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Economia

Contra o vício ou pelos filhos, vender no semáforo vai além da necessidade

Mariana Castelar | 13/04/2016 16:43
Vender produto nos semáforos é opção encontrada por pessoas que querem complementar a renda e até mudar de vida. (Foto: Marcos Ermínio)
Vender produto nos semáforos é opção encontrada por pessoas que querem complementar a renda e até mudar de vida. (Foto: Marcos Ermínio)

Trabalhando como segurança na rua Bom Pastor à noite, Joercílio Borges de Moraes, 42, encontrou nos semáforos de Campo Grande uma forma de complementar a renda e sustentar sua família. Para sair do convencional água e bala, resolveu vender panos de prato e afirma que o negócio tem dado certo.

A iniciativa é nova. Faz duas semanas que Joercílio passa os dias nos semáforos, oferecendo quatro panos de prato por R$ 10. “Tem lugar que você vende bem e tem alguns que não vende nada, mas estou aprendendo. Quando vejo que o da Via Parque está ruim, vou para outro lugar. E essa rotina começa às 8h e vai até às 17h”.

A jornada como segurança começa às 18h e geralmente vai até meia-noite. “Mas tem dias que eu arrumo um bico e fico das 18h até às 6h”, diz. Ele explica que toda a correria e força de vontade tem motivo: três filhos para sustentar.

Com o dinheiro do emprego, mais os bicos que faz diariamente, Joercílio afirma que consegue pagar as contas. “Você não pode deixar a crise chegar dentro de casa. Tenho dois meninos de 16 e 12 anos e uma filha de 7. Eles precisam de mim, e por isso estou aqui”.

Mas antes de se arriscar nas vendas, o segurança conversou com florista que também vende no semáforo. Ele afirma que só começou depois de conversar, estudar e entender como funcionava. “Claro que mesmo entendendo há risco, mas precisava que ele fosse bem pequeno pra não fazer coisa errada”.

Para sustentar seus três filhos, Joercílio trabalha nos semáforos durante o dia e é segurança à noite (Foto: Marcos Ermínio)
Para sustentar seus três filhos, Joercílio trabalha nos semáforos durante o dia e é segurança à noite (Foto: Marcos Ermínio)

E não é apenas Joercílio que paga suas contas com a venda nos semáforos. Sorridente e oferecendo pipoca doce, Adriano Cardoso da Silva, de 34 anos, é ex-morador de rua, ex-dependente químico e essa foi a forma que ele encontrou de mudar de vida.

Há pouco mais de um ano ele resolveu largar o vício e trabalhar. Como não conseguia nenhum emprego formal, resolveu ir para os semáforos. “Comecei com Halls, depois Trident, mas nada dava certo. Foi quando resolvi vender a pipoca doce há uns oito meses e não parei mais”. Ele conta que compra as pipocas direto do fabricante e leva 150 saquinhos por dia, que vende todos das 8h às 15h.

E o preço? Segundo ele, o que os motoristas puderem pagar. “Chego sorrindo e falando: Vamos dar uma ajuda e comprar uma pipoquinha? E aí, se o cliente tem R$ 0,50 já pode levar. Já teve casos de criança quererem e a mãe não ter dinheiro e eu dar de graça. Já passei vontade e não é legal ver isso”.

Adriano conta que chegou a receber cesta básica de um motorista e até R$ 100 de outro. “Há uns 15 dias o motorista me perguntou quantas pipocas eu dava pra ele por aquele cesta, eu disse que dava todas que eu tinha, mas ele pegou um saquinho por aquela comida toda. Outra vez o motorista falou que me via sempre aqui, me achou simpático e me deu R$ 100. Quase chorei com esses dois”.

Com um lar e longe das drogas, o vendedor hoje ajuda na renda de casa. “Moro com meus pais que são velhinhos e meio doentes e com mais quatro irmãos. Nossa casa, tá toda certinha, e tenho muito orgulho do que conquistei.

Há quase um ano na região, Adriano conta que já ganhou cesta básica e uma nota de R$ 100 (Foto: Marcos Ermínio)
Há quase um ano na região, Adriano conta que já ganhou cesta básica e uma nota de R$ 100 (Foto: Marcos Ermínio)
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