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Arquitetura

Fotos antigas de pontos da cidade emocionam quem viu Campo Grande crescer

Muitos cenários estão irreconhecíveis, mas as imagens registradas há décadas trazem de volta um tempo de sonhos de ser maior

Thailla Torres | 26/08/2018 07:10
Foto tirada em 1989 antes da inauguração do Shopping Campo Grande, em região quase irreconhecível. (Foto: Roberto Higa)
Foto tirada em 1989 antes da inauguração do Shopping Campo Grande, em região quase irreconhecível. (Foto: Roberto Higa)
Hoje, 29 anos depois, a transformação da cidade é evidente, com os grandes prédios no entorno. (Foto: Allan Keesse Fly Drone)
Hoje, 29 anos depois, a transformação da cidade é evidente, com os grandes prédios no entorno. (Foto: Allan Keesse Fly Drone)

As fotos guardam memórias diversas. Ao olhar o retrato antigo, há quem não reconheça, mas é questão de segundos para fazer lembrar do passado e ver o sentido que alguns locais deram a Campo Grande. Com retratos antigos em mãos, o Lado B foi em busca de pessoas que nunca conseguiram esquecer grandes chegadas na cidade, especialmente, da Antiga Rodoviária, do Shopping Campo Grande e do Belmar Fidalgo

Tirada em 1989, a fotografia acima é um dos retratos que mais deixa evidente o desenvolvimento da Capital nas últimas décadas. Sem grandes construções em volta, quem pisou primeiro no Shopping Campo Grande nunca foi capaz de esquecer a poeira que marcou a inauguração, nem o desafio de se tornar lojista no maior prédio comercial da época, com mais de 100 lojas.

Marisa Mujica foi uma das pioneiras no shopping da Avenida Afonso Pena. "Eu ficava pensando: será que vou dar conta de ser dona de loja em um shopping tão grande? Mas entre sorrisos e tragédias, abri minha loja", lembra.

A empresária conta que a placa de lançamento chegou à cidade cerca de 5 anos antes da inauguração, que ocorreu em outubro de 1989, quando já era dona da Bougainville, a sua primeira loja de roupas femininas, na Rua Maracaju. "Quando eu quis ter uma nova loja fiquei dividida entre o Centro e o shopping. Mas depois trabalhava dia e noite na construção da minha loja". 

Naquele tempo, além da poeira, Marisa conta os desafios com a falta de mão de obra na cidade. "Eu conto e ninguém acredita. Mas cheguei ao ponto de dormir dentro da construção para nenhum outro lojista pegar meu marceneiro. Era uma disputa naquela época".

Quando o shopping ficou pronto, ela não teve forças de aparecer na inauguração. "Estava exausta. Assim como outros lojistas, trabalhamos muito naquele tempo. Mas o que assustava mesmo era a poeira, tinha terra para todo lado".

A empresária chegou a ser dona de 13 lojas, juntos dos filhos. "Todos tiveram participação no shopping comigo, abriram lojas, trabalharam duro e eu sempre me orgulhei disso", comemora. Mas se a chamassem de volta para o shopping? "Nem de graça. Estou muito bem aqui", finaliza.

Vista da Praça Belmar Fidalgo em 1970, local que já foi o principal estádio da cidade. (Foto: Roberto Higa)
Vista da Praça Belmar Fidalgo em 1970, local que já foi o principal estádio da cidade. (Foto: Roberto Higa)
De cima hoje, ele fica bem menor por conta dos prédios construídos na região. (Foto: Allan Keesse Fly Drone)
De cima hoje, ele fica bem menor por conta dos prédios construídos na região. (Foto: Allan Keesse Fly Drone)

O Belmar Fidalgo, que já foi o principal estádio da cidade, é outro cenário que está na memória afetiva do campo-grandense. Fernando Joaquim, de 80 anos, mora em frente à praça, localizada no Centro de Campo Grande, e tem o espaço como o quintal de casa desde a infância. "Joguei muito aqui, já participei de time amador e ganhamos bons campeonatos", lembra com sorriso de quem nunca esqueceu os bons tempos da juventude.

