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Comportamento

Amigas de Campo Grande escaparam por pouco de van que matou 7 em atentado

Ângela Kempfer | 07/06/2017 10:15
As amigas Mariana, Lívia e Rita durante passeio em Londres: "fomos salvas pela 'escada de Deus". (Foto: Arquivo Pessoal)
As amigas Mariana, Lívia e Rita durante passeio em Londres: "fomos salvas pela 'escada de Deus". (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde fevereiro, a psicóloga Rita Hildebrand Almeida vivia o sonho de aproveitar o que um lugar como Londres pode oferecer. Mas no último sábado, ao lado das amigas Lívia Nantes e Marianne Herrero, o programa em um dos principais pontos turísticos ingleses virou lembrança trágica.

Rita e Lívia são campo-grandenses e escaparam por pouco de mais um ataque terrorista que atingiu a cidade na noite do dia 3, matou 7 e deixou 48 pessoas feridas.

As amigas estavam na ponte de Londres quando testemunharam uma van desgovernada invadir o lugar e matar. Não foram atingidas porque agiram instintivamente fugindo para o lado oposto. “A gente achou que [a van] ia explodir. Fomos salvas pela 'escada de Deus', porque não tinha para onde ir tão rápido", disse Lívia ao jornal Folha de São Paulo.

A campo-grandense Rita Hildebrand Almeida em Hampstead, Londres: "Num lapso de puro instinto de sobrevivência".
A campo-grandense Rita Hildebrand Almeida em Hampstead, Londres: "Num lapso de puro instinto de sobrevivência".

Depois da entrevista, a psicóloga justificou ao Lado B que não quer mais falar sobre o assunto. Mas postou um pouco do que sentiu nas redes sociais.

“Para nós, brasileiros, homens bomba explodindo lugares e carros desgovernados atropelando pessoas são vistos nos filmes, nos jornais, na conversa de bar com os amigos, ou na lembrança do conhecido que, talvez, ainda esteja morando na Europa. Eu também sempre me vi nessa mesma cena, pensando ser uma situação muito distante de mim”.

Sobre o momento do ataque, ela diz que não conseguiu pensar antes de reagir. “Num lapso de puro instinto de sobrevivência, subimos uma escada e saímos de sua direção. Por questão de segundos, a van bateu ao nosso lado. Eu e minha amiga Livia, juntas renascemos ali”.

Para sair do caminho do terrorista, Rita e as amigas entraram em um pub. “Ainda havia a chance de uma explosão, quando no segundo lapso, corremos na direção oposta, encontramos nossa outra amiga Marianne no caminho, e entramos num pub logo em seguida. Mas ainda tinha mais. Uma hora debaixo da mesa, sem saber ao certo o que viria: uma explosão, um tiroteio, sairíamos vivas dali?”

O medo começou a ser controlado com a chegada da polícia, que pedia para que todos saíssem rápido dali. “Atravessamos a London Bridge, passando ao lado das vítimas daquele dia, deitadas no asfalto, algumas desfalecidas, algumas recebendo massagem cardíaca”, escreve Rita.

Lívia estava na cidade pela primeira vez e foi recebida com terror. “A polícia apareceu gritando para sair rápido e correr para a ponte no sentido oposto ao da van. A gente viu os corpos. Umas 20 pessoas caídas, e os próprios policiais de preto tentando reanimá-las", completou.

Para as amigas, as imagens novamente eram dos filmes. “A cidade estava parada: os metrôs fechados, os táxis não chegavam perto daquela região. Mais e mais pessoas se aglomeravam nas ruas, sem saberem como voltar para casa, afinal era um sábado de um dia de sol e calor, todos estavam na rua vivendo as suas vidas. Assim como nós. Assim como aquelas vítimas no asfalto”, diz Rita.

Ela lembra que as notícias logo se espalharam e chegaram à família em Campo Grande, mexendo com os sentimentos de todo mundo.

No sonho de viver em uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, as lições às vezes são amargas, comenta. “Penso na intolerância. Na ignorância. No dia seguinte ao atentado, eu me peguei sentando afastada de uma muçulmana no ônibus. E me senti triste por isso, pois fui pega pela intolerância, pois a julguei assim como aqueles que quiseram a minha vida. Pensemos na intolerância... Está em Londres, está em Campo Grande, dentro da nossa casa. Até aonde vamos com ela?”, conclui.

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