pagavam os salários e no mesmo instante liberava os operários para que eles fossem aos mercados para que não perdessem o poder de compra. Havia casos que eles não compravam um terço da cesta de alimentos por terem deixado as compras para o dia seguinte. O dinheiro alemão estava morto. A hiperinflação o assassinara.

A morte do dinheiro. Um perigo que poucos percebem

A ganância de franceses e belgas matou o dinheiro alemão.

Após a guerra, foi assinado o Tratado de Versalhes que obrigava os alemães a enormes pagamentos por "reparações ", as despesas que franceses, ingleses e belgas tiveram para enfrentar os alemães. As dificuldades da situação de miséria dos alemães avivou a tentação de quem tem o poder de imprimir dinheiro. Primeiro a Alemanha em estado de pobreza extrema, suspendeu seus pagamentos em 1922. No janeiro seguinte, tropas franceses e belgas ocuparam o Ruhr, uma região da Alemanha. Perante os efeitos devastadores daquela ocupação, os alemães optaram por imprimir dinheiro sem descanso para conseguir pagar os invasores. Para dar noção da grandiosidade: um dólar era trocado por 4,2 marcos, no final de 1923 um dólar passou a ser trocado por 4,2 bilhões de marcos.
Perante essa situação, a melhor opção é a eutanásia. Matar o dinheiro moribundo para que nasça um novo rei, aliás, um novo dinheiro.

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