ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 29º

Economia

Em MS, só 73 aderiram à tarifa branca, mas consumidor notou economia

O sistema entrou em vigor em janeiro de 2018 para quem consumia mais de 500 kWh por mês e neste ano passou a valer também para quem consome a partir de 250 kWh

Tatiana Marin | 17/02/2019 09:24
Opção pela tarifa branca deve ser avaliada para não causar aumento na conta de energia elétrica. (Foto: Paulo Francis)
Opção pela tarifa branca deve ser avaliada para não causar aumento na conta de energia elétrica. (Foto: Paulo Francis)

A tarifa branca de energia elétrica já completou um ano prometendo gerar economia para determinados consumidores, mas nem sempre isso acontece. O sistema entrou em vigor em janeiro de 2018 para quem consumia mais de 500 kWh por mês e neste ano passou a valer também para quem consome a partir de 250 kWh. Mas poucos sabem o que é a tarifa branca, como ela funciona e se realmente é vantajosa para seu caso.

A medida da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) visa estimular os consumidores a priorizarem o consumo da energia nos horários em que o sistema está ocioso, através de uma tarifa diferenciada. Mas o uso da energia deve ser evitado no horário de pico, quando a tarifa é mais cara.

“Há incentivo através da tarifa, para a população utilizar a energia fora do horário de ponta, consumir apenas na hora que o sistema está mais ocioso, assim evita a sobrecarga e exige menos do sistema”, explica Ercilio Diniz Flores, gerente comercial da Energisa. Entretanto, “se usar no período de ponta, o consumidor é penalizado”, adiciona.

Segundo a Energisa e a Aneel, o uso da tarifa branca, quando respeitados os horários fora de ponta, pode gerar uma economia de até 20%. O gráfico abaixo mostra a variação do custo da energia de acordo com o horário utilizado, tanto para consumidores residenciais, comerciais ou rurais. Por exemplo, o custo do kWh da energia para um consumidor residencial ficaria 92% mais caro se utilizado no horário de ponta, mas ficaria 20% mais barato, se utilizado fora do horário de ponta.

Gráfico comparativo de tarifas para consumidores residenciais, comerciais e rurais. (Fonte: Aneel/Energisa)
Gráfico comparativo de tarifas para consumidores residenciais, comerciais e rurais. (Fonte: Aneel/Energisa)

Em vigor há pouco mais de um ano, apenas 73 unidades consumidoras de Mato Grosso do Sul estão utilizando a tarifa branca atualmente. Entre eles, 76,7% são consumidores do tipo comercial, 15,1% do tipo residencial, 5,5% são estabelecimentos de serviços públicos e 2,7% rural.

O total é irrisório ante os 1.018.295 clientes da concessionária de energia elétrica no Estado, mas devido à resolução da Aneel, apenas 228.152 unidades consumidoras (22,4%) estão aptas a aderirem ao novo sistema de cobrança - aqueles que têm consumo médio acima de 250 kWh. Ainda assim, representa apenas 0,03% do recorte.

Para Rosimeire Cecília da Costa, presidente do Concen-MS (Conselho dos Consumidores de Energia Elétrica da Área de Concessão da Energisa), dois fatores podem contribuir para a baixa adesão da população. “Nós achamos que não houve divulgação adequada por parte da Aneel e da Energisa. E, pela resolução, até ano passado, apenas quem quem consumia mais de 500 kWh poderia aderir”, menciona.

“Esse ano baixou para 250 kWh e ano que vem qualquer consumidor estará apto”, afirma Rosimeire, o que pode elevar o número de consumidores a escolherem o método diferenciado de tarifação.

Avaliação de quem aderiu

Na casa da professora Juliana Moreno Cavalheiro, o novo formato de tarifação foi instalado em fevereiro do ano passado e a família de três pessoas notou a economia. Assim que souberam pelos noticiários, decidiram optar, já que a conta de energia estava alta.

“No primeiro mês não diminuiu, mas nos meses seguintes caiu de R$ 750,00 para R$ 500,00”, conta. Entretanto foi necessária certa disciplina. “Tentamos só ligar ar condicionado depois das 21h30 e deixar para usar mais nos finais de semana, quando a tarifa é menor”, explica ela.

A empresa de Marco Aurélio em novo prédio, com mais equipamentos e economia com a tarifa branca. (Foto: Arquivo Pessoal)
A empresa de Marco Aurélio em novo prédio, com mais equipamentos e economia com a tarifa branca. (Foto: Arquivo Pessoal)

O maior problema é quando todos chegam em casa, por volta das 17h30 e precisam esperar para utilizar o chuveiro apenas depois das 21h30. “Procuramos respeitar o horário, nem sempre é possível, às vezes não conseguimos, mas estamos nos esforçando”, detalha. A família não deixa de assistir TV, por exemplo, mas atividades como passar roupa e tomar banho, de preferência, fora do horário de ponta.

