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Em Pauta

Manoel de Barros não amava mulheres que comiam farofa

Mário Sérgio Lorenzetto | 19/11/2021 14:29
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Entro na exposição de Gerhard Richter no Museu Met Breuer de N.York. O primeiro quadro que me vem ao encontro é uma mesa, pintada de maneira realista, que na continuação, o pintor dissimulou com pinceladas cinzas. A pintura data de 1963. Dois anos antes Richter, então um jovem conhecido pintor de murais do realismo socialista na Alemanha Oriental, escapou para o Ocidente.


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A indiferença dos alemães perante o autoritarismo.

Nas salas da exposição se constata que Richter deixou para trás o realismo socialista para voltar-se primeiro à fotografia. Utilizou e quase copiou, a pinceladas, a linguagem fotográfica para retratar em branco e cinza o que mais o preocupava: a indiferença dos alemães ante o autoritarismo, qualquer autoritarismo, seja o nazista ou o comunista. Os alemães reagiram com placidez perturbadora a chegada e ascensão dos dois regimes autoritários.


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Enem no Brasil, uma prova censurada.

A notícia é avassaladora. O governo federal censurou a prova do Enem, o vestibular. Manoel de Barros, o maior nome da cultura pantaneira, está no rol dos censurados. O motivo? Faz poesia, cria a obrigatoriedade de pensar em uma passagem bíblica. "No descomeço era o verbo", escreveu o poeta. A Bíblia diz: "No princípio era o verbo". A criatividade do poeta é indagadora. Afinal, tivemos um começo ou um descomeço? Ou ambos? Há heresia ou criatividade no texto poético? Heresia verdadeira é a censura, essa maldição que atinge aqueles que ousam pensar e não seguir os passos dos autoritários.


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O homem que não amava as mulheres que comiam farofa.

Manoel de Barros foi um excêntrico. A mais estranha de suas atitudes foi a intolerância às mulheres que comiam farofa. Excêntrico, acima de tudo. Difícil amarrá-lo a qualquer outra classificação. Nos legou um mar de Xaraés de escritos alegres e desconstrutores. Demolia para construir um mundo onírico, um mundo dos sonhos. A infantilidade da humanidade nos primeiros dias. A censura de sua poesia soa como a onomatopeia de uma bofetada na cara. Não podemos ficar indiferentes à essa brutalidade. A placidez tem de ser esquecida.

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