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Artes

Lenda de benzedeira que sumiu vira inspiração de revista em quadrinhos

Ao voltar nos velhos tempos da Bruxa da Sapolândia, ilustrador se inspira e elabora história em quadrinhos

Raul Delvizio | 25/04/2021 07:08
Mistério continua: Bruxa da Sapolândia volta a tona em nova versão ilustrada (Ilustração: Acir Alves)
Mistério continua: Bruxa da Sapolândia volta a tona em nova versão ilustrada (Ilustração: Acir Alves)

A conhecida história de uma mulher lá no bairro Taquarussu (antiga Vila Afonso Pena) que de tanto assombro na infância e imaginário de muitos campo-grandense acabou virando lenda aterrorizante, volta em 2021 na versão de uma revista em quadrinhos que nada assusta, mas inspira.

De forma lúdica, é a própria Bruxa da Sapolândia que desta vez vai contando fatos que marcaram o final da década de 60 e início dos anos 70 – justamente o período em que foi criado o mistério em torno da sua figura –, entre acontecimentos históricos e curiosidades que aguçam os leitores de todas as idades.

Revista em quadrinhos faz uma homenagem à mulher que desapareceu do mapa do dia pra noite (Foto: Arquivo Pessoal)
Revista em quadrinhos faz uma homenagem à mulher que desapareceu do mapa do dia pra noite (Foto: Arquivo Pessoal)

Para quem não se lembra – ou não era nem nascido à época –, Célia de Souza era uma mulher rude que ganhava a vida como cuidadora de crianças, filhas de garimpeiros de ouro que se dirigiam ao interior do Mato Grosso uno. Mudou-se de Rio Negro para Campo Grande em meados de 1950 mas, 19 anos depois, foi presa de imediato em sua residência simples pela morte de duas crianças, encontradas enterradas em uma cova rasa nos fundos da casa. Cobertura da mídia foi completa no caso de morte por espancamento, fome, maus-tratos e até rituais de "saravá". Considerada macumbeira, Célia acabou ganhando o apelido de bruxa, e o "sapolândia" veio do mato e brejo que ela vivia sobre.

Somente em julho de 1971, após anos de cadeia, ela ganha a liberdade pela falta de provas acusatórias e por uma defesa "sem igual". Sem mais nem menos, desaparece da cidade, ficando apenas esse mistério "enterrado" nos campo-grandenses. Agora, volta a tona por meio de uma história de quadrinhos em sua homenagem.

Acir Alves é o desenhista e ilustrador que preparou à mão a obra (Foto: Arquivo Pessoal)
Acir Alves é o desenhista e ilustrador que preparou à mão a obra (Foto: Arquivo Pessoal)

Autor da revista, o desenhista e ilustrador Acir Alves decidiu dar traços à história justamente por ter vivido esse tempo. "Se trata de uma lenda rica em conteúdo que eu tive a sorte de viver em parte da minha infância ali na região do bairro Jockey Club", conta.

"Era uma época muito gostosa, onde as brincadeiras nos levavam a ficar horas na rua, onde meninos e meninas ficavam misturados e não havia malícia no ar. Talvez, foram os brinquedos artesanais e as muitas maneiras de brincar que me marcaram. Sem esquecer, é claro, do terror que a história da bruxa causava em todo mundo", recorda.

A revista em quadrinhos "Bruxa da Sapolândia" é focada nos acontecimentos amplamente divulgados pela imprensa na época. Do projeto, Acir explica que o diferencial foi produzir à mão, com o preto e branco do pincel e nankin ao invés de cair direto nos desenhos digitais.

Registro do autor desenhando os traços de um urubu, ave que marca a obra (Foto: Arquivo Pessoal)
Registro do autor desenhando os traços de um urubu, ave que marca a obra (Foto: Arquivo Pessoal)
Desenho completo da ave; desenho à mão e em preto e branco contribuem para o "ar" aterrorizante (Ilustração: Acir Alves)
Desenho completo da ave; desenho à mão e em preto e branco contribuem para o "ar" aterrorizante (Ilustração: Acir Alves)

"Creio que a concepção final teve esse resultado sombrio que o enredo exigia. Ainda, dos traços criados e das cenas desenhadas, fiz um vídeo com produção de baixo custo que não chega a ser 100% animação – até por uma questão do cronograma – mas é um caminho mais simples para isso e que já conta com uma boa aceitação, uma forma de divulgação no virtual", esclarece.

Além da revista em quadrinho de Acir, o "pesadelo de infância" da Bruxa da Sapolândia que apavorou Campo Grande também já virou romance em 2016.

A edição do HQ de agora é resultado de projeto literário contemplado pela Lei Aldir Blanc e promovida pela Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo). No total, foram produzidos 500 exemplares com 28 páginas para que a Semed (Secretaria Municipal de Educação) distribua nas bibliotecas das escolas públicas. Ainda, um link on-line disponibiliza a revista em quadrinhos para quem quiser conferir.

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