Polícia realiza operação nos Complexos da Penha e Alemão
Menciono inicialmente o que é de domínio público, amplamente divulgado pela imprensa, confirmado por dados oficiais e referendado por especialistas em segurança pública:
Vários Estados do país, como Bahia e Ceará, já esgotaram suas capacidades de enfrentamento ao crime organizado;
O chamado “êxodo urbano de guerra”, em que famílias são expulsas de suas casas, é uma realidade nas periferias de diversas cidades brasileiras;
As barricadas nas comunidades delimitam territórios explorados pelos criminosos, que atuam com a venda de cigarros paraguaios, fornecimento de internet e gás superfaturado, além da extorsão do comércio local. Essas barreiras impedem o acesso de serviços públicos, como o SAMU e a limpeza urbana. Ou seja, a população vive sob o domínio do medo. Um dado relevante: a venda de maconha e cocaína deixou de ser a principal fonte de renda dessas organizações;
O Comando Vermelho controla mais de mil favelas no Rio de Janeiro e atua em 24 estados e no Distrito Federal, consolidando-se como a maior organização criminosa em atividade no Brasil. A presença de lideranças de Goiás, Espírito Santo, Bahia, Ceará, Amazonas e Pará no dia da megaoperação comprova essa estrutura nacional;
Estima-se que cerca de 4 milhões de pessoas vivam sob o domínio do crime organizado no Rio. “Inferno”, “medo” e “tiroteio o tempo todo” são expressões corriqueiras entre moradores dessas áreas;
O local da megaoperação policial é o QG nacional do Comando Vermelho;
A ação policial foi baseada em ordens judiciais de prisão e de busca e apreensão, com o conhecimento do Ministério Público — portanto, uma ação legítima do Estado no cumprimento da lei;
Mais de 100 pessoas foram presas e cerca de 120 armas apreendidas, sendo quase 100 fuzis, provenientes da Bélgica, Alemanha, Rússia, Venezuela, Argentina e Peru, que entraram no país principalmente pelas fronteiras amazônica e paraguaia. Parte do armamento é fabricada em fábricas clandestinas em São Paulo e Minas Gerais;
A maioria dos mortos no confronto possui histórico criminal grave;
Há apuração em curso sobre possível fraude processual, envolvendo moradores que teriam removido corpos e retirado roupas táticas, coletes e armamentos de mortos encontrados na mata;
A ampla aprovação popular à operação tem gerado esperança de dias melhores.
Entendo que a tática empregada pelas forças de segurança, ao buscar deslocar os criminosos para fora das áreas de maior densidade residencial, teve como objetivo central proteger vidas inocentes e reduzir ao mínimo os danos colaterais. Em cidades onde favelas e bairros populares convivem com rotas e esconderijos do crime, qualquer confronto direto em áreas densamente povoadas expõe civis — moradores, crianças, trabalhadores — a riscos inaceitáveis. Assim, ao priorizar a retirada do confronto desses locais, a operação demonstrou sensibilidade operacional e compromisso com o princípio básico de proteção da população.
Essa abordagem foi possível graças a um trabalho prévio intenso de inteligência, planejamento e coordenação entre unidades. Mapear fluxos, antecipar reações, controlar perímetros e criar corredores seguros para a circulação de policiais e civis permitiu que a manobra ocorresse de forma calculada, reduzindo a presença de terceiros no campo de tiro. O resultado buscado não era apenas prender ou neutralizar criminosos, mas fazê-lo em condições que preservassem o máximo possível a vida e a integridade de quem não participa do conflito.
Quando os criminosos, pressionados a sair das vielas e becos onde impunham seu domínio, se depararam com uma tropa especializada preparada para o confronto em área aberta, a dinâmica mudou: diminuiu a exposição de civis, aumentou a previsibilidade das ações e foi possível controlar melhor os riscos inerentes ao uso da força. Essa previsibilidade e esse controle são fundamentais não apenas para a eficácia da operação, mas também para sua legitimidade perante a lei e a sociedade. Operações bem planejadas, com foco em controlar o cenário do confronto, reduzem erros, equívocos e tragédias evitáveis.
É importante ressaltar, contudo, que essa tática exige limites claros e fiscalização rigorosa. A força policial deve agir dentro do marco legal, com ordens judiciais válidas. A transparência sobre motivações, procedimentos e resultados é essencial para manter a confiança da população — afinal, a presença do Estado na comunidade só se consolida se houver percepção de justiça e proteção, e não apenas de coerção.
Por fim, mesmo quando a resposta é bem-sucedida, o êxito operacional precisa ser acompanhado de medidas estruturantes: presença continuada do Estado, oferta de serviços públicos, ações sociais e investigação permanente para evitar a recomposição das estruturas criminosas. A tática de deslocar o confronto para locais mais seguros, permitindo o enfrentamento por tropas especializadas, cumpre nesse contexto uma função humanitária e estratégica — desde que aplicada com controle, responsabilidade e visão de longo prazo.
O Mato Grosso do Sul tem papel relevante nesse contexto nacional, por fazer divisa com dois países produtores de drogas, onde crimes transnacionais como o tráfico, o contrabando de cigarros e armas são uma realidade constante.
Finalizo reforçando a necessidade de:
- Instituir um percentual constitucional do orçamento federal destinado à segurança pública;
- Tipificar penalmente condutas como a expulsão de moradores das periferias;
- Melhorar a estrutura dos órgãos federais na faixa de fronteira;
- Ativar integralmente o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON);
- Empregar as Forças Armadas na região fronteiriça, por questão de soberania nacional;
- Efetivar o Tratado da Rota Bioceânica;
- Implementar o ciclo completo de polícia;
- Assegurar a presença permanente do Estado nas áreas retomadas.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

