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Em Pauta

Um menino para testar a primeira vacina da humanidade

Mário Sérgio Lorenzeto | 10/09/2017 09:00
Um menino para testar a primeira vacina da humanidade

Varíola ou peste negra? Qual doença matou mais humanos ao longo da história. Não há resposta certa, mas há a tendência de acreditar que a varíola levou ao túmulo um maior número de pessoas. A varíola matava, aproximadamente, 400.000 europeus por ano, é a maior responsável, sem dúvida alguma, pela matança desenfreada dos astecas no México, após a chegada dos espanhóis. Ainda sobre as mortes de indígenas, no Brasil há inúmeros relatos de atrocidades cometidas pelos europeus que jogavam roupas inoculadas com cepas de varíola para infectar índios. Enfim, não resta dúvida das atrocidades cometidas pela varíola. Mas será o combate à varíola que propiciará à humanidade a existência das vacinas. Todos já ouvimos a historinha da vacina. Ela nos conta, como se fosse um conto de fadas, que um médico inglês - Edward Jenner - inventou a vacina observando vacas. O nome vacina, vem de vaca, o médico registrou sua experiência como "varíola vaccinae" (varíola da vaca). E fim da história. Mas não foi bem assim. Para os dias de hoje, é uma história pavorosa.

Um menino para testar a primeira vacina da humanidade

James Philipps, o menino de 8 anos, que serviu de teste para a primeira vacina.

A guerra contra a vacina parecia perdida. Um médico do meio rural inglês - Edward Jenner - observou que as mulheres que ordenhavam vacas e que se infectavam pela varíola desses animais, não tinham o mesmo destino das demais pessoas: uma morte terrível em um charco de fezes. Um dia, em 1796, colheu o líquido das pústulas de uma das mulheres ordenhadoras e o inoculou em James Philipps, um menino de 8 anos. Esse procedimento seria proibido nos dias atuais. Em nada difere dos testes realizados pelos Mengeles, dos pesadelos cometidos pelos nazistas. Todavia, esse é um julgamento com os olhares do final do século XX e neste início do XXI. No passado, a incipiente medicina e suas pesquisas, cometiam atrocidades e eram festejadas quando obtinham bons resultados. Passadas seis semanas, o médico inoculou uma cepa de varíola de um homem que não era ordenhador. E o menino sobreviveu! Estava criada a primeira vacina. Que se fosse testada com mulheres que tratavam cavalos, seria chamada equina.

Um menino para testar a primeira vacina da humanidade

De bracinho em bracinho, a vacina chegou na América.

Em 1803, sete anos depois dos testes do médico inglês, e de alguma oposição da igreja católica da Inglaterra, o médico espanhol Francisco Xavier Balmis, escolheu 18 meninos dos orfanatos de Santiago de Compostela e outros 4 meninos de hospitais de Madri. A missão dos chamados "galeguinhos" era ser inoculados com a "varíola bovina" (vacina), embarcar em um navio, para que a vacina chegasse viva, de bracinho em bracinho, até a América, onde a enfermidade levada por espanhóis e portugueses havia aniquilado civilizações inteiras.

Um menino para testar a primeira vacina da humanidade

"Merebahyba", a chaga má. A vacina no Brasil.

São negras as páginas da história que nos relatam a calamidade da varíola importada pelos conquistadores no Novo Mundo, e o grito de pavor, o grito de "Merebahyba", como se dissessem "as chagas más", que levantaram todas as tribos, também foi o sinal para a dispersão dos índios e da doença. Os índios abandonavam suas aldeias e fugiam apavorados. Contaminados pelo mal, levavam por toda parte a desolação e a morte. E deixavam os lugares por onde passavam lotados de mortos. Surgiu, então, uma crença entre eles.
Os indígenas começaram a acreditar que esse mal lhe era transmitido pelos padres jesuítas com a água do batismo. Passaram a recusar-se, e a proibir seus filhos, de se submeterem a esse sacramento. Não se sabe se esse mito foi criado pelos portugueses, inimigos dos jesuítas, ou se lhes foi inspirados pelos pajés, feridos em seu amor próprio na disputa com os padres.
No mesmo ano, 1803, que a vacina chegava nos países da América Espanhola, o príncipe regente brasileiro dirigiu instruções para o Conde dos Arcos, governador da capitania do Pará: "Introduzir a inoculação das bexigas, das quais são vitimas tantos mil braços que fazem tão sensível falta às culturas e aos trabalhos..." Mas nada foi feito.
Só no ano de 1805 é que tomaram medidas eficazes para a inoculação da vacina. Mas, para o cúmulo do absurdo, com a chegada da família real, em 1808, o trabalho precário de vacinação decaiu e teve de refugiar-se em uma pequena farmácia.

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