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Finanças & Investimentos

Economia e os cabos do seu iPhone

Emanuel Steffen | 09/10/2017 11:37

Os produtos da Apple sempre foram bonitos. Ainda que você não seja fã da empresa, não há como negar que a Apple utiliza materiais de primeira para criar produtos vistosos e duráveis. E isso vale para praticamente tudo que a empresa faz, com uma única e gritante exceção: os cabos do carregador. Hoje, já é de conhecimento geral que os cabos da Apple começam a se desintegrar após seis meses de uso contínuo. E isso tem sido uma constante, para qualquer que seja o produto — MacBook, iPhones, iPads e adaptadores. E sempre foi assim ao longo das várias gerações destes produtos.

Meu primeiro iPhone, ainda da primeira geração, tinha um cabo que sucumbiu em 2009. Já o cabo do meu iPhone 6 também se desintegrou menos de um ano depois que o adquiri. Esse fenômeno criou toda uma indústria paralela de cabos substitutos para os produtos da Apple, bem como uma indústria especializada em vender produtos que impedem os cabos da Apple de se desintegrarem (digite no Google "Sugru" ou "Apple cable protectors"). De alguma forma, esses fabricantes paralelos de acessórios Apple não têm problemas para
fazer cabos muito mais duráveis que os da própria Apple. Com efeito, já há websites que fornecem guias de compra para cabos substitutos de iPhone que não apenas são bonitos como também muito mais duráveis do que os originais.

Como minha família sempre foi consumidora da Apple, com vários MacBooks, iPads e iPhones, nós chegamos a um ponto em que já substituímos todos os cabos originais da Apple por cabos alternativos, os quais vêm se mantendo em condições impecáveis até hoje. O que nos leva à pergunta derradeira: por que a Apple não utiliza seus bilhões de dólares para criar um simples cabo que não irá se despedaçar?

Várias explicações já foram dadas para a aparente incompetência da Apple no ramo da fabricação de cabos, mas uma se destaca: o Greenpeace. Em 2009, por meio de uma campanha mundial chamada Green My Apple ("Torne meu Apple mais verde"), o Greenpeace pressionou a Apple e conseguiu fazer a empresa remover o PVC dos seus cabos. PVC é um policloreto de vinil — ou apenas vinil — e é o terceiro polímero plástico mais popular do mundo. Desde então, a Apple, na seção "Ambiente" de seu website, se gaba de que todos os seus produtos são livres de PVC.

Já os cabos das empresas especializadas em vender acessórios substitutos explicitamente contêm PVC em sua composição. Não sou engenheiro químico ou ambiental, então não posso dizer com exatidão se a decisão da Apple é cientificamente sensata. O que realmente sei é que o PVC é um dos produtos químicos mais comuns do mundo. Nos EUA, ele é usado em 66% dos encanamentos que fornecem água potável, na maioria dos isolamentos em cabos elétricos, em roupas impermeabilizadas, nos pavimentos de vinil e em luvas médicas. Em outras palavras, não se trata de algo mortiferamente tóxico.

Como no caso de qualquer outro plástico, eu obviamente não sugeriria sua ingestão ou mesmo inalar sua fumaça no caso de um eventual incêndio; fora isso, ele é seguro. Sendo assim, por que o Greenpeace se opunha ao uso de PVC pela Apple? Seu site não é claro quanto a isso; ele faz apenas algumas referências vagas a "plásticos venenosos" e 'dificuldade de descarte'. Houve uma época em que acreditávamos que plásticos como o PVC permaneceriam no meio ambiente por milhares de anos, mas desde então já aprendemos que há bactérias e fungos que efetivamente se alimentam de PVC para o jantar. No passado, estabilizadores à base de chumbo eram utilizados na fabricação do PVC, mas as substituições adequadas já estão bem estabelecidas e amplamente utilizadas.
O que a Apple conseguiu ao ceder ao Greenpeace e banir o PVC? Sua reputação de fazer acessórios de qualidade foi arruinada. Pior: bilhões de cabos de Apple quebrados já foram prematuramente enviados para o aterro sanitário. E os bilhões de cabos substitutos também serão enviados para aterros sanitários quando os aparelhos que eles carregam se tornarem obsoletos.

Embora a Apple não mais utilize PVC em seus cabos, milhões de pessoas agora utilizam cabos substitutos (e baratos) da China, que podem usar produtos químicos tóxicos como chumbo, arsênio, mercúrio e retardadores de chama à base de bromo. Na mais benéfica das hipóteses, um cabo substituto de alta qualidade conterá PVC, o que não só anula totalmente o esforço do Greenpeace e da Apple, como ainda duplica o volume total de cabos que serão descartados no futuro. No final, o único que ganhou com a abolição do PVC pela Apple foi o Greenpeace e sua sensação de auto-satisfação. Já os consumidores, a reputação da Apple e o próprio ambiente ficaram em pior situação.

Em 2007, Steve Jobs falou abertamente sobre a campanha do Greenpeace contra a Apple. Disse ele: Penso que sua organização fala muito sobre princípios bonitos, mas se baseia muito pouco em fatos. [...] Vocês dão importância excessiva a esses princípios venerados e importância escassa à ciência e à engenharia. Seria de grande valia para o mundo se sua organização contratasse mais engenheiros e realmente dialogasse mais abertamente com
empresas para descobrir o que elas estão realmente fazendo, e não apenas ficar falando platitudes com linguagens floridas.

Disclaimer: David Veksler\ Mises.org.br A informação contida nestes artigos, ou em qualquer outra publicação relacionada com o nome do autor, não constitui orientação direta ou indicação de produtos de investimentos. Antes de começar a operar no SFN - Sistema Financeiro Nacional o leitor deverá aprofundar seus conhecimentos, buscando auxílio de profissionais habilitados para análise de seu perfil específico. Portanto, fica o autor isento de
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