Na distribuidora de lingerie do empresário Marco Aurélio de Oliveira, a percepção de economia também foi positiva. A decisão aconteceu entre abril e maio do ano passado e neste mesmo período ele mudou para prédio maior e adquiriu mais equipamentos, como condicionadores de ar e computadores. Mesmo assim observou a redução da conta de luz.

Número de equipamentos e funcionários foi mantido, mas a economia já não é tão interessante na empresa de Francisco. (Foto: Paulo Francis)
Número de equipamentos e funcionários foi mantido, mas a economia já não é tão interessante na empresa de Francisco. (Foto: Paulo Francis)

“Cheguei a pagar até R$ 1.500,00 no período de verão anterior. A conta que vou pagar nesta semana é de R$ 839,00”, conta o empresário. A empresa encerra as atividades às 17h, dentro do período intermediário. Ele conta que trocou os aparelhos de ar condicionado por modelos novos, que gastam menos energia, entretanto, destaca que aumentou o número de equipamentos e acredita que o fator responsável para a economia seja a tarifa branca.

Francisco observou economia de apenas 10% nos primeiros meses. (Foto: Paulo Francis)
Francisco observou economia de apenas 10% nos primeiros meses. (Foto: Paulo Francis)

Já para o empresário Francisco Vieira da Rosa, dono de uma empresa de desenvolvimento de software, a economia foi maior logo que ele aderiu à tarifa branca, no começo do ano passado e tem dúvidas se ainda é vantajoso. “Não foi uma economia tão grande, foi uns 10%. Com o tempo, com os aumentos que são dados na conta de luz, foi subindo. Se a companhia conseguisse fornecer quanto seria o custo na tarifa normal, seria interessante”, questiona ele.

Francisco explica que não houve aumento do quadro de funcionários ou equipamentos que tenha causado o crescimento do consumo, entretanto ele não chegou a verificar na conta de energia se há indicação consumo maior ou se trata-se apenas de reajustes de tarifa ou bandeiras tarifárias.

Como funciona e quanto custa

A tarifa normal de energia elétrica na área de concessão da Energisa é de R$ 0,54 por kWh consumido, sem considerar impostos, tarifa de uso do sistema de distribuição e bandeiras.

A tarifa branca tem valores diferenciados, dependendo do horário. Durante o horário de verão, o período entre as 22h30 e as 16h30 do dia seguinte, o valor cai para R$ 0,43 por kWh. Já, entre as 16h30 e as 22h30, período que compreende os horários intermediários e o horário de ponta, os valores sobem para R$ 0,66 kWh e R$ 1,04 kWh respectivamente.

Gráfico que mostra a incidência dos diferentes valores da tarifa branca ao longo do dia. (Fonte: Aneel/Energisa)
Gráfico que mostra a incidência dos diferentes valores da tarifa branca ao longo do dia. (Fonte: Aneel/Energisa)

Fora do horário de verão o horário de ponte é das 17h30 às 20h30. O intermediário vai das 15h30 às 17h30 e das 20h30 às 21h30. O período fora da ponta é compreendido entre as 21h30 e as 15h30 do dia seguinte.

As tarifas intermediárias e de ponta são aplicadas de segunda a sexta-feira. Nos finais de semana e feriados, apenas a tarifa fora de ponta será aplicada.

Normalmente, a tarifa branca é mais vantajosa para estabelecimentos comerciais que encerram as atividades por volta das 17h e não há consumo de energia após este horário. Mas consumidores residenciais que têm a rotina diferenciada ou disciplina para adequar hábitos, também podem verificar economia se aderirem a esse sistema.

“Quem decidir, não pode usar ferro, ar condicionado, máquina lavar louça e chuveiro no horário de ponta. Tudo que faria no final da tarde, não pode fazer mais, só depois das 22h. Quem não consegue mudar hábitos, pode acabar pagando mais caro”, alerta Rosimeire. “Precisa haver mudança de hábito, senão não é vantagem. Tem que avaliar para não ter surpresa”, reforça Ercilio.

A tabela abaixo compara a conta de energia tanto na tarifa normal (em azul) como na tarifa branca (em verde), quanto ficaria a conte de energia em duas situações de consumo. Na primeira, um consumidor que não adequou os hábitos e, na segunda, outro que realizou mudanças em seu consumo, dimuindo o uso de energia nos horários de ponta e intermediário.

Gráfico comparativo de consumo. (Fonte: Aneel/Energisa)
Gráfico comparativo de consumo. (Fonte: Aneel/Energisa)
Nos siga no Google Notícias