Ainda menino, era em cima de um caminhão que Fernando saia com um grupo de meninos da Vila dos Ferroviários, com destino ao Belmar. "Tinha campeonato todo sábado e domingo. Naquela época não era aquele profissionalismo todo, nem todo mundo tinha condições, mas a gente vinha para se divertir".

As quadras, que hoje dominam o espaço, ainda não existiam. O destaque era o campo gramado, as traves de ferro e arquibancada de madeira que chegava a balançar com a alegria das famílias. "Isso daqui lotava. E não tinha só homem, eram famílias inteiras prestigiando os jogos".

O Belmar fica em um terreno doado em 1933 por João Tessitore Junior. E nos termos da doação, o campo-grandense colocou uma cláusula eterna, que impedia que nesse terreno fosse construído qualquer outro tipo de prédio, senão para a prática de esportes.

Seu Joaquim comemora. "Ainda bem, é o único lugar no Centro da cidade que você vê tanta gente se exercitando. Isso daqui é o ânimo de muita gente".

Na foto antiga, Joaquim também enxerga a construção de um dos prédios mais antigos da região, que hoje foi escondido pelas novas construções. "Veja só, não tinha nada. Isso aqui era só mato. Naquele tempo, tudo que existia do lado direito do Belmar era chácara. No matagal a gente até caçava".

Fotografia de 1973, ainda na construção da Antiga Rodoviária de Campo Grande, no Amambaí. (Foto: Arquivo Anos Dourados CG)
Fotografia de 1973, ainda na construção da Antiga Rodoviária de Campo Grande, no Amambaí. (Foto: Arquivo Anos Dourados CG)
Mesmo ângulo, mas no cenário atual, quando os comerciantes lutam pela valorização do lugar que já foi 'point' na cidade. (Foto: Henrique Kawaminami)
Mesmo ângulo, mas no cenário atual, quando os comerciantes lutam pela valorização do lugar que já foi 'point' na cidade. (Foto: Henrique Kawaminami)

Nestes 119 anos de Campo Grande muita coisa mudou. Os cenários não são os mesmos. Mas para alguns, a delícia de recordar o passado é saber que os melhores momentos não caíram no esquecimento.

Pelo menos para a cabeleireira Preta, de 60 anos, uma das primeiras pessoas a chegar no antigo Terminal Rodoviário de Campo Grande, no Bairro Amambaí. Ver a fotografia acima é matar a saudade do tempo que ela não tinha horário para almoçar dentro do complexo. "Era tanto trabalho. Eu só tinha tempo de comer uma coxinha e um refrigerante no almoço. Fazia cabelo o dia inteiro nessa rodoviária", recorda.

O momento mais triste ali dentro ficou marcado pelo silêncio. "Eu nunca vou esquecer o dia que cheguei aqui para trabalhar e não tinha mais barulho de ônibus. Foi aquele silêncio, aquela tristeza, sabia que muita coisa ia mudar".

Mesmo assim, Preta não desiste do cantinho que aluga até hoje por R$ 500,00. "Eu amo tanto esse lugar. Vivi tanta coisa boa aqui, criei meus filhos, fiz minha casa. Não tem porque eu sair daqui".

Das piores coisas que escuta sobre a atual situação do prédio, prefere ficar com o passado. "Tem gente que fala demais em violência, drogas e prostituição. Isso existe mesmo, mas quem só fala isso não viveu o que a gente teve sorte de viver de aqui dentro. Isso daqui era a diversão da cidade. Na década de 80, isso daqui lotava".

Desistir? Jamais. Mas se pudesse voltaria no tempo da foto de 1973 e esperaria, outra vez, ansiosa pela inauguração da rodoviária. "Foi muito bom quando ela chegou. Fez a nossa vida. Não dá pra esquecer. Queria essa cena aqui de novo".

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