O sonho chinês e o “czar ideológico” de Xi Jinping
Em 23 de outubro de 2022, sete homens chegavam ao poder na China. À frente, estava Xi Jinping, o primeiro ministro. Em quarto lugar, ia Wang Huning, um tipo magro, de rosto imperturbável e aspecto de professor: o czar ideológico de seu país.
O “Kissinger chinês”.
Wang, de 69 anos, se encontra por trás de muitas das teorias e slogans do sistema chinês. É um dos principais homens a governar o país. Alguns o chamam de “Kissinger chinês”. Há quem acredite que ele pensa em um país que seja um misto de Estados Unidos e Japão. No final dos anos oitenta, viajou durante seis meses pelos EUA. Escreveu livro sobre essa experiencia, publicado em 1.991, que reflexiona sobre as brechas na primeira potencia mundial. Seu título tem tintas proféticas da divisão atual: “América contra América“. Disseca as contradições e gretas da sociedade norte-americana. E virou um verdadeiro fenômeno de vendas na China. Quem deseja conhecer de verdade a China atual, deveria lê-lo. Ninguém pode combater - ou apoiar - aquilo que não conhece.
Wang diz que existem choques internos que destruirão os EUA.
Wang visitou universidades, fábricas e fazendas, a sede da Coca-Cola, presenciou os lobbies e as dinâmicas dos grupos de poder econômico dentro do Congresso. Ficou fascinado pela penetração do telefone, dos carros, dos cartões de crédito e dos computadores na vida cotidiana. Por outro lado, ficou estarrecido pelos estragos das drogas, do choque feminista com os valores tradicionais e com a revolução sexual, tanto das mulheres como dos gays. O maior choque veio com os bairros repletos de prostitutas e praças tomadas por pessoas sem teto.
O sonho chinês.
Não é de estranhar que Wang, várias décadas depois de sua visita aos EUA, fosse o responsável pelo conceito do “Sonho Chinês”, um slogan que recorda o norte-americano “American Dream”, repetido por Xi Jinping à exaustão. Wang se fixa como os EUA estão inundados por industrias estrangeiras - o prelúdio do desequilíbrio de sua balança comercial, que está por trás da guerra comercial que Trump bombardeia o mundo. Adverte que os EUA fechariam milhares de fábricas por não saber conviver com o choque entre o livre comércio e o protecionismo de Estado.
A comparação entre EUA e Japão.
Não conheço a viagem que Wang fez ao Japão. Mas a comparação que faz com o país asiático e os EUA é a chave de seu pensamento para o atual sistema chinês. “O sistema norte-americano, baseado no individualismo, o hedonismo e a democracia, está perdendo claramente frente ao sistema do coletivismo, desinteresse pessoal e neoautoritarismo [japonês]”, diz Wang.
A Nova Rota da Seda.
Lula almeja a construção de uma estrada de ferro ligando um porto no Peru à Bahia. Essa é uma iniciativa, como muitas outras, que os chineses denominam “Nova Rota da Seda”. É a mente de Wang que criou esses mega projetos de investimentos e infraestrutura com que a China busca estender sua influência global.
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