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Economia

Casões à venda encalham nos bairros antes considerados em valorização

Quem tem dinheiro para gastar tanto em um imóvel, hoje quer a segurança de condomínio fechado

Gabriel Neris | 15/06/2019 08:47
Residência no Jardim Bela Vista, na Capital, é vendida por R$ 2,3 milhões (Foto: Paulo Francis)
Residência no Jardim Bela Vista, na Capital, é vendida por R$ 2,3 milhões (Foto: Paulo Francis)

Basta passar pelas áreas nobres de Campo Grande ou uma busca rápida pela internet para se deparar com inúmeras mansões com placa de oferta em frente ao portão, e cifras que superam fácil os sete dígitos.

São casas para todos os gastos. Na consulta ao site Info Imóveis, por exemplo, é possível verificar uma residência que atinge os R$ 8 milhões para venda com mais de 1,6 mil metros quadrados no Itanhangá Park, com 9 quartos e 7 vagas para carros na garagem. Em outra região cara da cidade, na Chácara Cachoeira, os valores são mais “modestos”, chegando a R$ 5,3 milhões em uma área de 542 metros quadrados.

Para o gerente de empreendimentos e economista, Sérgio Gonçalves, de 51 anos, entre os aspectos que ajudam a explicar tanto casarão encalhado está o perfil de consumo do campo-grandense, porque esse é o tipo de negócio que não enfrenta crise.

“Este segmento do mercado, casas de alto padrão, não atravessa crise. Apesar de a economia estar num momento difícil, o mercado de alto padrão está sempre bem. Quem compra imóvel acima de R$ 1,5 milhão não está atravessando muita crise. Não segue a mesma lógica racional da economia”, explica.

Segundo ele, há uma característica que pode estar influenciando o mercado imobiliário. Quem tem dinheiro para gastar tanto em um imóvel, hoje quer garantir segurança. “As pessoas estão optando por imóveis em condomínio fechado. Comprar o terreno e construir. Num primeiro momento o condomínio oferece segurança maior, conforto de casa e segurança de apartamento. Segundo, por questão econômica: comprar terreno, ter um bom arquiteto, fazer o projeto é financeiramente mais viável”, diz.

Residência à venda na Chácara Cachoeira aguarda por novo dono (Foto: Paulo Francis)
Residência à venda na Chácara Cachoeira aguarda por novo dono (Foto: Paulo Francis)

O gerente de empreendimentos cita ainda outro aspecto, a arquitetura ultrapassada. “A obsolescência de projeto. A arquitetura vai evoluindo. As casas mais antigas também ficam um pouco mais na ‘prateleira’”, diz. Segundo ele, algumas chegam a ficar à venda de 2 a 4 anos.

“Existem conceitos de projetos mais funcionais. Antigamente se valorizava mais projetos de 380 metros quadrados de área construída. Hoje em dia os projetos de alto padrão são de 150 a 200 metros quadrados, mais práticos. O perfil do consumidor também mudou. A nova geração, de 25, 30 anos, que começa a mandar no mercado, não tem a mesma visão de imóvel como bem patrimonial. Tem como bem de consumo necessário. Imóvel precisa ser funcional, prático, bem localizado, com projeto enxuto, por isso as opções de condomínios. Não compensa ter piscina em casa, dá gasto, trabalho, usa-se pouco. O conceito é de uso compartilhado, como espaços gourmets”, diz.

O presidente do Creci-MS (Conselho Regional de Corretores de Imóveis – 14ª Região), Eli Rodrigues, diz que o setor foi fortemente atingido pela crise econômica do Brasil, mas que o mercado passa atualmente por uma fase especulativa.

“Tem uma questão, o mercado gira em meio à expectativa. Quando aumenta a faixa de financiamento de maiores valores, vai atingir esses imóveis. As pessoas estão mais cautelosas na hora de fazer a comprar. Todos esperavam que fosse melhorar muito, mas infelizmente a política está atrelada e freia a economia”, explica.

Casa está à venda por R$ 2,6 milhões na Chácara Cachoeira (Foto: Paulo Francis)
Casa está à venda por R$ 2,6 milhões na Chácara Cachoeira (Foto: Paulo Francis)

Segundo ele, tradicionalmente o segundo semestre costuma ser melhor que o primeiro, e esta é a expectativa para os próximos seis meses. “Os valores estão subindo, quem compra uma casa de R$ 600 mil vai comprar de maior valor”, diz.

Ele afirma que já há movimentação na procura de residências da faixa de R$ 300 a R$ 600 e que, consequentemente, a busca chegará às casas de patamar ainda maior. “A medida que tem subido, terá pessoas procurando casas de R$ 1 milhão. A tendência é que vai começar a aquecer”.

Questionado se a procura por casas em condomínio “prejudicam” a venda dessas mansões, o presidente do Creci-MS avalia que não há relação e que o mais determinando no caso é o perfil do futuro proprietário. “Quem gosta de condomínio fechado gosta só de condomínio fechado”.

Há quase um ano o governo federal anunciou um pacote de regras de financiamento imobiliário para facilitar a compra da casa própria. Entre as medidas estava a elevação para até R$ 1,5 milhão do limite do valor dos imóveis que poderão ser adquiridos por trabalhadores com uso do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

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