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Economia

Em MS sobra energia, mas falta estrutura para oferta do excedente

Governo pediu providências, como a inclusão do Estado nos próximos leilões de transmissão

Por Maristela Brunetto | 11/11/2025 11:29

Em MS sobra energia, mas falta estrutura para oferta do excedente
Rede de alta tensão na saída para Três Lagoas: MS pede à União mais investimentos para gigantes distribuírem energia excedente (Foto: Marcos Maluf)

RESUMO

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Mato Grosso do Sul enfrenta desafios na distribuição de energia elétrica, apesar da produção excedente. Grandes empresas, como fábricas de celulose e usinas de álcool, geram mais energia do que consomem, mas a falta de infraestrutura de transmissão impede o aproveitamento desse excedente no sistema nacional. O governo estadual solicitou ao Ministério de Minas e Energia a inclusão de MS nos próximos leilões de transmissão. Além disso, há demanda crescente por energia para novos setores, como a irrigação de laranjas e milho. A Energisa, concessionária local, recebeu 1.300 pedidos de novas ligações, e um projeto para auxiliar pequenos produtores está em desenvolvimento.

Em outros tempos, a chegada de grandes empresas poderia causar preocupação com a oferta de energia. Mato Grosso do Sul está longe desse gargalo, mas enfrenta outro problema relacionado ao setor. O processo industrial das grandes fábricas de celulose e usinas de álcool de cana produz energia de sobra, enquanto suas turbinas funcionam, e parte disso se perde porque falta infraestrutura de transmissão para receber esse excedente que poderia ser distribuído.

Em outra abordagem da matriz elétrica, há também a necessidade de ampliação da rede para novos empreendimentos, como a irrigação do cultivo da laranja, e ainda apoio aos pequenos, em um projeto que está sendo elaborado pela Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).

O Governo do Estado já relatou o gargalo à Secretaria de Energia do MME (Ministério de Minas e Energia) e pediu providências, como a inclusão de MS nos próximos leilões de transmissão, estrutura organizada pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Hoje, o Estado está na chamada cota zero para leilões de transmissão, explicou o titular da Semadesc, Jaime Verruck. Isso significa que as grandes empresas têm excedente de energia gerado por suas turbinas, mas não terão como colocá-lo no mercado.

A Suzano, por exemplo, criou rede e consegue distribuir a energia que sobra da queima de biomassa para produzir celulose até a subestação Mimoso, em Ribas do Rio Pardo, onde ela ingressa nas linhas que atendem o sistema nacional. A Arauco, que está construindo sua unidade em Inocência, fará um linhão até Ilha Solteira (SP), na divisa com o estado, mas também será preciso haver melhor condição de recebimento de oferta de energia.

Em MS sobra energia, mas falta estrutura para oferta do excedente
Secretário da Semadesc em entrevista ao Campo Grande News (Foto: Arquivo)

A Bracell, em processo de licenciamento da sua fábrica em Bataguassu, terá que construir uma rede de 155 km até Ivinhema e, igualmente, não terá a certeza de que haverá condição de fornecer essa energia, por falta de capacidade das redes de transmissão e das subestações. Essa energia chega por linhas particulares e, ali, é rebaixada nas subestações para a Energisa fornecer aos consumidores ou vai para consumo em todo o país.

Verruck menciona o caso da Bracell porque já foi tratado no MME. O plano de investimentos para quem vencer o leilão para investir naquela região prevê aplicação de recursos para 2032, gerando uma longa lacuna quando a fábrica for ativada. Essas grandes indústrias, pelas dimensões das turbinas, chegam a produzir 400 MW de energia renovável, sendo cerca de metade excedente e ofertada ao sistema nacional.

“Você tem produção de energia limpa, tem capacidade de colocar na rede, de disponibilizar. Aí, nós temos um crescimento da geração do Estado, que é muito positivo, e esse é hoje um gargalo de conexão de grandes empreendimentos para vendedores de energia”, analisou. Conforme ele, há interessados em investir no setor, mas a União precisa abrir os leilões para ampliação da transmissão.

Em MS sobra energia, mas falta estrutura para oferta do excedente
Unidade da Bracell no interior de São Paulo é exemplo que como deve ser a instalação em MS (Foto: Divulgação)

Na nota técnica que entregou ao ministério, o Executivo estadual menciona que vivencia “expressivo crescimento industrial e agroenergético”, citando os setores de celulose, biomassa e energia solar, condição que gerou “forte expansão da oferta de energia elétrica e da geração distribuída” e aponta que são necessárias “soluções operativas de curto prazo para mitigar risco de colapso nas três regiões em relação a novos negócios”, mesmo que o atendimento seja em caráter provisório até soluções definitivas. As regiões destacadas são as divisas com São Paulo e Paraná e a fronteira com a Bolívia.

Há ainda municípios mencionados nas notas, como Rio Brilhante, Iguatemi e Chapadão do Sul, onde há tanto excesso de oferta de energia de indústrias quanto de energia fotovoltaica, a energia solar. O pedido é de linhas de transmissão e subestações. A falta de estrutura para adicionar energia nas redes de transmissão está represando investimentos na geração, segundo Verruck.

Em MS sobra energia, mas falta estrutura para oferta do excedente
Plantação de laranja em Sidrolândia: setor aposta em MS e precisa de energia para irrigação (Foto: Arquivo)

Irrigação e pequeno produtor – Se, por um lado, há a demanda das grandes indústrias, por outro, também há pedidos para a ampliação do fornecimento de energia, a fim de impulsionar novos setores, como a citricultura, que precisa de irrigação. Nesse caso, a infraestrutura é atribuição da Energisa.

Conforme o secretário, a concessionária recebeu quantidade recorde de pedidos de novas ligações: 1.300. Ele cita como exemplo a Cutrale, que receberá uma rede saindo de Campo Grande rumo a Sidrolândia, onde planta 5 mil hectares de laranja, uma empreitada de R$ 3 milhões a ser repartida entre empresa e concessionária, conforme o secretário.

Esse é um setor em expansão no Estado após a praga atingir as plantações em São Paulo. Outro cultivo em expansão é o do milho, para o fornecimento a fábricas de biocombustíveis e que igualmente precisará de irrigação.

Verruck informou que, no ano passado, para dimensionar seus investimentos, a Energisa procurou a pasta para saber os empreendimentos listados e hoje é considerada parceira no caminho de encontrar formas de agilizar o fornecimento. Chegou-se a um orçamento de R$ 800 milhões em rede, disse. “Estamos emparceirados, não tem ninguém jogando contra”, resume o secretário sobre a ampliação da oferta de energia.

 Diferente das empresas que podem custear investimentos em rede para atender à irrigação ou movimentar máquinas, por exemplo, o governo está mapeando pequenos produtores que precisam de ajuda no acesso à energia para ampliar suas atividades, como uma leiteria, um picador de pasto para o gado, máquinas para processar alimentos e granjas. Para esses, haverá auxílio para conexão à rede trifásica. O volume destinado e a quantidade de pessoas beneficiadas serão definidos até o começo do ano que vem pela equipe da Semadesc, quando está previsto o anúncio do projeto.