ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 27º

Artes

Prestes a ir a leilão, Cine Anache nunca foi esquecido pela família

Nessa quarta-feira (13) a justiça determinou que todo prédio histórico seja leiloado por conta do "risco que causa à população"

Lucas Mamédio | 15/05/2020 06:52
Família Anache reunida no lançamento do projeto do Cine Anache e Edifício Zahran Anache. Armandinho é o garoto no colo da mãe (Foto: Blog do Armandinho)
Família Anache reunida no lançamento do projeto do Cine Anache e Edifício Zahran Anache. Armandinho é o garoto no colo da mãe (Foto: Blog do Armandinho)

O dia 13 de novembro de 1964 foi um dia especial para a família Anache. Armando, Fause, Laurita, João, Mansour, e Salim Chelaze, todos muito felizes com a inauguração do Cine Anache, no Edifício Farjalla Anache, na "gloriosa" Rua De Lamare 1.207, em Corumbá. Ali se iniciava a história do mais importante cinema da Cidade Branca e um dos mais importantes do Centro-Oeste brasileiro.

Armando de Amorim Anache, o Armandinho, jornalista de carreira extensa e que hoje vive em Aquidauana, era uma criança e estava presente naquele dia feliz junto da família e vários convidados importantes. Seu pai, Armando Anache, ainda vivo com 89 anos, era um dos principais responsáveis pelo empreendimento.

Jonal anunciando a "brilhante inauguração" do Cine Anache (Foto: Blog do Armandinho)
Jonal anunciando a "brilhante inauguração" do Cine Anache (Foto: Blog do Armandinho)

“Lembro que bispo diocesano de Corumbá, Dom Ladislau Paz, rezou uma missa na inauguração, muita gente discursou, felizes daquilo que Corumbá conquistava”.

O Cine Anache já começou gigante; possuía 924 poltronas, som estéreo e ar-condicionado, inovações à época. “Eram várias sessões por dia, todas com muita gente, as matinais de domingo, ficava gente em pé”.

Tendo como período áureo da década de 60, quando foi inaugurado, até o começo dos anos 90, Armandinho lembra da loucura que era Semana Santa. “As filas começavam cedo e davam a volta no quarteirão, as pessoas esperavam horas para verem filmes alusivos ao período”.

O Cine Anache ficou conhecido por colocar em cartaz lançamentos, tinham parceria com as principais distribuidoras do país. “Passava filme de tudo, de criança até pornô chanchada”, lembra Armandinho.

Tendo vivido longos anos de glória, já passando por algumas dificuldades para atrair público, o Cine Anache passou por uma grande reforma em 1999 com direito a show do grupo MPB4 na reinauguração.

Armando Anache, o pai, discursando na inauguração (Foto: Blog do Armandinho)
Armando Anache, o pai, discursando na inauguração (Foto: Blog do Armandinho)

A principal mudança no local foi sugerida por Armandinho. “Como vivi muito anos em São Paulo, sugeri que fosse feita uma adaptação para o espaço receber peças de teatro também, assim conseguiríamos atrair um outro público, e assim foi feito”.

Após a reforma, o tradicional cinema aguentou pouco e deu seu último suspiro em 2002. Desde então, tanto o cinema quando os 12 andares do edifício ficaram fechados até a interdição judicial em 2011.

Nessa quarta-feira (13) toda a família Anache recebeu um duro golpe.  A justiça determinou que todo prédio seja leiloado. Segundo a decisão, o “imóvel está abandonado há anos e representa riscos à sociedade corumbaense”.

“É difícil ouvir que o Cine Anache está abandonado, nós nunca o abandonamos. Ele foi fechado porque ninguém mais frequentava. Do que adianta ter uma padaria se ninguém mais compra pão, a conta não fecha. Aos que hoje criticam que abandonamos, por que não fizeram nada pra ajudar com tínhamos dificuldade?”, questiona Armandinho.

Missa celebrada pelo bispo diocesano de Corumbá, dom Ladislau Paz (Foto: Blog do Armandinho)
Missa celebrada pelo bispo diocesano de Corumbá, dom Ladislau Paz (Foto: Blog do Armandinho)

Armandinho ainda se queixa dos comentários que houve da própria população de Corumbá. “Hoje nem acesso mais rede social direito, mas já houvi alguns jovens falando que tem que demolir todo o prédio. Eles falam isso porque não sabem a que custo meu pai e meus tios mantiveram aquilo de pé, o quanto de suor e dinheiro foi gasto”.

O Lado B teve acesso a uma série de fotos do dia da inauguração que foram diviulgadas pelo site de Armandinho, o Pantanal News, por isso a marca d'água nas fotografias.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.

Nos siga no Google Notícias