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Artes

Sexo para quem envelheceu é liberdade que nem jovem consegue aceitar

Quebra de tabus sobre sexualidade da mulher foi debatido após apresentação do filme Aquarius no MIS

Danielle Valentim | 18/04/2019 08:21
Sônia Braga posa para fotos durante Festival de Filmes em Canes. (May 17, 2016 - Source: AFP)
Sônia Braga posa para fotos durante Festival de Filmes em Canes. (May 17, 2016 - Source: AFP)

Sexualidade feminina na terceira idade é tabu dos grandes. Mas exibição do filme Aquarius (2016), nesta quarta-feira (17) levantou a questão a partir da história da mulher com tesão à flor da pele, aos 65 anos. O debate é sempre encorajador e de incentivo a mulheres em construção.

O filme fala de Clara (Sônia Braga), uma jornalista que enfrenta o câncer, perde uma das mamas, se torna avó, viúva, diverge com a família, luta pela própria casa e tem desejos sexuais. Do cinema para a vida real, o fato é que em certa idade ninguém mais aceita a sexualidade aflorada.

A exibiçãoacabou perto de 21h30, com a plateia na faixa etária abaixo dos 30 anos. Mas apesar de ainda longe de envelhecer, a lição que ficou foi de que a liberdade, em todos os sentidos, só chegam nesta idade.

Trio de amigas está decidido a se espelhar na coragem da personagem. (Foto: Danielle Valentim)
Trio de amigas está decidido a se espelhar na coragem da personagem. (Foto: Danielle Valentim)

“Eu comecei a ver com outros olhos, eu não parava para pensar, que na verdade é uma pessoa adulta normal. Não tem nada demais em uma mulher nessa idade transar”, pondera Amanda De Marchi, de 28 anos.

A exibição ocorreu no MIS (Museu da Imagem e do Som), em parceria com o Cineclube Árvore-ser, projeto independente de estudantes universitários, que surgiu em 2016 com o objetivo de provocar o debate sobre temas ligados à filosofia e educação, a partir do cinema.

“Ela (personagem Clara) é super sexy, toda artista e ela entende a sexualidade como uma coisa aberta. Junto ao assunto da casa, é a época que ela também alcançou a liberdade para curtir seu espaço, mas querem tirar isso dela. Tudo isso conta de um progresso da engenharia civil, bloqueiam essa parte emocional que ela sente muito, que o jovem”, disse Keyty Silva, também de 28 anos.

“A gente tem aquele imagem da vovó imaculada. Mas tem muita vida sexual ativa na terceira idade. No filme, ela não consegue se relacionar por várias questões, inclusive, pela mama mutilada e ela acaba contratando um garoto de programa e, mesmo assim, não consegue lidar com isso. No filme mostra o incômodo dela e fica uma incógnita se ela conseguiu ou não sentir prazer com essa relação”, pontua Damares Costa, de 26 anos.

Há mudança – A questão cultural da vovó imaculada está mudando, mas falta humanidade. Assim como a personagem do filme, a conclusão que se chega é que a sociedade não consegue enxergar o poder e sexualidade nas mulheres depois dos 60 anos. Muitos pregam que a fase é a final.

Para Marianny Nates, de 20 anos, o filme trata da relação dela corpo e começa o principal tabu dela de trazer de volta a vida sexual.

“Há um trecho do filme que ela questiona um personagem sobre o fato de que não interessa o curso que ele tenha feito, ele não havia aprendido a humanizar as pessoas. A posição da mulher em relação a sexualidade é essa. As pessoas desumanizam a mulher independente da idade, mas, principalmente, quando você é uma pessoa mais velha. Nós aprendemos a respeitar as pessoas mais velhas, mas ninguém ensina a enxergá-las como pessoa que seguem a vida normalmente”, pontua.

“E na verdade, ela (Clara) está aproveitando a vida agora. No filme aparece bem o fato dela se lançar na noite, se propor. E para nós mulheres, eu vejo como possibilidade de no futuro poder ser como ela”, frisa Keyty.

“Eles (personagens) não acreditavam que a sexualidade dela importava, mas ela estava aproveitando a vida dela. Também achei muito corajoso o fato de ela ter contratado um garoto de programa”, completa Iasmin Teruya, de 21 anos.

Integrantes do Cineclube. Da esquerda para diretia,
Damares, Alysson, Douglas e Marianny.(Foto: Danielle Valentim)
Integrantes do Cineclube. Da esquerda para diretia, Damares, Alysson, Douglas e Marianny.(Foto: Danielle Valentim)

Pelo olhar masculino do acadêmico de Filosofia Ályson Ladislau, criador do Cineclube Árvore-ser, o ápice da liberdade é retratado em uma roda de conversa entre amigas. O momento é de um bate papo divertido em todos os tipos de assuntos rolam, inclusive de cunho sexual. A diferença é que em nenhum momento, os homens são colocados como único objetivo.

“Mostra muito a liberdade, apesar dessa dificuldade de se relacionar, mostra a visão da sociedade - até poucos anos – de não permitir que uma mulher, uma idosa, sinta tesão ou vontade de se relacionar amorosa ou sexualmente com outro homem. O filme mostra uma saída para os tabus” pontua Ályson.

Para o estudante de Arquitetura Douglas Fedorowicz, que também integra o Cineclube, mais que o empoderamento feminino, o filme retrata a realidade nua e crua de uma mulher nessa idade.

“Desde a mama mutilada à viuvez. A sexualidade para ela naquele momento fica como desejo, mas também não fica em segundo plano. Um momento que acho que ela se realiza é quando ela se arruma e vai bater de frente com um dos donos da empreiteira. Ela mostra que tem suas responsabilidades, que almeja muito mais e que a terceira idade não será um empecilho”, frisa Douglas Fedorowicz.

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