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Comportamento

Afinal, quem chegou primeiro em Campo Grande, José Antônio ou Tia Eva?

Descendentes de TIa Eva solicitaram à Fundação Cultural Palmares, em Brasília, um estudo sobre os antepassados, para ter registros oficiais da chegada da ex-escrava

Thaís Pimenta | 26/08/2018 08:33
Comunidade São Benedito, criada por Tia Eva, é formada só por descendentes e o museu ocupa  casa do filho de José Antônio Pereira. (Foto: Thaís Pimenta/Henrique Kawaminami)
Comunidade São Benedito, criada por Tia Eva, é formada só por descendentes e o museu ocupa casa do filho de José Antônio Pereira. (Foto: Thaís Pimenta/Henrique Kawaminami)

Na sala de aula, as crianças aprendem que foi o mineiro José Antônio Pereira, nascido em Barbacena, o fundador de Campo Grande. Junto a uma comitiva desbravadora, ele teria saído de Minas Gerais e chegado à cidade depois de ter trilhado a mesma rota feita pelos salvadores da pátria, durante a Guerra do Paraguai. José saiu em 1872, disposto a encontrar terras que servissem a todos seus familiares.

Eurides Antônio da Silva é o presidente da Associação de Descendentes de Tia Eva. (Foto: Thaís Pimenta)
Eurides Antônio da Silva é o presidente da Associação de Descendentes de Tia Eva. (Foto: Thaís Pimenta)

Mas dizem que antes mesmo de José chegar à Capital, um povoado de negros já estava instalado na região. Ao menos é o que conta a historiadora e moradora da Comunidade Tia Eva, Vânia Lúcia Batista Duarte. "As comunidades negras naquela época tinham uma rede de informações, então quando Tia Eva veio para o nosso Estado, antigamente conhecido como Campos de Vacarias, outras comunidades datavam sua chegada antes de José Antônio", explica.

Como a história da comunidade e da ex-escrava Eva Maria de Jesus é contada de forma oral, transmitida de geração em geração. Não há documento oficial. Por isso, é difícil, como diz Vânia, provar o que os mais velhos sempre contaram aos mais novos. "O que eu tenho dito é que ela é cofundadora da cidade, e que chegou aqui em 1905, isso com certeza ela foi".

O presidente da Associação de Descentes da Tia Eva, Eurides Antônio da Silva, tataraneto da pioneira, já tomou providência para tirar as dúvidas e entender, de uma vez por todas, o passado da comunidade, mas sem nenhum registro histórico. Ele entrou em contato com a Fundação Cultural Palmares, em Brasília, solicitando um estudo dos antepassados.

"A gente acredita que não será um processo difícil. Mas precisamos entender e saber de onde viemos e quando chegamos aqui", avalia Eurides, que aguarda o estudo ser finalizado.

Mesmo assim, diz pouco se importar hoje com datas. Quer é reforçar a importância de Tia Eva na história. "Eu prefiro focar na importância que ela teve pra a cidade naquele período. Ela foi benzedeira, parteira, médica, mãe, tudo isso. Não tinha padre na cidade, na época, então até batizado quem fazia era a tia. As pessoas recorriam de tia Eva para ter seus filhos, vinham de longe".

Entrada do Museu José Antônio Pereira conta a história do fundador de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Entrada do Museu José Antônio Pereira conta a história do fundador de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Nos livros - A história oficial é detalhada, em trajetos e datas. Relata que José Antônio Pereira enfrentou três anos de caminhada até a chegada no dia 21 de junho à confluência de dois córregos, mais tarde batizados de Prosa e Segredo. No período, José estava com quase cinquenta anos de idade, ao menos é o que escreve o trineto dele, Eurípedes Alves Pereira, em um documento hoje no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS).

O museu que leva o nome do fundador está na Fazenda Bálsamo, terra doada por José Antônio a um dos filhos, Antônio Luiz Pereira. A pequena casa de pau-a-pique, o monjolo, o silêncio só encontrado na periferia semi-rural da cidade e um carro de boi nos remetem ainda à saga construída pelos pioneiros desbravadores do sertão.

"José Antônio Pereira, traçando os limites do povoado, denominou-o de Arraial de Santo Antônio de Campo Grande, em homenagem ao santo de sua devoção. Ele voltou para Minas para trazer o resto de sua família e outros desbravadores. Quando de mudança, passando por Santana do Paranaíba, foi obrigado a interromper por alguns meses sua viagem em virtude da malária que estava acometendo a população daquele lugar", pontua Eurípedes nos relatos.

Uma curiosidade é que José foi prático de farmácia e adepto da fitoterapia, considerado naquela época como um bom “médico”. "Em Santana de Paranaíba, ele permaneceu tempo suficiente para acabar com a epidemia, salvando muitas vidas, tanto nessa ocasião como em outras, até o fim de sua existência. Foi lá que fez uma promessa a Santo Antônio de Pádua, cuja imagem já o acompanhava, de construir uma igreja quando aqui chegasse, caso não perdesse um só dos seus. Esta foi a origem do abençoado nome da nossa querida Campo Grande", registra o documento.

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Mapa mostra o trajeto feito por José Antônio Pereira, de Monte Alegre de Minas até Campo Grande. (Foto: Acervo IHGMS)
Mapa mostra o trajeto feito por José Antônio Pereira, de Monte Alegre de Minas até Campo Grande. (Foto: Acervo IHGMS)
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