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Artes

Curta-metragem indígena retrata luta e espiritualidade de jovens LGBT

O filme nasceu dentro de territórios de resistência, a retomada em Douradina e a aldeia Jaguapiru, em Dourados

Por Thailla Torres | 09/09/2025 10:16
Curta-metragem indígena retrata luta e espiritualidade de jovens LGBT
Roteirista e ator Gualoy durante as gravações (Foto: Marcus Teles)

As câmeras desligaram na última semana em Douradina (MS), mas a energia que ficou no ar não cabe em palavras. Foram dias de gravação de Hendy’a Rapykwere, curta de 17 minutos que mistura documentário, ficção e realismo fantástico para contar uma história ainda inédita no cinema brasileiro, a luta e a espiritualidade de jovens indígenas LGBTQIAPN+.

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Em Douradina (MS), foram finalizadas as gravações de "Hendy’a Rapykwere", um curta-metragem que mescla documentário, ficção e realismo fantástico para abordar a luta e a espiritualidade de jovens indígenas LGBTQIAPN+. Filmado nas aldeias Jaguapiru, em Dourados, e na retomada em Douradina, o filme conta com um elenco totalmente indígena e uma equipe majoritariamente composta por pessoas negras, pardas e indígenas. A trama centraliza-se em Gualoy KG, liderança Guarani-Kaiowá do coletivo Juventude Indígena Diversidade, e na figura histórica de Tybyra do Maranhão, indígena Tupinambá executado em 1614 por "sodomia". A obra interliga o passado e o presente, destacando a resistência e a esperança da juventude indígena LGBTQIAPN+. Com investimento da Política Nacional Aldir Blanc, o curta busca espaço em festivais, mostras e universidades, visibilizando a urgência e a importância do cinema indígena LGBTQIAPN+ no Brasil.

O filme nasceu dentro de territórios de resistência, a retomada em Douradina e a aldeia Jaguapiru, em Dourados, a maior aldeia urbana do país. Com elenco 100% indígena e uma equipe formada em sua maioria por pessoas negras, pardas e indígenas, a obra já nasce como manifesto: ocupar o audiovisual com corpos, vozes e narrativas historicamente silenciadas.

No centro da trama está Gualoy KG, Guarani-Kaiowá de 20 anos, liderança do coletivo Juventude Indígena Diversidade. Ele empresta à tela não só sua história, mas também as dores e alegrias de quem desafia a violência colonial e religiosa que ainda pesa sobre corpos indígenas LGBTQIAPN+.

O filme, porém, não se limita ao presente. Do passado, ressurge a figura de Tybyra do Maranhão, indígena Tupinambá executado em 1614, considerado o primeiro registro de assassinato LGBTQIAPN+ das Américas. Condenado por “sodomia” pelos colonizadores franceses, Tybyra foi amarrado a um canhão e lançado ao mar. Agora, mais de quatro séculos depois, retorna como personagem de cinema, interpretado pela atriz trans indígena Andrya Kiga, do povo Bororo (MT).

“Tybyra tem a essência de um corpo livre, que não cabe em padrão nenhum. Sua alma é liberdade. Para mim, como mulher indígena trans, foi um privilégio trazer essa presença de volta à vida”, diz Andrya.

Para o diretor Marcus Teles, a força do curta vem justamente dessa mistura de real e mítico: “A cosmovisão indígena entende que espiritualidade, corpo e história caminham juntos. Esse filme só existe porque foi feito coletivamente, com cada vivência da comunidade moldando o roteiro”.

A produtora Michele Kaiowá reforça: “Gravar no território foi um ato de coragem. Ainda enfrentamos medos e violências, mas também mostramos ao mundo que nossa juventude resiste. O filme registra a dor, mas também a esperança de existir sendo quem somos”.

No set, a cena mais marcante para Gualoy foi a entrega de um colar por Tybyra: “Ali eu lembrei da minha avó, do caminho do meu avô, da reza que me sustenta. Essa atuação virou liberdade espiritual. Esse filme é espelho para que jovens indígenas LGBTQIAPN+ vejam que não estão sozinhos”.

Agora, Hendy’a Rapykwere segue para a montagem e deve circular por festivais, mostras e universidades.

O projeto tem investimento da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Ministério da Cultura (MinC), via edital da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).