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Em Pauta

Viver bem em tempos difíceis: a comida italiana

Mário Sérgio Lorenzetto | 24/07/2016 08:15
Viver bem em tempos difíceis: a comida italiana

Mussolini tinha uma mulher ideal e a exaltava em seus filmes de propaganda e nas cerimônias de entrega de medalhas. Essa mulher tinha quadris largos e seios fartos; plantava trigo, cuidava de galinhas e gerava pequenos soldados; era de saudáveis origens rurais. O modelo de italiana do Duce era uma dona de casa rural.

No princípio da década de 1930, três milhões de mulheres se uniram às "MassaieRurali", as donas de casa rurais, a secção do Partido Facista criada para que essas mulheres se parecessem cada vez mais com os ideais de Mussolini.

Os objetivos gastronômicos do movimento eram limitados, como se poderia esperar. Em 1935 foi publicada uma receita típica no jornal mensal desse partido. Descrevia a comida perfeita que uma dona de casa rural deveria servir a seus filhos e marido recém chegados da guerra: uma "tortilla" patriótica, feita de ovos, tomates e verduras, de modo que tivesse as cores vermelha, branca e verde da bandeira italiana. Através daquela "tortilla", as mulheres podiam demonstrar que, "sem abandonar seu lar e seus fogões, suas mãos trabalhavam e seus corações batem pela Nação".

No começo de 1930, o fascismo começou a reconstruir toda a sociedade italiana a sua imagem e semelhança com organizações totalitárias com as "MassaieRurali". Mas, ironicamente, foram sobretudo mulheres urbanas quem impulsionaram a campanha do regime em favor de hábitos alimentares mais espartanos.

O livro mais famoso dessa época era "Viverebene in tempidifficili: come ledonneaffrontanolecrisieconomiche" (Viver bem em tempos difíceis: como as mulheres lidam com a crise econômica), é um clássico de seu gênero. Mostra como as donas de casa italianas criavam boa comida em circunstâncias difíceis. A cozinha italiana tem fama justificada de ser deliciosa mas não pretensiosa, também não é complexa e muito menos cara. Esse é o maior segredo de seu sucesso em residências e restaurantes em todo o mundo ocidental. Esses valores foram integrados pela primeira vez na civilização italiana não pelos trabalhadores rurais, sim pela classe média das numerosas cidades da península, gente que não tinha dinheiro para gastar mas que valorizava a boa comida.

As primeiras páginas de "Viverebene in tempidifficili" resume uma refinada paranoia, já que descreve uma cena doméstica ameaçada pelo tormento da crise econômica, que tem o mundo inteiro em suas garras. A autora do livro diz que as donas de casa devem pensar em como a comida afeta a seus maridos. A crise é tratada em todas as conversas no bar, na parada de ônibus ou na empresa onde trabalha.

Agora, imaginem, diz a autora, o que ocorre quando ele coloca a chave na porta de seu lar e descobre uma mesa com um almoço modesto mas elegante. Seu estado de ânimo melhora. A "fórmula secreta" do bem viver era: "maccheroni com ragú" ou presunto, nhoque de batata com manteiga e queijo, risoto de açafrão, sopa de grão de bico e sopa de verduras espessada com arroz. Se sobrasse algum dinheiro, viria o segundo prato em dias distintos da semana: almondegas, fígado ou ovos fritos na manteiga, galinha, batatas assadas, costeletas de vitela empanadas, risoto de cogumelos, macarrão com molho de tomate fresco, salada de verduras cruas e queijo. É surpreendente o muito que se parece à comida cotidiana da atualidade nas casas de italianos e de seus descendentes.

 

Viver bem em tempos difíceis: a comida italiana

O revolucionário marketing sensorial.

O som de uma caneta raspando no papel. O ardor de um gole de enxaguante bucal. Uma bebida quente faz com que as pessoas acreditem que um estranho é amigável. O sabor do vinho parece melhor em uma taça do que em um copo comum. Podem não acreditar, mas as pesquisas mostram que um pedaço de bolo aparentemente é mais atraente quando o garfo está colocado à direita do bolo.

E tem mais: os estudiosos da Hershey´s descobriram que o prazer tátil que as pessoas sentem ao desembrulhar o papel que envolve um Kiss transforma um pedaço de chocolate comum em uma experiência especial. E a mais sensacional: a campanha da Dunkin Donuts da Coréia do Sul ganhou o prêmio de melhor marketing do ano. Essa campanha foi pensada para quando os passageiros dos ônibus municipais ouvirem o jingle do anúncio, um atomizador lança aroma de café dentro do ônibus. As vendas dos donuts aumentaram 29%.

Muitas empresas estão apenas começando a reconhecer como os sentidos afetam fortemente partes mais profundas de nossos cérebros. Os cientistas estão demonstrando que os sentidos amplificam uns aos outros. O olfato amplificou a visão no caso dos donuts. Também passaram a compreender que nós consumidores não detectamos como mensagens de marketing esse entrelaçamento sensorial para vender mais. Não reagimos com a resistência habitual aos anúncios que unem os sentidos. É essa a nova revolução do marketing sensorial.

Viver bem em tempos difíceis: a comida italiana

O irmão de Zico perseguido pelas ditaduras do Brasil e Portugal.

Zico foi o maior jogador da história do Flamengo. Seu irmão, Nando, foi um perseguido por ditaduras. Seu crime: ministrar aulas para analfabetos durante o governo Goulart. A história, recentemente revelada por José Santiago, é uma narrativa que mostra um dos absurdos das ditaduras.

A ditadura não só proibiu as aulas para analfabetos como tornou subversivo o material didático adotado. Os professores eram acompanhados de perto pelo regime militar. Nando se concentrou no futebol. Como juvenil do Fluminense, em 1966, foi para o Santos de Vitória (ES). Após algumas partidas, um novo técnico, um oficial do Exército, foi afastado da equipe. Nando considerou que era necessário "mudar de ares". Partiu para Lisboa. Foi jogar no Belenenses. Cabe recordar que Portugal vivia a ditadura de Salazar e o presidente daquele país, Almirante Américo Tomás, era torcedor fanático do Belenenses. Nando foi "visitado" por dois membros da famosa PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado. Após ser interrogado e informado sobre a necessidade de entregar os documentos, os policiais disseram que tinham conhecimento de sua atuação "subversiva" como professor.

No dia seguinte recebeu mais uma ameaça: era obrigado a assinar o contrato com o Belenenses pela metade do salário acordado ou ser obrigado a se alistar no Exército português e enviado para frentes de combate em Angola ou outra colônia africana.
Nando conseguiu ajuda e retornou ao Brasil. Logo a seguir foi visitar uma tia que tinha uma filha presa pela ditadura. Foi preso pelo Dops que o levaram ao DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura. Foi encapuzado e ameaçado. Em seguida, foi solto mas fichado como subversivo. Em 1971, Nando foi convidado a jogar na equipe portuguesa do Gil Vicente, mas era proibido de sair do Brasil. O presidente do Conselho Nacional de Desportos, general Sizeno Sarmento, ficou sensibilizado com a história e limpou sua ficha "subversiva". Graças ao general Sarmento Nando atuou no Gil Vicente. Em dezembro de 2010, Nando se tornou o primeiro jogador de futebol a ser anistiado no país.

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