A simbologia do ‘banho’ de São João nas águas (milagrosas) do Rio Paraguai
Hoje é o grande dia da festa em Corumbá: descida dos andores e show de Michel Teló

Véspera de São João, esta segunda-feira é o dia mais esperado na mais tradicional festa junina do Estado com a descida dos andores até o Rio Paraguai para banhar a imagem do santo. Como nos anos anteriores, clima propício para um quentão: temperatura baixando de 23 para 18 graus às 10h, neblinando e vento, com previsão de chegar aos 15 graus no início da noite, quando começa a manifestação na Ladeira Cunha e Cruz.
RESUMO
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Em Corumbá, a tradicional festa de São João, considerada patrimônio cultural imaterial, celebra-se com o "banho" do santo no Rio Paraguai. A crença popular atribui poderes milagrosos às águas do rio neste dia, marcando um novo ciclo na natureza e abundância no Pantanal. A festa, que começou no século XIX, reúne milhares de pessoas, entre moradores e turistas, em um evento que mistura elementos religiosos e culturais. A celebração inclui procissões com andores decorados, missas, novenas e rituais de diferentes religiões, como catolicismo, umbanda e candomblé. As casas dos festeiros, locais de preparação para a festa, são enfeitadas com fogueiras, quadrilhas e comidas típicas. Além da parte religiosa, a festa conta com shows musicais, como a apresentação do cantor Michel Teló, e uma praça de alimentação com comidas regionais.
Corumbá envolvida com sua tradição, iniciada no final do século XIX pela população proletária, de origem não definida. Muitos turistas – estima-se mais de dois mil visitantes – de algumas cidades do Estado e da Bolívia. Comércio movimentado em um dia de ponto facultativo (amanhã é feriado, por decreto municipal) e o porto geral colorido de bandeirolas vermelhas e brancas (cores que simbolizam a presença do santo) recebendo milhares de pessoas.
Não há fogueiras na orla, não fazem parte do ritual do “banho”. Os elementos que compõem o clima junino são restritos às casas dos festeiros (são 87 cadastrados), de onde saem os cortejos pelas ruas em direção ao rio. Nessas casas de reza ou terreiros tudo é preparado na pureza da fé, crença, alegria e superstição, com ornamentação, fogueira, quadrilhas, mastro com a imagem do santo e muita comida típica. Depois do “batismo”, baile!”
Águas milagrosas - Antecedendo a manifestação do banho, que mantém a tradição, seja por promessas feitas, graças alcançadas ou costumes familiares, católicos, umbandistas, candomblecistas e kardecistas realizam novenas, missas, rezas e giras para agradecer e pedir bênçãos e proteção. O sincretismo e a descida dos andores, entre ladainhas, cântico do hino e alegria exteriorizada em ritmos de frevo, tornam a festa singular - no passado, considerada profana.

Se São João soubesse
Que hoje era o seu dia
Descia do céu à terra
Com prazer e alegria
As manifestações culturais de Corumbá são tão ricas como a sua natureza, apontam os pesquisadores do folclore pantaneiro em dossiês que embasaram o tombamento nacional do evento como Patrimônio Cultural e Imaterial pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em 2021. E dizem mais: a celebração do encontro tem um aspecto de diversidade e aporta elementos importantes para a memória e identidade local.
A relação com as águas também a torna única, na medida em que, segundo a crença, o Rio Paraguai se transforma nesse dia em um poço milagroso. O ritual religioso de devoção e júbilo, creem os pantaneiros, coincide com o ciclo das águas e marca o início de um novo tempo na natureza e abundância no Pantanal – o processo de vazão do rio. Por conta das mudanças climáticas, talvez, o nível do Paraguai deve continuar subindo por algumas semanas...

Andor, um símbolo - Nesse contexto, a presença do andor na procissão ao “banho” é um dos elementos centrais da manifestação (cujos primeiros registram aponta para seu surgimento em 1884 em meio a conflitos com a igreja católica, que chegou a proibir sua realização). O andor é decorado com muito devotamento e criatividade e tem concurso da prefeitura para escolha dos mais incrementados, com premiação aos festeiros em concorrida disputa.
As procissões não tem um ordenamento. Geralmente, a descida dos andores, carregados nos ombros dos fiéis, começa no início da noite de 23 e seguem até a madrugada do dia 24. Eles se cumprimentam no encontro na ladeira e voltam para as casas dos festeiros, onde a festa não tem hora para acabar. Oficialmente, o andor da prefeitura abre o ritual, acompanhado dos cururueiros (tocadores de viola de cocho), os quais fazem parte da celebração.
Organizada pela prefeitura (mas protagonizada pela população), a festança foi incrementada nas últimas décadas por shows musicais, cujos gêneros nem sempre tem a ver com o clima junino. Hoje, por exemplo, a atração no palco armado no porto é o cantor Michel Teló, que se apresentará, na realidade, na primeira hora de terça-feira. A população e os turistas encontram no espaço farta e deliciosa comida pantaneira, na praça de alimentação.